Capítulo Dezesseis

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Volto na sexta. Com os dois últimos capítulos. 


Cairon

Naquela tarde ao sair do trabalho, decidi que não iria diretor para casa.

- Surpermercado? Não tem quem faça isso por vocês? – Depois de todos esses anos, e o Murilo ainda se surpreendia com meus pedidos.

- Já deve ter descoberto que há coisa que não se delega à terceiros. – E preparar um jantar para a pessoa a quem se ama era uma delas. Era preciso fiscalizar pessoalmente cada detalhe. O primeiro teria que ser escolher o prato que mais agradasse à ela, e em seguida olhar na internet os ingredientes necessários, e isso estava fazendo enquanto ele atravessava a cidade. Sabia de minha preferencias, até mesmo de supermercado e farmácia.

Assim que parou no lugar, um supermercado onde encontrava-se de tudo o que precisava. Sempre quando vinha à capital, eu passava por ali.

- Não irá comprar nada? Poderia fazer uma supresa à Késsia. – Ele não respondeu, mas sei que deve estar cogitando as possibilidades.

Ao fim das compras, enquanto eu passava no caixa observava meu amigo Murilo, me esperar com duas sacolas pequenas nas mãos.

- Não irei cozinhar. Ah, não vou mesmo. – Saiu resmungando, enquanto abria o porta malas do carro. No fundo sua negação, era quase uma afirmativa.

Em casa, na cozinha, ouvimos os passos de meu pai que descia as escadas, e esperei que ele questionasse também minha decisão de cozinhar.

- Como se chama mesmo aquela palvra de quando a gente já vez algo antes? – Eu sabia que o Murilo não deixaria passar a oportunidade de brincar sobre meu rompante de invadir a cozinha e preparar o jantar de minha esposa.

- Déjà vu, - respondeu meu pai.

- Isso mesmo seu Cairon. Aquela sensação de já ter vivido ou presenciado esse fato antes. A diferenteça è que da outra vez não era nessa casa, e nem nessa cidade.

- Então, não é um Déjà vu. – Meu pai replicou. – Déjà vu, se aplica quando há uma reação psicológica da transmissão de ideias de que já se esteve naquele lugar antes, já se viu aquelas pessoas, ou outro elemento externo. O termo é uma expressão da língua francesa que significa, "Já visto".

- Tudo bem! Que não seja essa palavra, mas acredite, eu vivi para rever seu filho cozinhando para a esposa. Na época, era apenas uma paquera. E ele afirmava a todo custo que era compaixão.

- E devia estar correto Murilo. Veja, se está cozinhando agora para a esposa, é porque vive o mesmo sentimento... "Com-paixão". – Meu pai sentou-se em uma cadeira próxima, deixando o andador de lado. - Sentimento piedoso de simpatia para com a tragédia pessoal de outrem, isso é compaixão. E se antes meu filho sentia compaixão pela situação da moça, o que não é necessário hoje, pode expressar o sentimento pelos dias difíceis que ela tem enfrentado no trabalho.

O Murilo se sentou ao lado de meu pais, e eu aproveitei para fazer três xícaras de café na maquina para conversarmos um pouco.

- Verdade. Meu pai me viu muitas vezes chegar como a Li, tem chegado. Cansado. Esgotado. E muitas vezes descrete com a sociedade e seus governantes.

- Então a coisa é séria.

- Julgamentos são sérios. Seja como e quando for.

- E não pensem meus filhos, que sejam difíceis somente os julgamentos que ocorrem em tribunais, mas principalmente os que nos cercam no dia-a-dia.

O DesembargadorOnde histórias criam vida. Descubra agora