*Sem correção...
Liara,
Acordei na madrugada e percebi que ainda estava sozinha na cama. Não que isso nunca tivesse acontecido, principalmente nos últimos meses, mas... Não foi por isso que ele veio? Para que não ficássemos separados?
Acendi o abajur, e fui silenciosamente até o quarto de meu sogro e o observei. Era como se voltássemos aos tempos das crianças. Eu me levantava sempre para ver se estavam ao menos respirando.
Voltei até meu quarto e me deitei novamente, pensando nas palavras que meu sogro disse durante o nosso jantar sem a presença do Cairon.
- Conhece seu marido, assim como conheço meu filho. – Isso era parar ter uma continuação, mas ele só disse isso. E minutos mais tarde quando terminamos o jantar, subiu as escadas e lá de cima murmurou algo tipo, "nem tudo é o que parece".
Eu fiquei ali, na cama, abraçada aos meus joelhos, analisando o que havia acontecido. E cheguei a conclusão que o Cairon tinha razão. Eu estava tão acostumada a perder na vida, que sempre duvidava de minhas conquistas. Minha infância, adolescência e juventude haviam tatuado meu coração, e agora, se não me cuidasse, eu perderia uma das melhores coisas que me aconteceu na vida.
Eu lutaria contra sensação que habitava em mim de que poderia perde-lo. Nunca mais o Cairon sentiria se irrataria com minhas desconfianças.
Pulei da cama, tomei um banho e me vesti. Arrumei meu cabelo e sentei-me diante o espelho. Como o casamento é desgastante. Tanto emocional, como fisicamente. Eu me sentia acabada. Precisava de férias e sair do comodismo. Mas não havia nem previsão de recesso no fórum. Ao contrário, minha mesa estava abarrotada de trabalho.
Escolhi meu melhor perfume. Meu melhor sorriso e desci para o café da manhã.
- Bom dia doutora.
- Bom dia Beatriz. – Preferi ficar com a ajudante do meu sogro, já que a minha vinha apenas dois dias na semana depois que a nossa antiga ajudante havia se aposentado. – Meu sogro ainda dorme, pena não poder espera-lo para o café. – Novamente olhei o celular e não havia nada. Nenhuma ligação. Nenhuma mensagem. Eu lutei a noite toda. Uma luta invisível e espiritual para não ligar. Para não mandar mensagens. Eu não podia. Não depois do que ele havia dito. Como disse, não somos mais crianças, e ele principalmente, é adulto e sabe o que faz. Quando peguei minha bolsa, e as chaves do carro, ouviu um barulho à porta da cozinha e pelo refrigerador vi sua imagem. Entrou e sentou-se diante a mim. Imediantamente fiquei de pé, pegando meu notebook.
- Não pode esperar um pouco mais? Pensei que pudéssemos conversar.
- Pensei que havia dito tudo ontem. – As lágrimas vieram aos meus olhos e eu sabia o que iria acontecer. Eu choraria, ele me abraçaria, e nada seria resolvido. Engoli uma seis vezes e pisquei até que conseguisse raciocinar.
- Li, eu...
- Preciso ir.
- Espera! – Ele segurou meu braço, mas eu não me virei. Não como sempre fazia. Dessa vez seria diferente. Se ele queria mesmo depois de tantos anos que eu mudasse, eu iria tentar, e se não conseguisse, iria tentar novamente, até morrer. Morreria tentando.
- O Pietro vem ficar com seu pai o dia todo.
- Vem almoçar? A gente podia se encontrar em algum lugar para....
- Hoje não dá, tenho muito trabalho.
Sem ser brusca, me soltei de suas mãos e saí. – Deixei minhas lágrimas caírem assim que o carro atravessou o portão da casa. E por incrível que pareça, a desembargadora chegava, com sua habitual roupa de corrida matinal, apenas acenou e aproveitou o portão aberto para entrar. Se fosse em outra ocasião isso teria me matado. Mas eu tinha contole sobre mim. Ela iria apenas tomar café com meu sogro, mas como meu sogro ainda dormia, ela ficaria conversando com o Cairon, o que não tinha nada demais, porque eles até mesmo trabalham no mesmo lugar. Respirei de novo e de novo e segui meu caminho.