Fita 12 #Bryce

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É provável que essa seja a mais intensa das fitas. Ou talvez, seja a soma de tudo que já vimos, mais os terríveis acontecimentos narrados aqui, que torne tudo tão forte, indigesto e sufocante. A vida de Hannah não foi nada simples e, imersa no olho do furacão, sofreu mais uma violência imperdoável. Bryce Walker a escolheu como vítima e, assim como havia feito com Jessica, a estuprou, tirando dela algo que nunca poderia ter de volta, violou seu corpo, destruiu sua alma e espírito, a fez morrer por dentro. O estupro foi estopim para o suicídio. A gota final que fez tudo transbordar, que minou de vez qualquer esperança que Hanna pudesse ter.

Esse episódio também é importante para pensarmos tanto Bryce quanto Justin como indivíduos. Justin é fruto de uma família desestruturada, cresceu sem afeto, atenção, sendo abusado física e psicologicamente e tendo como exemplos de amor as relações abusivas e destrutivas nas quais sua mãe estava envolvida. Lugares tóxicos formam pessoas tóxicas e a violência foi tudo o que esse garoto aprendeu desde cedo. Nada – absolutamente nada – disso justifica seus atos, o exime da culpa ou anula a destruição que ele trouxe para Hannah e Jessica. Elas são as vítimas, ele o agressor – que deve ser punido pelo que fez. Em outros pontos, no entanto, ele também foi uma vítima – chegamos até mesmo a vê-lo sendo agredido nesse episódio. É um ciclo, uma bola de neve, uma corrente de agressões e destruição.

Bryce, por sua vez, é o rapaz que cresceu com tudo e aprendeu desde cedo que podia tudo, o mundo inteiro estava a sua disposição. Ele não é apenas um homem cis, heterossexual e branco – e, portanto, já bastante privilegiado – ele também é rico, algo que muitas vezes se tona praticamente um atestado de impunidade. Bryce está em uma posição de poder e realmente acredita que pode fazer tudo, pega o que quiser, sem se preocupar com consentimentos ou com quantas garotas irá destruir para conseguir o que deseja. Mulheres, para ele, são objetos descartáveis. Em sua mente machista e doentia todas as garotas o desejam e está fazendo um favor ao violenta-las, afinal elas estão "pedindo" por isso.

O pior é que, mesmo sendo um estuprador, Bryce ainda é capitão do time de futebol, extremamente popular, constantemente consagrado no colégio e tem sido protegido por todos os que sabem de seus crimes – o que é, pelos menos, todo mundo que escutou aquelas fitas – e não fazem nada. A parte mais triste é que o mundo está cheio de homens assim. Tenho certeza que todos nós conhecemos, ao menos, um Bryce. E continuaremos conhecendo enquanto estivermos inseridos em cultura machista e em uma sociedade que condena e culpabiliza mulheres, enquanto aplaude e absolve os homens que as violentaram.


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