Revelações

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—e então? Qual é a sua estória triste?

A curiosidade de Cameron me deixa as vezes fascinada, ele sempre quer saber mais e mais sobre mim, mas quando se trata dele tudo o que encontro são respostas evasivas, ele muda de assunto, ele é um poço de mistério, mas não ligo.

Estamos vendo "Uma Linda Mulher", pedi uma pizza e coloquei o refrigerante em copos, a pouco a pizza chegou e estamos no sofá comendo e vendo o filme que já está na metade, não sou o melhor exemplo de modernidade, amo clássicos, não tem jeito, Cameron até agora me fez perguntas sobre o trabalho e Brenda, algumas respondi, outras desviei o assunto, não posso sair por ai contando a vida de todo mundo pra ele, nem a minha.

—não tenho nenhuma estória pra contar.

—você é mal amada demais pra não ter uma estória triste Faith.

—o gato morreu curioso.

Ele sorri, morde a pizza, ele parece ser tão educado pra comer, diferente de mim que não tenho o menor jeito, não faço muita cerimônia, tento não cometer extravagâncias mas é complicado, ser gorda pra mim é um fardo bem pesado em todos os sentidos.

Acho que vou comer só dois pedaços, é muito calórico.

—isso significa que você me acha um gato Faith?

Reviro os olhos, hoje ele veio todo soltinho, não ligo muito, claro que ele é lindo mas ele não precisa saber que eu penso isso ao seu respeito, não mesmo.

—brincadeiras a parte eu estou um pouco empolgado.

—bom.

Vou fingir que não tenho interesse, assim ele não fica com medo de falar de sua vida certo? Se bem, que grande mistério poderia rondar um jovem rapaz como ele?

—tenho um trabalho legal pra fazer na Itália.

—bom.

—tinha pensado—Cameron bebe um pouco de seu refrigerante—tipo se você não gostaria de viajar comigo, caso saia do jornal mesmo, vou pra Itália em duas semanas.

Sorrio e nego com a cabeça, que ideia mais absurda!

—e o que eu faria na Itália?

—Pode vir comigo pra... passear.

—passear—repito nem sei por que surpresa—por que eu iria pra Itália com um garoto que tem idade pra ser meu sobrinho?

—Faith, poderia parar com essas insinuações? Estou ficando incomodado, se você quiser a minha amizade vai ter que me aceitar assim, eu acho que sou mais novo que você uns dois anos.

—tenho 28 já.

—bem, só três anos.

Ainda não acredito, mas sei que se eu insistir ele ficará bravo.

—é que eu pareço mais novo mesmo porém eu não sou tão jovem.

—entendo.

Estou constrangida mesmo assim, Cameron sorri e nega com a cabeça.

—não acredita não é mesmo?

—bem, não sei o que pensar, você é muito fechado.

—aprendi a ser assim com algumas situações na minha vida—ele está mais fechado agora—já sofri muito.

—bom—digo e encolho os ombros—eu também já sofri muito na vida.

—aprender e superar!

Bem maduro pra um adolescente rebelde de toca e all star.

—é.

—você não sentiu a minha falta Faith?

—você quer saber pra alimentar o seu ego?

Cameron sorri mas agora um pouco triste.

—pra sentir que alguém se importa comigo, eu não tenho família.

Não estou gostando dessa pessoalidade pois é muito triste.

Talvez seja por isso que ele não se abre com as pessoas, por que é só e acha que se aproximar das pessoas talvez o machuque ou coisa assim, a adolescência é uma fase bem difícil, eu bem sei disso.

—bem, talvez.

—já é um começo.

—é, pra uma vizinha que gosta de ficar olhando pra geladeira e tal.

Mordo minha fatia de pizza, Cameron está sorrindo, as vezes quando ele sorri os olhos dele se estreitam de forma tão única, poucas pessoas conseguem sorrir assim, ao menos as que me lembro.

—você não tem medo da solidão Faith?

—é melhor estar só as vezes sabe?

—eu sou só desde que nasci.

Coitado.

—é por isso que eu não sou de ter amigos, descobri que a minha avó havia morrido e vim pra cuidar do apartamento dela, me apegar a algumas coisas dela mas não consigo, ela me mandou pra um internato quando eu era pequeno, na Inglaterra.

—sério?—incrédula bebo um pouco de refrigerante.

—sim, eu a visitava muito quando pequeno, mas depois eu fui crescendo e percebi que ela meio que me culpava pela morte da minha mãe, quando eu soube que ela morreu me senti meio estranho sabe.

—imagino, nunca pensei que a senhora Roberts fosse montada na grana.

—ela não era, ela gastou a minha poupança pra arcar com os colégios onde eu estive e a faculdade.

—ah.

Cameron se ergue e retira do bolso um celular, um par de fones e uma carteira, depois ele a vasculha e rapidamente retira de lá uma habilitação, me estende.

—pra você não ficar fazendo essa cara de "não acredito" sempre que me referir a minha idade.

Pego a carteira e verifico, a foto está imaculada, tem um jovem sério de olhos castanhos chamativos e grandes nela, logo embaixo o nome completo dele, Cameron Roberts Morgan, este é o nome dele, e logo ao lado tem a data de nascimento 13 de Julho de 1992. Mordo a pizza novamente, Cameron pega a habilitação da minha mão, mastigo a força ainda sem acreditar no que acabei de ler em seu documento.

—sou formado em letras, me formei a três anos.

—legal.

—e você?

—também sou formada em letras.

E isso é uma grande coincidência.

—não exerço, eu fiz a minha especialização em línguas, ajuda muito na minha profissão.

A cada revelação vou ficando mais e mais completamente surpresa.

—mesmo?—tento soar desinteressada a todo momento—e qual é a sua profissão?

—eu sou modelo.




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