Capítulo 8
Liara,
Mas o novo dia, demorou um pouco mais que eu pensava. Mesmo assim, não enfartei dois dias depois, quando seu assessor me ligou informando que ele não viria para o almoço e nem para o jantar. Estava reunido com outros desembargadores. De certa forma, meu coração doente de ciúmes, sabia bem quem eram os "desembargadores" com os quais ele estava se reunido. E um dia ausente no jantar, se tornou duas semanas, até que ouvi o pai conversando com ele na sala de jantar.
- Acha que isso é certo filho?
- Não. – Eu não quis ficar escutando atrás da porta e acabei não sabendo o que era certo ou não.
Naquela noite, ele me informou que na sexta, teria um jantar, mas que provavelmente eu ficaria entendiada. Entendiada? Logo eu que amava os assuntos que rolavam no meio Jurico? E no mais, a gente era assim.... Tudo o que dizia respeito à ele, era importante para mim. Eu iria afirmar para mim mesma, que por uma fração de segundos ele tivesse se esquecido. Mas lá no fundo do meu inconsciente uma voz mormurava.... "Ele não quer te levar".
- Não precisa se justificar. – Foi minha única resposta.
E a partir daquele momento era como se estivesse vivendo com uma pessoa totalmente estranha. Não reconhecia mais o Cairon.
Quem havia inventado aquela frase de que "o melhor está por vir", não sabia o que se tornaria minha vida.
Um dia quando cheguei em casa, foi a gota d'agua. Havia uma reunião de fato, e outros desembargadores, e quando começaram a se levantar para partir, a Patricia ficou. Ela escreveu, apagou e por fim, eu me despedi dizendo estar muito cansada. Isso era uma deixa para que ela se tocasse, mas não aconteceu assim.
O Cairon estava se despedindo do ultimo desembargador quando fiquei de pé.
- Eu tenho uma amiga, que é como você. Ela sempre brinca que as rugas não aparecem, mas o corpo sente.
- O que quer dizer como eu? – Ela viu que pelo meu tom, não havia gostado da brincadeira.
- Nossa desculpa, eu não soube me expressar. É que a gente brinca muito com ela, que vocês.... Como posso dizer? Que as pessoas negras nem apresenta a idade que tem, então ela diz que as rugas não aparecem, mas que o corpo todo dói. Eu.... Só falei porque disse que estava cansada, então me lembrei dela, e...
- Está se enrolando cada vez mais. – Ao ver minha expressão de poucos amigos, ela se levantou, e antes tivesse ficado. Morava a três casas para frente, e mesmo assim, insistiu que o Cairon a levasse. E ele se dispôs, prontamente. Um perfeito cavalheiro. Essa noite foi a segunda vez que não dormiu em minha cama, dormiu no quarto do Pietro, e na manhã seguinte disse que achou melhor fazê-lo, por precisava ler e não queria mesmo me incomodar.
A nossa conversa não passaria de hoje. Entrei em meu carro e fui para o trabalho e foi lá que descobri que estava fazendo papel de idiota.
- A senhora não quer ver isso. – Um dos estagiários quase roubou o jornal de minhas mãos. Mas fui mais rápida e abri. "Desembargador troca esposa novamente".
Entrei em minha sala, com o jornal nas mãos e me sentei.
Abaixo, o jornal exibia fotos antigas sobre nós, desde o namoro até o casamento. Relembrava o fato de "Ele ter me tirado das ruas". Era como se "o favor" tivesse acabado. Era triste... Haviam resumido nossa história em poucas linhas, e em seguida debulhavam elogios à desembargadora mais jovem da história.