Onze - How far I'll go

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Conto escrito para a minha querida amiga secreta @giobandeira. Espero que você goste de lê-lo tanto quanto eu gostei de escrevê-lo. <3

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Eu aprendi da pior maneira que ninguém pode me dizer que sou incapaz de fazer qualquer coisa.

De qualquer forma, não preciso mais pensar nisso. É tão tarde se arrepender. O esforço simplesmente não vale.

Meu sorriso é caloroso quando piso pela primeira vez em solo espanhol. Há 8 anos eu consideraria este um sonho improvável, quase impossível. Mas hoje não. Hoje eu posso ser quem eu quiser.

Assim que irrompo na área de desembarque do Aeroporto de Madrid-Barajas Adolfo Suárez, inúmeras pessoas seguram plaquinhas esperando por alguém. Não sei se é meu sorriso tenho-32-dentes ou minha mala rosa fúcsia, mas as pessoas definitivamente me encaram. Resolvo simplesmente ignorar enquanto desvio de desconhecidos até chegar ao ponto de táxi. Uma fila de pessoas aguarda na minha frente e eu me junto a elas, satisfeita por estar ali.

Nunca faltou gente para me julgar, seja o modo como escolhi viver ou simplesmente minha aparência. Quando eu decidi, aos 16 anos, que cursaria Letras na faculdade e optaria por me especializar em espanhol, as pessoas me encararam como se eu fosse maluca. E incapaz de fazer qualquer outro curso que elas consideravam superior.

Na verdade, se só as pessoas tivessem me julgado acho que eu teria superado e seguido em frente. O apoio que tanto precisei e não recebi foi do meu pai. Ele não se importava com o fato da filha ter passado numa universidade federal para cursar Letras, mas sim com o fato dela não ter sido boa o suficiente para cursar Medicina.

Então, eu juntei minhas economias e fui morar no alojamento da faculdade, situada numa cidade litorânea no nordeste do país. Eu não fiz isso porque queria ser a filha rebelde e independente, que iria fugir de todos só por ser egoísta e querer ficar isolada. Eu fiz porque precisava validar minha liberdade de escolher o que queria sem que ninguém me julgasse e fizesse eu me sentir culpada por isso. Não me arrependo. E sou sincera o suficiente para admitir que não foi fácil.

Isso foi há 8 anos atrás. Hoje eu tenho 24 anos, um mestrado em Literatura e Crítica Literária e o emprego como professora que eu sempre quis na Universidad Antonio de Nebrija. Quase consigo sentir uma leve pressão. Quase.

Assim que é minha vez na fila e o táxi chega, solto um suspiro de alívio. Deposito as malas na traseira do carro com a ajuda do taxista, entro e fecho a porta. No momento em que o taxista vira a chave na ignição, a porta ao meu lado se abre abruptamente.

E é nesse instante que eu dou de cara com dois homens usando terno e uma mulher com vestido de noiva. Ela senta na frente, ao lado do motorista, e os dois homens ocupam-se ao meu lado. Arregalo os olhos e inclino a cabeça, completamente perdida.

Perdón, señorita, mas este é um caso de extrema importância – o cara mais alto diz ao me encarar, exalando confiança. Seus olhos são castanhos e o cabelo, no mesmo tom, está perfeitamente alinhado, como se um fio fora do lugar fosse algum tipo de pecado mortal.

Ele fala um endereço para o taxista, que me encara pelo retrovisor com um semblante de dúvida, num pedido de permissão. Eu simplesmente dou de ombros e ele obedece o cara.

– Meus amigos aqui – o desconhecido ao meu lado aponta para o outro homem e a mulher, que sorriem envergonhados para mim – acabaram de casar. E deviam ter ido para outro terminal pegar um avião particular, mas por algum motivo desconhecido o motorista os trouxe até esse aeroporto. Eles estão atrasados. Seu táxi é nossa única saída.

Quinta Edição - Conto de FadasOnde histórias criam vida. Descubra agora