obs: contém conteúdo forte.
O noivado tinha ocorrido poucos dias perto do casamento em uma festa íntima. Estava tudo certo, Anahí não iria para a faculdade no momento para que continuasse no comando dos hotéis Portilla-Lawrence, mas agora como esposa do sócio majoritário. Robert tinha mantido a promessa e não tirou Henrique totalmente do comando dos Hotéis, porém Anahí convenceu o pai de que novamente tentasse uma reabilitação.
Robert Lawrence tinha sido o cavalheiro perfeito, Anahí não o amava e não estava feliz por ter adiado os planos de ir realizar seu grande sonho de estudar música, mas estava ali para ajudar o pai e para não perder de vez o hotel que tinha morado e crescido.
O casamento chegou em um encantador dia de primavera, as flores na saída da igreja estavam lindas assim como a maravilhosa decoração no lado interno. Mas dentro da sacristia nada estava bonito, Anahí enxugou as lágrimas que insistiam em cair quando a cerimonialista veio avisar que tinha chegado a hora.
Henrique olhou a filha com um pedido de perdão mudo quando se encontraram na entrada da igreja, mas aquilo não foi o suficiente para impedir o casamento de acontecer. Anahí tentou sorrir para seus convidados, porém a verdade é que não conhecia ninguém ali. Como queria que sua mãe estivesse com ela... Marichelo fazia muita falta.
O vestido luxuoso não era confortável, seus pés estavam lhe matando, entretanto aguentou firme, passo a passo. Robert a esperava no altar vestindo um terno Armani feito sob medida, tinha uma expressão vitoriosa estampada na cara. Anahí finalmente seria sua.
Daí para frente não demorou muito, dizer o sim foi a parte mais dolorosa, uma hora e meia depois eles já estavam na recepção tendo a famosa primeira dança do casal.
- Sorria. – Robert a alertou entre os dentes – Vão começar a achar que você não está feliz.
Anahí reprimiu fortemente o desejo de dizer que essa era a mais pura verdade. Não estava feliz agora e nem nunca seria ao lado dele.
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"Levante-se, querida. Já estamos indo para a casa. A lua de mel nos aguarda." – Robert disse sendo acompanhado por uma risada coletiva de seus companheiros de negócios. Anahí calada estava e muda ficou, se despediu do pai brevemente e seguiu Robert até o lado de fora do salão de festas.
Foi então que o pesadelo começou.
O motorista os levou em uma limusine até a luxuosa mansão de Robert que ficava no bairro considerado mais chique de Nova Jersey. Ele segurou Anahí pelo braço, a ajudando a descer do carro e a direcionando até a entrada da casa, o que poderia ser considerado pelos outros como uma atitude natural de um marido dedicado, ela podia sentir o aperto firme chegando a ferir. Era como se agora ela pertencesse inteiramente a ele.
Robert a levou direto para o quarto, chegando lá ele sentou-se na cama e olhou para Anahí. A menina assustada do jeito que estava, apenas ficou parada, em pé, no mesmo lugar.
- Tire a roupa. – Anahí deu um passo atrás involuntariamente com o tom de comando. Ela lutou em um primeiro momento, mas eventualmente o fez. Não fora sua primeira vez no sexo propriamente dito, mas nunca tinha se sentido assim, usada, triste.
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Robert não voltou a tocá-la após aquela noite, mas ele não poupava as palavras de desgosto. Anahí passou a chorar diariamente, nunca esteve mais infeliz. Ela não podia sair de casa, ficava sozinha o dia todo, seu pai já havia ido para a clinica de reabilitação assim que ela não tinha nenhuma visita. Anahí precisava cozinhar, limpar, passar, os únicos momentos de alívio que tinha era quando tocava seu violão, cantar a acalmava, mesmo já amando antes ela nunca teve tanta intimidade com a música e suas melodias.
Até que estava uma noite calma, quando tudo aconteceu, seis meses depois do dia fatídico do casamento.
Robert chegou cheirando fortemente a álcool, estava claramente alterado. Ela nunca o tinha visto beber dessa forma antes. O primeiro tapa veio antes que ela percebesse o que estava acontecendo, ele a arrastou pelo braço até a suíte e a jogou na cama sem se preocupar com nada. Aquela fora a primeira vez que Anahí foi violentada.
