Capítulo 18
Cairon,
Naquela semana eu aprendi lições valiosas para toda uma vida. Aprendi que os títulos mais importantes na vida são de filho, marido, pai, amigo, e talvez o maior deles... Ser humano. Juiz ou desembargador, não eram apenas títulos, eram parte de da profissão que eu escolhera para defender as pessoas e ajudar a tornar o mundo um lugar mais justo e digno de se viver.
Eu vi meu pai várias vezes indignado em sua profissão com tantos homens e mulheres que tentavam de forma ilícita se apossar do que não lhes pertencia, fosse bens materiais, projetos, sonhos e até mesmo a vida alheia, e então me decidi por também trabalhar em prol da justiça, mas durante essa semana eu comecei a ver a vida de um novo prisma. Como de fato eu não estava vendo. Não minha vida profissional, mas minha vida familiar. Uma vida que mesmo sem perceber eu havia construido, e agora chegava a conclusão que era justamente aqui que eu gostaria de ter chegado. No inicio da semana eu tinha tudo planejado, faríamos Vinte anos de casados, e isso era um marco a ser comemorado. Lógico que era! Quantos casamentos hoje mal passavam os seis meses, ou o primeiro ano, e o maior motivo era a incompatibilidade de gênios ou a traição. Eu mesmo havia vivido anos com uma mulher que não me amava, e agora queria celebrar, gritar ao mundo inteiro que havia encontrado a pessoa que seria a escolha perfeita para estar ao meu lado, assim como meus pais, até que a morte nos separasse. E sobre essa expectativa me preparei. Na segunda seria um jantar. Um jantar romântico, que acabou se tornando um jantar familiar, com a presença até mesmo de nossos amigos Breno, Walter, Diogo, Heitor e a Josy, os quais a gente não encontrava há muito tempo, embora se comunicasse sempre via aplicativo de mensagem.
A terça, bem... A terça, queria ver um filme. Queria levar a Li, ao cinema. Eram raras as vezes que fazíamos isso, mas naquela noite, o Pietro trouxe um filme, e um vinho, - o que me fez reviver as vezes que visitei minha mãe meu pai com um vinho nas mãos de mãos dadas com a Liara, e passava ali horas e horas jogando conversa fora. E a noite foi assim, não tardou a campainha tocar e chegar a Franchesca, o Pierre com a Viviane, e assistimos o filme em casa, com o Pierre e a filha observando cada erro do filme, cada palavra francesa mal pronunciada, e os erros de sequencia de cena, coisa que passava despercebidos aos nossos olhos. Agora, eu me pergunto, quem em sã perfeita consciência, assistiria um drama lado daqueles dois, sem deixar de rir o tempo todo?
A quarta não foi diferente. Fui busca-la no trabalho para que nada atrapalhasse nossos planos, e lá estavam as mulheres prontas para uma noite entre "elas", só me restou uma noite com os homens, e as lembranças dos tempos de solteiro. Muitas risadas e recordações.
A quinta e a sexta se seguiram como padrão. Sempre acontecia algo, na quinta foram os colegas do trabalho e na sexta nossos funcionários e no sábado, um bendito jogo com meus filhos, inventado pelo Pietro. Estava a ponto de dizer não, mas não perderia a oportunidade de ganhar dos jovens e deixa-los decepcionados por ver o pai cinquentão ainda em boa forma. Afinal, eu corria todos os dias, além de frequentar a academia ao menos duas vezes na semana, ao lado de meus companheiros, Murilo e os seguranças da Polícia Federal, enquanto os garotos mal se levantavam das poltronas para abrirem as portas do Refrigerador. E assim, vencemos por doze à três, e ainda tivemos que ouvir os murmúrios do Benjamin, sempre muito bom nos desenhos, mas péssimo em esporte e matemática.
Então, a noite chegou, com todo seu encanto, e o jardim estava florido quando desci, descalço e usando somente calça azul marinho do meu moletom, sem cueca, pego de surpresa por uma multidão que teve o prazer de me aplaudir e me deixar sem graça e com certeza corado ao extremo, e como poucas vezes na vida, eu não soube o que fazer ou o que que dizer...