Doze

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Annie

Janeiro de 1918

Mais um ano começou. Espero que seja um ano de novos sorrisos e de novas conquistas. Tal como nos últimos quatro anos, tivemos um Natal bastante tranquilo. Os meus avós maternos vieram para a ceia e todos juntos fomos à missa de dia 25. Foi bom passar o tempo perto da minha família, mas senti muito a falta do meu pai. Por mais que os anos passem, a dor permanece.

Ontem foi um dia de mudanças. A Ema e a Sr. Eloise mudaram-se para Paris. Depois que a sua tia, irmã do Sr. Leroy Beaumont, soube que a Sra. Eloise tinha perdido a casa, convidou-as para se mudarem para a sua casa. Pelo que soube, ela vive sozinha numa grande mansão. Fico muito feliz por elas pois, a partir de agora, terão mais oportunidades de ter uma vida melhor, mas também terei saudades. Sentirei falta de todas as conversas e conselhos da Ema e dos cozinhados maravilhosos da Sra. Eloise, que era como uma avó para mim.

Mais uma vez, sou só eu e a minha mãe.

Neste momento estou a jantar com a minha mãe. Ambas caladas, mas decido quebrar o silêncio.

– Acho que nunca lhe perguntei, mas como é que a mãe e o pai se conheceram?

– Porquê? – vejo que a minha mãe ficou espantada com a minha pergunta, mas também ficou feliz pela recordação.

– Apenas curiosidade.

– Bem, é preciso andar muito atrás no tempo para começar a história desde o início. Conhecemo-nos em 1893, quando eu tinha 14 anos e o teu pai 16. Como sabes, nós nascemos os dois em Paris e vivemos lá até nos casarmos. Tinha ido ao mercado comprar umas coisas que a minha mãe me tinha pedido e quando regressava a casa, um rapaz, que vinha a correr rua fora, chocou contra mim e eu deixei cair tudo o que trazia para o chão. Ele pediu imensas desculpas e apresentou-se como Pierre Chermont. Eu não achei piada nenhuma, pois percebi que ele se estava a fazer a mim e simplesmente me levantei e fui embora.

– Coitado! Deves ter-lhe partido o coração. E depois como é que se voltaram a encontrar?

– Uns dias mais tarde, fui passear com as minhas amigas e passámos à frente de um café e lá estava ele, à porta, com os seus amigos. Os que estavam com ele começaram logo a assobiar, tal como os rapazes costumam fazer assim que passa uma rapariga bonita. Mas o teu pai, simplesmente olhava para mim e eu, para ele. Acho que foi nesse momento que percebi que gostava dele.

– Então foi amor à segunda vista? A minha mãe sorri e acena com a cabeça.

– Era uma quarta-feira de manhã, quando estava sentada num banco de rua, perto de minha casa, a ler um livro. O teu pai aproximou-se e convidou-me para dar um passeio. Devo ter ficado muito corada, pois sentia a minha cara a arder. Não sabia o que dizer e, por esse motivo, simplesmente me levantei e comecei a caminhar lentamente na esperança que ele me acompanhasse. E ele assim o fez. A partir desse dia, tivemos vários encontros.

– Parece um romance tirado de um livro.

– O amor que sinto pelo teu pai é o mesmo desde aquele dia em que saímos pela primeira vez. Ao dizer isto, as lágrimas correm-lhe pelo rosto. – Tenho tantas saudades dele.

– Eu sei! Mas algo me diz que, em breve, isso irá mudar. Temos que ter fé.

– Tens razão minha filha. Mas já são quatro anos de espera e tu sabes o quão difícil tem sido passar por tudo isto. Não merecias passar assim a tua adolescência. - Não consigo dizer mais nada. Não tenho conselhos para dar nem palavras consoladoras. Só me resta levantar e abraçá-la.

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⏰ Última atualização: Apr 26, 2018 ⏰

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