Pierre
Julho de 1917
"Querida Annie,
Desculpa por te ter deixado sem cartas durante tanto tempo, mas algo mais grave aconteceu. Sofremos ataques muito frequentemente, mas o último por que passei feriu-me gravemente. Pensei mesmo que não me ia safar. Levei um tiro na barriga e que foi bastante profundo, mas por milagre, recuperei. Foi um processo de recuperação lento, mas tudo está bem agora. Parece que, alguns minutos depois de ser atingido, as tropas alemãs retiraram-se. Os soldados franceses levaram todos os feridos para o hospital, incluindo a mim. Perceberam que ainda estava vivo e não me deixaram ali no meio de milhares corpos espalhados.
Ainda não tive a oportunidade de te agradecer pelo colar que me enviaste. Podia dizer-te que me vai dar bastante força, mas a verdade é que foi ele que me salvou a vida. Foi ele que me protegeu depois do ataque e que não me deixou morrer. Com isto, quero dizer-te que foste tu! E antes de escrever mais alguma coisa, há algo importante que tenho a dizer. Antes de perder os sentidos durante o ataque, desejei poder agradecer-te por tudo. Por seres quem és e como és e por isso, obrigado Annie!
Um beijo com muito amor,
Pierre Chermont"
Hoje é o meu último dia no acampamento militar e amanhã, irei para as trincheira da linha da frente.
Aproveito o fim de tarde e sento-me a ver o pôr do sol. É algo que me fascina e tranquiliza. Está um dia quente e no sítio onde estou, posso dizer que está silencioso. Os acampamentos militares estão a quilómetros do campo de batalha e, por esse motivo, não há barulho de tiros e gritos de soldados que foram feridos.
Ouço passos e sei que alguém se aproxima de mim. Olho para o lado e vejo que é um soldado que se senta ao meu lado.
– É você o Pierre Chermont?
– Sim. Porquê?
– Encontrei algo que acho que lhe pertence. E do seu bolso retira uma fotografia. A minha fotografia. Já não me lembrava que tinha o meu nome escrito no verso, mas ainda bem.
– Muito obrigado! Não faz ideia do quanto esta fotografia é importante para mim. Pensava que nunca mais a voltaria a ver. Olho para fotografia e sinto que os meus olhos se enchem de lágrimas, porém, consigo contê-las.
– Encontrei-a perdida no chão de um trincheira e pensei que, quem quer que a tivesse perdido, iria querer recuperá-la.
– E fez muito bem. Que Deus lhe pague.
– Suponho que seja a sua mulher e a sua filha.
– Exatamente. As duas pessoas mais importantes na minha vida.
– Fico feliz por ter ajudado. Também tenho uma fotografia da minha namorada e sei que ficaria bastante mal se a perdesse.
– Há quanto tempo está na guerra?
– Mais ou menos há cinco meses. Foi decisão minha voluntariar-me. Acho que devemos lutar pela nossa pátria e defendê-la sempre, mas agora que aqui estou, confesso que é mais duro do que imaginei. E o senhor?
– Há já alguns anos que aqui estou. Nunca achei uma boa ideia vir para a guerra pois, para além de já não ser um homem novo, foi uma má altura para deixar a minha família.
– Eu compreendo. Bem, tenho que ir tratar de uns assuntos. Foi um prazer conhecê-lo. Espero que tudo corra bem consigo e que consiga voltar para casa.
– Igualmente.E mais uma vez, muito obrigado. Vejo-o levantar-se e a afastar-se.
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Querida Annie
AdventureAnnie é uma rapariga francesa que, após o seu décimo quarto aniversário, descobre que o seu pai terá de partir para combater na I Guerra Mundial (1914-1918) ao lado da Tríplice Entente. Durante a guerra, pai e filha comunicam através de cartas, poré...