Sem Correção!!!
Cairon,
- Oi! – Não era preciso dizer que ela estava chorando mais uma vez. Eu a conhecia. Conhecia tão bem que poderia até dizer que à noites não dorme. E não se alimenta direito. Com isso devia estar bem mais magra que o normal e com olheiras profundas.
Eu não perguntaria como estão as coisas por lá, porque devem seguir o mesmo percurso pelo qual tenho passado.
Nunca imaginaríamos que depois de tanto tempo estaríamos separados. Mesmo que uma separação provisória. Não estávamos preparados para isso. Mesmo tendo tentado nos preparar... Não estávamos.
- A gente sabia que seria doloroso.
- Está sendo muito pior. – Eu a entendia, mas agora não tínhamos mais como voltar à traz. A não ser que...
- Poderíamos falar sobre aquele assunto...
- Não. Nenhum de nós irá abrir mão de seus sonhos pelo outro. Sonharemos juntos e nunca mais fale aquela palavra.
Aposentadoria.
- Tudo bem! Vamos encontrar outra solução. – Ainda conversamos por um tempo, mesmo que nos falássemos todos os dias destes dois meses que ela estava longe.
Ouvi batidas na porta do Gabinete e foi preciso encerrar nossa ligação.
- Entre!
Algo sério deveria estar acontecendo para que eu recebesse a visita de amigos tão ilustres.
- A que devo a honra? – Estendi a mão e cumprimentei meus amigos, Breno, Walter e Diogo.
Bons tempos quando todos nós residíamos em uma única cidade e trabalhávamos na mesma comarca, mesmo que em prédios diferentes.
O Breno foi o que mais sentiu quando foi transferido. Antes havia sido o Diogo, mas por boa causa. Ele ficaria mais próximo a família, uma vez que os pais estavam em idade avançada e ele filho único.
- Bom meu amigo... – O Walter havia se aposentado. Dizia não conseguir lidar com a hipocrisia que o estava rondando e assim passava a maior parte do tempo em viagens. O que era mais que merecido.
E eu?
Meus pais. Minha esposa... Amigos e toda uma vida. Tinha muito mais à perder do que a ganhar com uma transferência.
Duas comarcas me foram oferecidas na capital e eu não tive como partir. Partir significava muito para mim... Até que ela se foi.
- Temos um assunto sério para tratar com você. – O Breno jogou o jornal sobre a mesa. – Tomei em minhas mãos e li o artigo. Ou melhor... O edital.
- Está online também.
- E você não vê? É sua oportunidade. O Edital diz que abriram cinco vagas e uma delas é por merecimento. E vai me dizer que alguém merece isso mais que você.
- Nunca tive essa ambição.
- E nós sabemos. Por isso estamos aqui. Há um edital para desembargadores e você com certeza ira se inscrever. O prazo máximo é até amanhã.
- Eu sei. – Havia cogitado essa possibilidade, mas depois de pensar em meus velhos pais na casa dos setenta e oito e o outro com oitenta e dois. Como os deixaria? Como faria isso? Eles nunca me deixaram.
- E por esse motivo trouxemos alguém para falar com você. – O Breno foi até a porta e uma enfermeira entrou empurrando meu pai. Na ultima semana havia tropeçado em um degrau da escada, o que lhe rendera uma perna quebrada.