Capítulo Catorze

3.1K 463 78
                                    

Cairon,

Olhando o jornal sobre minha mesa tive certeza de que o Cairon deveria estar aliviado por tudo ter chegado ao fim. O Ministério Público Federal, denunciou quinze pessoas por suposto envolvimento em esquema de venda de decisões judiciais. Endereçado ao Superior Tribunal de Justiça, o pedido de ação penal inclui os desembargadores afastados Patrícia Cantareira e desembargador Fontes, além de Alencar Pereira, desembargador aposentado compulsoriamente pelo próprio Tribunal de Justiça desde maio do ano decorrente.

Eu sabia que por mais que as dores ainda o incomodassem, havia algo que o incomodava nesse momento. E não era simplies desconfiança minha. Havia algo mais. Durante esses dois dias que ele voltou para casa, eu voltei a trabalhar e nossas noites sempre com casa cheia de filhos e amigos, não nos permitiu ainda ter uma longa e boa conversa sobre nossas vidas, embora eu ache que agora voltará tudo aos trilhos novamente.

- Doutora. – Estava em minha hora. Havia uma audiência. Jovens, haviam roubado uma senhora em plena luz do dia, e ainda espancado seu neto de apenas oito anos. Agora, o advogado de defesa estava ali para pedir a liberdade de um deles, porque tivera participação de menos importância.

- Para mim, não há men"os importância quando duas pessoas, consideradas " adulto joven" decidiam-se por tirar de alguém aquilo que não lhes pertencia e ainda agredir uma criança indefesa.

- Aliás, dois indefesos. Uma criança e uma idosa.

- Excelencia, nesse caso, meu cliente tem família, sua participação é de menor importância, eu ira requerer a liberdade assistida provisória dele, para que ele responda o processo em liberadade até a próxima audiência.

- Ok! Doutor. Só que ainda não sabemos a participação dele, não sabemos se de fato a participação dele foi de menor importância no evento. Só temos a palavra dele, e por enquanto, a palavra dele está um pouco desacreditada. Já esteve na vara da infância e descumpriu várias medidas. E nós não podemos mais testar para ver se ele vai ou não cumprir outras medidas. Eu quero ouvir a vítima, enquanto isso o suspeito continua detido.

Quando saí da sala de audiência e entrei em meu gabinete fui surpreendida.

- Aconteceu algo Murilo?

- Melhor você vir comigo. – Nem perguntei uma segunda vez, confiava piamente no Murilo. Somente retirei a toga e o acompanhei. Em minha cabeça se passava que algo de ruim havia acontecido ao Cairon.

- O Cairon está bem Murilo?

- Melhor ver com seus próprios olhos. – O trajeto feito não era para casa, então pensei em meus filhos, no Pietro. Mas acabamos por parar em uma parte de um hangar particular, onde fui levada para um jatinho.

- Murilo? – Ele apenas acenou e o Jato fechou a porta. Estava temendo o que viria a seguir. Só comecei a me acalmar porque sabia que o Murilo não faria nada que não estivesse em acordo com o Cairon. Eu precisava pedir a minha assistente, ou aos estagiários que cancelassem minha agenda. O que não era muito para hoje, mas... De qualquer forma, não seria correto deixar alguém me esperando.

Eu esperei que o Cairon estivesse à bordo, mas não estava. Ou estava na cabine, que não dava para ver. Só podia. Mas quando desembarquei em outro angar, o qual eu nem fazia ideia de onde seria, ele não desceu. Um carro esperava por mim. Só depois que entramos na cidade foi que eu percebi que estávamos no interior. Cidade onde moramos por tanto tempo, mesmo que não fosse minha cidade natal, foi ali o piores e melhores momentos de minha vida.

O carro me levou para a Rua dos Poderes. Ali, estava localizado, a maior parte dos prédios Sedes do Poder Judiciário. Ele parou diante do TRF, e eu senti saudades dos velhos tempos. Nosso escritório era bem ali perto. Como ninguém me dizia nada, eu deveria esperar. Segurei minha bolsa e depois de dois minutos me decidi sentar.

O DesembargadorOnde histórias criam vida. Descubra agora