A partir daqui não há mais volta. Chegamos à última fita, ao momento derradeiro, ao ápice do desespero. Hannah Baker já não via saída, era coisa demais para suportar sozinha, slut-shaming, amizades destruídas, bullying, culpa, acima de tudo, ter sido estuprada e obrigada a ver seu estuprador todos os dias na escola, andando livremente, como se nada houvesse acontecido, e com sua reputação de bom moço incólume. Era demais e já não havia esperança, ainda assim, a menina resolveu pedir ajuda. Foi sua tentativa final, mas infelizmente uma tentativa vã. Mr. Porter deveria ser um adulto responsável por aqueles jovens, por orientá-los e lhes oferecer ajuda. Seu trabalho era saber como lidar com adolescentes como Hannah, perceber seus sinais e evitar o desfecho que a garota teve. É uma responsabilidade gigantesca, certamente não é um trabalho fácil e, dessa vez, ele não conseguiu realiza-lo com sucesso.
Obviamente não foi por maldade, mas o homem relativizou os problemas de Hannah e, mais do que isso, a violência sexual sofrida por ela. Tivemos aqui uma demonstração bem clara de como o machismo também é algo institucional, que relativiza os assédios e violências de gênero sofridas por mulheres, e as obriga a conviver com seus agressores nas escolas, nas universidades, no trabalho... Mr. Porter queria ajudar, mas não tinha preparo o suficiente para lidar com esse tipo de situação. Dizer para Hannah seguir em frente foi a pior coisa que poderia ter feito. Para ela a única forma de "seguir em frente" era tirando a própria vida e foi justamente o que fez.
A cena do suicídio de Hannah é provavelmente uma das mais fortes e polêmicas da série. É desesperadora, angustiante, dolorosa e indigesta. É difícil de assistir e, para ser honesta, não acho que deveríamos assisti-la. 13 Reasons Why tentou nos mostrar como aquilo era horrível, mas também deu um "passo a passo" de como tirar a própria vida. Não mostrar esse momento talvez houvesse sido uma escolha melhor e mais aconselhável. De qualquer forma, o instante em que os pais encontram a filha morta na banheira não pode ser descrito como nada além de absurdamente doloroso.
Ainda sobre os pais de Hannah, o casal finalmente terá as respostas que deseja, porque Tony decidiu que entregar as fitas aos dois seria a coisa certa a se fazer. Os Baker agora têm a prova que precisam para continuar com o processo e, acima disso, ganharam um meio de tentar se conectar com a filha, conhecer seus segredos e finalmente entender o que a levou ao extremo de tirar a própria vida. Nesse ponto preciso expressar meu descontentamento com o fato dela ser dar ao trabalho de deixar uma explicação a Clay, mas não deixar nada para os pais que passariam o resto da vida se culpando por sua morte.
Em meio a tudo isso, assistimos também como alguns dos outros personagens lidavam com tudo o tem acontecido. A constatação de que foi realmente estuprada, não tem sido algo fácil para Jessica – e nem poderia ser –, ainda assim, a tentativa de cortar relações com Justin e a conversa com o pai, no final do episódio, indicam que, ao menos, ela está procurando ajuda.
O mesmo não pode ser dito de Tyler e Alex. O primeiro parece bem próximo de se vingar de todos que já o humilharam, atirando neles. E o segundo atirou em si mesmo, tentando se matar. O mais importante disso foi perceber como os sinais de Alex estavam todos ali e, mais uma vez, foram ignorados. O garoto não conseguiu lidar com a culpa, com a pressão e com, sabe se lá quais, outros problemas estava passando. Estava claro que algo estava errado com ele e, novamente, ninguém fez nada.
Não sabemos o que acontecerá com ele, Tyler, Jessica, Justin – que colocou um fim definitivo em sua amizade com Bryce –, Sheri – que finalmente reuniu coragem para confessar o que fez –, Zach, Courtney, Marcus, Ryan, Bryce, Mr.Porter ou mesmo Clay. Sobre o último, é bom destacar que, após tudo isso, ele escolheu não ignorar o sofrimento de Skye, fazendo por ela o que não conseguiu fazer por Hannah. Seja esse um final aberto, ou apenas ganchos para uma segunda temporada, é inegável o impacto que ela está tendo. Acompanhar a jornada de Hannah Baker é doloroso, mas nos fazer pensar e repensar nossas atitudes, forma de encarar a vida e as outras pessoas. Todos já fomos vítimas ou o porquê de alguém – seja por uma atitude ou pela omissão. Que, a partir daqui, tentemos não ser mais porquês nas vidas das pessoas e, se estivermos no outro lado da equação, que saibamos que pedir ajuda é válido, importante e necessário. Ainda há vida a ser vivida.
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Os 13 Porquês, As 13 emoções
Non-Fictionisso não é uma fanfic é só tudo o que eu pensei quando vi e escutei cada fita da Hanna Baker.