Um

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Annie

Agosto de 1914

Acordo com a luz que ilumina todo o meu quarto, levanto-me preguiçosamente e vou até à janela para olhar o novo dia que me espera.

Hoje, dia 14, é o meu décimo quarto aniversário. Visto-me e para este dia tão especial, escolho o vestido que o meu pai me deu há uns dias atrás. Saio do meu quarto e desço as escadas para ir tomar o pequeno-almoço. Eu vivo com os meus pais numa fazenda perto de Paris. O meu pai, Pierre Chermont, é fazendeiro e a minha mãe, Nicole Chermont, passa os dias a cuidar da casa e, de vez em quando, dá-me aulas. Não é comum haver mulheres a saber ler e escrever, mas a minha mãe foi diferente, aprendeu muito com o seu pai, que era professor numa das melhores universidades de França e, ao longo da sua adolescência, sempre se dedicou muito aos estudos. Mas quando se casou com o meu pai, decidiu dedicar-se à família e foi quando eu nasci que ela se tornou a minha professora.

Quando entro na cozinha vejo os meus pais em pé atrás da mesa e à sua frente está pousado um pequeno bolo. Corro para ir abraçá-los...Como sempre, não se esqueceram do meu aniversário. A minha mãe dá-me um abraço apertado e acaricia-me as costas dizendo:

- Parabéns Annie! Nem acredito que estás tão crescida. Parece que foi ontem que te peguei pela primeira vez nos meus braços! A sua voz é suave. Noto alguma emoção nos seus olhos.

Para mim nunca deixarás de ser a minha princesinha. - diz o meu pai com a sua voz mais carinhosa. Tira uma das mãos de trás das costas e revela um pequeno embrulho que me entrega com um grande sorriso. Recebo-o e abro-o. Agora sou eu que estou emocionada.

Dentro da caixa está um fio com as iniciais AC (Annie Chermont) gravadas. Abraço agora o meu pai e agradeço aos dois. Peço à minha mãe que me coloque o colar no pescoço. É mesmo a minha cara!

A minha mãe não é uma mulher muito alta mas é elegante, tem os cabelos escuros e a sua cara mostra uma certa preocupação. Há já alguns dias que noto essa expressão no seu rosto e sei que ela e o meu pai me escondem algo. O meu pai é um homem alto e magro. Parece cansado, o que não é de estranhar, pois trabalha muito e esforça-se bastante para dar uma boa vida a mim e à minha mãe. Somos uma família muito unida e muito feliz.

­- Está na hora do bolo - diz a minha mãe, pronta para cortar a primeira fatia.

- Adorava poder ficar mais um pouco com vocês, mas tenho mesmo de ir trabalhar. O meu pai leva os horários muito a sério.

- E não pode comer uma fatia de bolo antes de ir? - pergunto esboçando um pequeno sorriso.

- Está bem, mas tem de ser rápido. O meu pai pega numa fatia e come rapidamente. Quando termina, beija a minha testa, despede-se da minha mãe e sai rumo a mais um longo e duro dia de trabalho.

Tal como todos os dias, fico sozinha com a minha mãe em casa e depois de tomarmos o pequeno-almoço, ajudo-a a levantar a mesa e, de seguida, a lavar a loiça.

Não costumo ter muito que fazer durante o dia. De manhã, por vezes, ajudo a minha mãe em algumas tarefas domésticas e, durante a tarde, costumo caminhar até a uma vila que fica próxima da minha casa, Creteil, a cerca de dois quilómetros, onde vive a minha melhor amiga Ema. Conhecemo-nos há cerca de dois anos, quando ela se mudou para a casa da sua avó em Creteil. Quando chegaram, o pai da Ema, Leroy Beaumont, veio à nossa fazenda à procura de emprego nas

plantações e desde essa altura que temos sido grandes amigas. Contamos tudo uma à outra, tratamo-nos como se fossemos irmãs.

Depois de ajudar a minha mãe, com a loiça do almoço, está na hora da lição de geografia. Quando acabamos, vou até à cozinha e embrulho num pano o bolo que sobrou de manhã, para levar a Ema e à sua avó.

Querida AnnieOnde histórias criam vida. Descubra agora