Seis - Hércules

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Parte 1 - Ella Carley

"A escolha é sua, Ella! Seu emprego, ou uma notícia que dê ibope."

Essa é a frase que ronda minha cabeça durante todo o caminho até meu apartamento. A chuva de Berlim parece contribuir para a "bad" daquele dia, enquanto eu acompanho uma música de enterro nos fones do meu ipod.

Eu preciso arrumar uma notícia boa, ou vou ficar desempregada, jogada na sarjeta da rua da amargura.

EU TENHO UMA FILHA PARA ALIMENTAR!!!

Ser jornalista esportiva, não é nada fácil, pior ainda, quando você não é nativa do lugar onde você trabalha.

Natural brasileira, recebi uma proposta para trabalhar para uma emissora na Alemanha, e acabei aceitando depois de tanto meus pais implorarem para que eu ficasse no país.

Mas eu estou vivendo meu sonho: trabalhar com futebol; morar em um país sensacional, e fazer o que eu amo sem depender de ninguém.

Depois de quase dois anos trabalhando na Ger Notícias, recebo minha primeira intimação: "quero uma boa notícia na minha mesa, ou rua". Sei que ele quis dizer isso, mas foi delicado daquele jeito unicamente grosso que só ele tem.

Desço do ônibus no ponto mais próximo do meu apartamento, e busco em um dos meus bolsos o celular que toca incansavelmente.

E eu mal sabia que minha vida estava para mudar a partir daquela ligação.

Parte 2 - Thiago Alcântara

Puto.

Essa é a única palavra que pode me descrever neste exato momento.

"Você deveria ser mais como seu pai!" "Seu pai era melhor." - eles disseram.

Eu já estou farto de tantos torcedores me falando sobre aquilo; não aguento mais a mídia expondo essas frases juntamente com o nome do meu pai.

Tudo bem que meu pai é meu herói. Disso todos sabem e eu não tenho absolutamente nada a esconder. Ele foi um grande jogador de futebol, conhecido como Mazinho. Jogou pela seleção brasileira e grandes clubes como Vasco da Gama e entre outros.

Sempre me espelhei a ele, mas no momento, não consigo lidar com a pressão da mídia em cima de mim.

Meu irmão nem se quer passa por isso, pois está simplesmente brilhando no Barcelona. Todos o comparam positivamente, dizendo que meu irmão teve a quem puxar. Já comigo, a cobrança está sendo dupla, e a comparação com quem meu pai foi, e quem meu irmão é, é inevitável.

Mesmo ainda nervoso, saio do vestiário e decido ir à casa de Manuel. Depois da cirurgia que fez no pé, ficou mais difícil de nos vermos, afinal, o clube nunca para treino, ainda mais agora que estamos chegando na final da DFB-Pokal.

- E como estão os preparativos para quarta? - pergunta meu amigo, colocando pipocas na boca enquanto desvia os olhos do filme.

- Ancelotti está confiante do título. Estamos bem na Bundes, então... - dou de ombros, largando o balde de pipoca.

- E o que te incomoda? - pergunta Neuer no mesmo instante e eu sinto meu sangue gelar. - Porque você não me parece nada bem, cara. Eu te conheço!

- Ah, não é nada - tento disfarçar, mas ele levanta uma das sobrancelhas, e eu suspiro. - Aquele lance de me compararem com meu pai e tal.

- Cara? Esquece isso - ele da um tapinha em minhas costas. - Eles só querem te ver assim, mas vai passar, acredita! Fora que amanhã você tem uma entrevista, huh?

Quinta Edição - Conto de FadasOnde histórias criam vida. Descubra agora