Seis

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Pierre

Fevereiro de 1916

"Querida Annie,

Não recebi mais nenhuma carta tua, mas também sei que nem todas as cartas que são escritas para os milhões de soldados que estão em combate são entregues, tal como sei que, provavelmente, algumas das cartas que te escrevo devem ficar pelo caminho. As saudades que sinto são duras de suportar, mas é nelas que pego para que, a cada dia que passa, possa tonar-me mais forte. Porém, o verdadeiro motivo pelo qual eu te escrevo esta carta é para te dar uma boa notícia. Recentemente, enquanto andava pelas trincheiras, cruzei-me com um soldado que, logo que me viu, abraçou-me. De início não o reconheci, mas acabei por me aperceber que era o Sr. Leroy Beaumont. Posso dizer-te que, fisicamente, ele está bem. Quanto a nível psicológico, acho que, neste momento, ninguém está no seu melhor. Posso dizer-te que por aqui está tudo na mesma. Os dias parecem todos iguais e chega a um certo ponto que já não sei que dia é, mas acho que o facto de tudo parecer igual, na minha situação, até é uma coisa boa. Por vezes, para me distrair um pouco, gosto de me relembrar de bons momentos que passei perto de vocês, como aquelas maravilhosas férias que passamos em Kaysersberg. Foram dias incríveis e que adoro recordar.

Se Deus quiser brevemente voltaremos a ter desses momentos maravilhosos, todos juntos e felizes.

E assim me despeço com mais um grande sentimento de saudades e com o desejo de receber uma carta tua em breve.

Pierre Chermont"

Maio de 1916

"Querida Annie,

Infelizmente não tenho boas noticias. Há cinco dias atrás fui atingido por uma bala no ombro e outra na perna. Fomos vítimas de um ataque surpresa. Muitos soldados morreram e outros tantos ficaram gravemente feridos. Era de noite e estávamos na nossa pausa para descanso. Muitos aproveitaram para tirar umas horas de sono, pois há muito tempo que não o faziam; outros aproveitavam para escrever para as suas famílias. De repente, do meio do nada, uma bomba explode a uns cinco metros de mim. A partir daí não me lembro de muita coisa. Sei que tentei correr para o mais longe dali, mas não conseguia ver muito bem, pois o fumo ocupava todo o ar. Até que senti uma bala a atingir-me na perna e outra de seguida, no ombro. Foi nesse momento que apaguei. Pensei que era o fim, pensei que nunca mais vos voltaria a ver. No entanto e, felizmente, não foi isso que aconteceu. Acordei um dia depois. Estava na enfermaria e uma enfermeira estava a desinfetar as minhas feridas. Pelo que me contaram, foi um grande milagre ter sobrevivido pois cerca de duzentos soldados tinham morrido. Mas o importante é que estou a recuperar. Acho que, por enquanto, passarei mais alguns dias em repouso mas, depois disso, não sei o que me espera. Acho que só me resta esperar e ver o que acontece. Só escrevi esta carta porque não queria que pensassem o pior caso soubesse deste terrível ataque. Eu estou bem, dentro dos possíveis, e espero que tudo esteja a correr bem por aí. Um grande beijo cheio de amor para ti e para a mamã.

Pierre Chermont"

Agosto de 1916

"Querida Annie,

Dois anos já se passaram desde a última vez que estive contigo. Foram tempos cheios de tristeza, angústia e saudade. O que me mantém vivo é a esperança de voltar para casa. Não sei quando acabará a guerra ou se acabará, mas vou lutar até ao fim para vos voltar a ver. Já vivi momentos muito intensos e pelos quais nunca pensei passar. Estou a escrever esta carta na véspera do teu aniversário, no entanto, não sei quando, ou se a receberás. Parte-me o coração saber que passarei o teu décimo quinto aniversário tão longe. Prometo-te que, se voltarmos a estar todos juntos iremos fazer imensas coisas divertidas e celebrar todos os aniversários em que estive longe.

Também tenho um pedido muito importante para te fazer.

Recentemente, enquanto transportava os feridos que foram vítimas de um ataque, perdi a fotografia que me deste antes de partir. Preciso que me envies outra fotografia. É muito importante que o faças pois é ela que me dá muita da força que tenho todos os dias.

Mais uma vez me despeço, com o desejo de que passes uma maravilhoso aniversário, feliz e cheio de saúde. Um beijo,

Pierre Chermont"

Sei que, muito provavelmente ela não receberá nenhuma das cartas que lhe escrevo mas, poder fazê-lo, é algo que me reconforta e me distrai. A vida nas trincheiras não é algo que seja fácil de suportar e, à medida que o tempo passa, tudo parece piorar.


Querida AnnieOnde histórias criam vida. Descubra agora