Depois de aí virou costume. Uma vez ela conseguiu fugir indo na delegacia mais próxima, o que não adiantou de nada porque Robert não era do tipo que as pessoas acreditassem que bateria em sua esposa, e com o dinheiro que ele tinha fora fácil fugir dos olhos da lei. Anahí estava vivendo algo que nunca pensou que um dia iria viver, ela estava vivendo o que um incontável número de mulheres vive todos os dias durante anos.
Cada vez mais a vontade de fugir se tornava maior, ela tinha medo do que podia acontecer com seu pai, mas ali ela não podia mais ficar. A empregada de Robert a ajudou a fugir, ela tirou uma cópia da chave e entregou a Anahí, que guardou até uma oportunidade surgir. Essa noite seria sua fuga. As vezes Robert a permitia dormir no quarto de visitas e o mesmo chegou tarde e logo dormiu como de costume, e aí ela aproveitou.
Anahí correu e correu, o mais rápido que podia. Correu sem olhar pra trás uma vez sequer, correu como se sua vida dependesse daquilo. Correu como o Diabo foge da cruz. Cada passo ela estava mais perto da tão sonhada liberdade.
Ela tinha uma mochila nas mãos e um violão pendurado nas costas, era tudo o que precisava. A estação de ônibus estava vazia àquela hora da madrugada, ela agradeceu aos céus por isso.
- Um ticket para Nova Iorque – Anahí pediu apressada a atendente – Para o próximo ônibus, por favor.
- O ônibus mais próximo sai daqui a 30 minutos – Informou a atendente com cara de sono ou de tédio, após olhar por alguns segundos a tela do computador – Vai custar 20 dólares.
- Obrigada – A garota sentou-se agoniada depois de pagar, não tinha nada que pudesse fazer além de esperar, então tinha que manter a calma. Ela contou os poucos trocados que lhe restou e fez uma careta. O que ela tinha mal dava pra se alimentar pelo resto da semana, mas ela daria um jeito. Sim, ela daria.
Quando o veículo finalmente chegou à estação, ela e apenas mais três pessoas subiram a bordo, e somente quando o ônibus começou a se movimentar que ela conseguiu respirar de novo.
****
A vida em Nova York também não fora fácil. Anahí passou dias e dias nas ruas, foi quando conheceu o pior vício que alguém poderia ter. O vício da droga. Ela tinha tanta fome, tanto frio, a droga era sua única saída para escapar desse mundo cruel, que lhe tirou tudo. O violão que sempre a acompanhava era sua forma de ganhar alguns trocados na rua, mas chegou a um ponto que tudo era dedicado a cocaína.
Passaram-se sete meses desde que ela tinha ido para Nova York quando foi abordada por um grupo de assistentes sociais, eles a levaram para o hospital público onde receberia tratamento. Isso foi sua salvação em todos os significados da palavra.
Christian teve sua mãe morta de overdose e quando cresceu ele fazia questão de se voluntariar em todos os centros e hospitais que ajudassem no vício. Foi assim que os dois se conheceram. Anahí que já estava melhor, depois de muitos altos e baixos, viu em Christian seu escudo, sua força.
Quando ela recebeu alta, Christian a acolheu, lhe deu casa, lhe deu emprego, e lhe deu a melhor coisa que Anahí poderia ter, uma família. Christian e Martin praticamente a adotaram e nunca nesse mundo ela poderia retribuir tudo que eles fizeram por ela.
Por ultimo, surgiu Alfonso e finalmente, ela estava feliz.
Até o presente momento.
Essa foi uma das piores coisas que escrevi e quase chorei, pode ser que não atinja vocês mas coloquei um recadinho no inicio só pra avisar né. Foi necessário pra vocês entenderem mais ou menos tudo que Anahí passou, a mudança dela de Nova Jersey pra Nova York e algumas coisas que vão acontecer daqui pra frente.
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Love And Other Drugs
RomantizmAnahi quando jovem só queria uma coisa pra sua vida. Não, ela não queria fama, muito menos dinheiro. O que ela queria era viver de música. Ela queria respirar música. Uma garota cheia de sonhos, podemos assim chamá-la. Um espirito livre. Um espirito...