Dois - FUGITIVA

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Rainbow era um nome muito esquisito e todos sabiam disso. Rainbow, a menina era caçoada no jardim de infância e isso a levou seguidas vezes para a coordenação, não por chorar no seu canto, mas por sempre voar em cima de quem tinha falado. Por isso, aos doze anos, adotou o apelido de Rai. A espanhola pouco sabia das coisas importantes, segundo seus pais. Tinha uma imaginação como quase ninguém e seus dedos transformavam qualquer simples frase na coisa mais deliciosa do mundo de ser lida.

Rai costumava dizer que tinha criado seu próprio mundo, aquele onde ela podia se livrar das coisas ruins e filtrar toda aquela bolha negativa e espessa que sempre estava tentando ferrar com as coisas boas – geralmente essa negatividade era trazida por pessoas, mas a vida continuaria assim mesmo.

Sempre fazia o máximo para enxergar coisas boas em tudo, situações ou pessoas. Tinha achado que o fim da galáxia estava lá quando ela teve de se mudar ainda criança para Londres, era uma realidade totalmente diferente e isso foi um choque e tanto.

Mas depois tudo ficou bem.

Até o dia que seus pais, empresários importantes – e agora, falidos – disseram que eles iriam se mudar. Não de Londres para York ou Liverpool, mas de volta para Madrid. Isso mesmo, na Espanha. Seu mundo perfeito estava a ponto de desabar e o empurrão final para a queda só foi finalizado quando ela recebeu a melhor notícia de todas: ela iria se casar.

Com um cara que nunca tinha visto na vida, mas aparentemente, para sua família, o fato do sobrenome dele carregar um peso enorme e ter tantos zeros em sua conta bancária faria ele o homem ideal. Não foi um casamento arranjado, muito pelo contrário, com a mudança da mulher para a capital espanhola, o homem fez questão de conhecê-la por completo. Eles saíam para jantar, conversavam sobre tudo e todos, trocavam confidências e tentavam aceitar que o destino dos dois seria aquele. Mas Rainbow, assim como Diego, não estava se sentindo bem naquele relacionamento.

O pedido fora feito e por pressão de ambas famílias, ela aceitara.

E naquela semana, com um mês faltando para o tão esperado – pela família e não por ela – casamento, Rainbow tentava contestar a mãe.

Mummy, por que eu tenho que me impor às suas vontades?

– Porque é como as coisas funcionam, querida. – Amélia sorriu para a filha – Além do mais, você tem vinte e um anos, com sua idade eu já tinha seu irmão e dois anos de casada. Já está na hora de sossegar, casar e ter filhos... Como toda boa mulher, você tem que saber se portar, querida, não pode deixar esse seu gênio forte afetar na relação que Diego e você tem.

Olha as coisas que você fala! – Rainbow quase gritou com a mãe. – Eu não quero ter filhos e não tenho o mínimo jeito com crianças, você sabe disso. CASAR? Eu aceitei isso porque você e papai encheram meu saco e precisam desse dinheiro. Você sabe quão machista isso soa? Que você está submetendo sua única filha mulher a sociedade patriarcal por que vocês dois estão interessados em dinheiro? Isso é prostituição, mum. Vocês estão me vendendo para garantir a aposentadoria e as viagens para a Tailândia.

Rainbow, eu sou sua mãe – a mulher aumentou seu tom de voz. – Olhe como você fala comigo, ou...

– Ou o que? Você vai me colocar de castigo? – Rai riu, os olhos cheios de lágrimas e a raiva tão forte que não sabia como reagir. – Você já me condenou a um castigo eterno.

Sem ouvir as palavras finais da mãe, Rai saiu de casa. Pegou o carro do pai na garagem, apertou em qualquer localização do GPS e seguiu como se fosse uma religião. O Santiago Bernabéu se fez presente em sua frente e um sorriso mínimo apareceu em seus lábios. Não que ela entendesse algo de futebol, não entendia, mas sabia que estádios eram construções bonitas e muito bem feitas. Seu telefone começou a tocar e o nome de seu irmão mais velho se fez presente na tela.

Quinta Edição - Conto de FadasOnde histórias criam vida. Descubra agora