Dezesseis - Amor Impossível

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Nota: Hey! Sei que dessa vez demorei para publicar, mas digamos que tive alguns problemas com meu pragmatismo... But, Thati, espero que você goste da história (foi mal se te fiz aguardar 84 anos para lê-la)!

Então, tenha uma excelente leitura (e é destino termos nos tirados no sorteio!!)!!




O sol se fazia presente. Quente e ardido. Queimando as peles despreparadas e desprotegidas naquela manhã de verão.

Ela suspirou pesadamente enquanto ajudava o pai a retirar as últimas coisas do que um dia havia sido uma das redes de restaurante mais badaladas e movimentadas da cidade do Rio de Janeiro. Seus olhos passaram mais um vez pelo espaço vazio da sede dos negócios e as lembranças preencheram sua mente bruscamente, mostrando que as lágrimas ainda poderiam ser derramadas após duas noites em claro em meio a tristeza de tal notícia. Tudo ao seu redor parecia sem cor e os olhares dos mais próximos eram carregados de pena e dó, sentimentos cruéis que Thatianna não aceitava.
- Vamos? - Papai chamou com um sorriso fraco nos lábios e lágrimas contidas no canto dos olhos, enquanto estendia a mão direita em minha direção. Olhei novamente para o espaço vazio ao meu redor, engolindo em seco e então segurando em sua mão com força, passando uma falsa sensação de que tudo ficaria bem e de que em breve nós voltaríamos a ter tudo aquilo, mesmo que estivesse longe de acontecer.
- Vamos. - Respondi, deixando com que ele nos guiasse para fora do prédio.
Era hora de começar de novo, do zero.
[...]
Mantive meus passos rápidos e firmes pela Avenida Paulista enquanto seguia caminho até a sede da empresa em que estava trabalhando. Meus pensamentos se perdiam em meio ao movimento caótico das alamedas em volta de uma única avenida e na difícil ação de desviar das pessoas sem tropeçar ou esbarrar em alguém naquele processo, sabendo que aquilo era uma missão quase impossível.
Olhei para baixo assim que parei em um semáforo apenas para chegar se meus saltos ainda estavam apresentáveis antes de erguer minha cabeça e me preparar para atravessar, porém quase fui ao chão quando um cara surgiu ao meu lado, segurando duas embalagens enormes em mãos e se enfiava no meio das pessoas para atravessar mais uma das alamedas.
- Qual o seu problema? - Precisei perguntar quando minha irritação finalmente venceu a paciência.
- Além da cidade? - Ele retrucou e sorriu quando revirei meus olhos, respirando fundo para não perder a compostura.
- Exatamente. - Respondi pacientemente.
Ele arqueou uma de suas sobrancelhas e passou a encarar algo distante, além de nós dois, das ruas e pessoas ao nosso redor. O sorriso surgiu em seus lábios gradativamente, seus olhos voltaram a me observar e então ele deu de ombros, despreocupado com tudo e todos.
- Não tenho nenhum problema. - Garantiu, dando uma piscadela e voltando a andar, atravessando a rua rapidamente assim que percebeu que o semáforo havia sido aberto outra vez para a passagem dos carros.
E mais um babaca seguia seu caminho, ainda bem.
[...]
Fechei meus olhos momentaneamente enquanto sentia a brisa fresca se chocar contra meu rosto e bagunçar os fios de meus cabelos soltos, sem reclamar do calor daquele verão insuportável. São Paulo sabia ser bipolar ao tempo em que o Rio de Janeiro era quente o ano inteiro.
Sorri com a nostalgia proporcionada com a simples lembrança de casa, mas o mesmo morreu lentamente conforme me lembrava dos últimos dois anos e toda a reviravolta que minha havia levado, onde buscar minhas verdadeiras raízes se tornará uma missão quase impossível devido a falta de tempo em minha rotina desorganizada. Não entenda errado quando digo buscar minhas verdadeiras raízes porque não fui adotada, não sou o resultado de uma traição, não sou a semente de uma fertilização em vitro.
O que quero é descobrir quem fui para saber quem sou e ter a oportunidade de mudar meu presente e garantir meu futuro de tal maneira que nunca mais uma falência brusca transforme minha vida em uma montanha russa sem fim visível.
Soltei um suspiro pesado e balanceio minha cabeça levemente para afastar os pensamentos que me assombravam, voltando a me concertar no movimento animado da Praia de Maranduba (Ubatuba - Litoral Norte do Estado de São Paulo).
Deixei com que meus olhos se habituassem com a vista maravilhosa ao meu redor ao mesmo tempo em que meu corpo relaxava com toda a calmaria que exalava da região, observando atenciosamente cada local que faria questão de conhecer mais tarde apenas para guardar em minha memória as melhores lembranças dessas férias tão merecidas.
Estiquei meu corpo sobre a cadeira de praia dobrável e ajeitei o chapéu de palha em minha cabeça, deixando-o de um jeito que não caísse com o vento e me mantivesse protegido de qualquer raio solar que ultrapassasse as copas das árvores enormes de onde eu estava descansando.
Soltei um suspiro pesado assim que meu corpo decidiu mostrar o quão cansado estava, entretanto aquele momento de paz foi interrompido por um grito seguido de alguma coisa me acertando violentamente.
Fiz careta com a dor causada pelo baque antes de finalmente abrir meus olhos e visualizar uma bola de futebol ao meu lado na areia.
- Que por... - Acabei me interrompendo quando um homem vestindo apenas uma bermuda de surfista parou ao meu lado.
- Mulheres não devem usar palavras de baixo calão. - Comentou ele, deixando um sorriso divertido surgir no canto de seus lábios.
- Ah, não? - Retruquei retoricamente, esquecendo a dor por um momento e tendo a mesma substituída pela raiva. - Por que, ó nobre cavalheiro, pensas assim? Sua mente é tão pequena ao achar que, nós mulheres, somos frágeis e sensíveis a ponto de não utilizar palavras de baixo calão? - Questionei sarcasticamente, mantendo um tom tranquilo em minha voz e deixando um sorriso forçado tomar conta dos meus lábios.
Ele riu.
E isso me desconcertou.
- Nada disso. - Respondeu após se recuperar da crise de risos. - Bom, vim pedir desculpas por ter te acertado com a bola. - Acrescentou rapidamente, acabando com qualquer chances de sofrer um interrogatório desnecessário.
- Está desculpado. - Murmurei mau humorada, empinando o nariz e cruzar meus braços abaixo dos seios, vendo-o sorrir. - Nós nos conhecemos de algum lugar? - Perguntei curiosa quando o analisei e notei que seu rosto era familiar.
- Dizem que tenho um rosto comum. - Respondeu despreocupado, dando de ombros.
- E uma mira péssima. - Murmurei.
- Será mesmo? - Seus olhos se estreitaram levemente ao mesmo tempo em que o sarcasmo tomava conta do sorriso em seus lábios gradativamente. - Porque se formos observar a situação, minha mira é ótima. - Comentou, voltando a assumir uma postura mais descontraída e despreocupada.
Não pude conter o sorriso que tomou conta de meus lábios e alcançou meus olhos em segundos. Fazia tempo que não me sentia tão... Bem.

Quinta Edição - Conto de FadasOnde histórias criam vida. Descubra agora