capítulo 17

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Ouço o estrondo da porta de casa a bater. As lágrimas vêm-me aos olhos e eu agarro com força a moldura quebrada. Porquê ? Porquê é a minha pergunta, a minha única dúvida. Choro porque não tenho outro irmão, porque o meu coração dói-me, lembrando-me das palavras de John, aquelas palavras que ainda me custam a digerir. Mas se calhar choro também por Harry, por ele estar naquele grupo, sinto desespero por à noite Harry tornar-se como John, violento, duro, sem sentimentos. Harry não é meu, como foi no sonho o Harry não me beija não me agarra nem me diz " quero-te" e " amo-te ", infelizmente não diz, foi um sonho não é verdade ? Um estúpido e como sempre um mero sonho. Pode parecer estúpido mas aquele sonho foi tão romântico, tão bom, tão real, quero adormecer e continuar o sonho inacabado, quero continuar com a minha realidade irreal. Começo a sentir o sabor das minhas lágrimas nos meus lábios, o que eu quero fazer agora neste momento é ir ter com Harry, encontrá-lo, e encará-lo, perguntar-lhe " porquê ? " mas na verdade ele não tem que me dar explicações porque ele nem sequer me conhece, mas eu prometo, prometo por tudo que senti algo quando eu o chamei, na casa de Beth, eu não sei bem o que senti mas acho que houve uma espécie de ligação que só nós os dois sabiamos. Livro-me destes meus pensamentos que não me vão levar a lado nenhum, levanto-me e limpo as lágrimas. Olho para o espelho e tenho os olhos inchados de tanto chorar, passo água pela cara e vou-me deitar ainda são só 20:00, o tempo passa muito rápido, aconchego-me na cama e adormeço com Harry na minha mente.

O despertador toca e vejo marcadas as 07:00 da manhã. Dou um suspiro e levanto-me da cama para ir tomar um banho. Visto umas calças de ganga e uma camisa de manga comprida e ponho a  mala ao ombro. Entro no autocarro digo bom dia ao condutor que é sempre o mesmo e sento-me no meu lugar habitual, hoje começo a reparar mais nas paragens do autocarro e começo a reparar nas pessoas.

- Precisamos de falar - Uma figura alta sentou-se ao meu lado e estava a encarar-me. Cheirava a alecrim. Harry.

-  O quê ? - digo. Viro a cabeça e à minha frente está um rapaz de cabelo encaracolado e olhos verdes. O que é que ele está aqui a fazer ? Como é que ele sabe que eu estou neste autocarro ? - o que é que estás -  sou interrompida por ele.

O que é que eu devo dizer ? Que o meu irmão já me contou tudo e que se continuarmos a falar os dois ele ainda vai matar um de nós ? Fico calada e viro a minha cabeça para janela.

- Estás me a ouvir ? - pergunta ele.

- Sim, estou. - Eu não quero ouvir o que ele tem para de dizer mas ao mesmo tempo quero.

- Eu e o teu irmão já nos conhecemos.

- Sim eu sei que se conhecem. Sei que se conhecem porque tu estás no estúpido grupo dele e agora és um irreverente qualquer que ainda aí a roubar pessoas por ordem do meu irmão. -  Cuspo. Eu não devia ter dito isto.

- Eu tenho razões para o fazer - diz ele seco.

- Harry isto é assim, eu não sei as tuas razões por estares a participar naquela brincadeira mas uma coisa eu sei, eu conheço o meu irmão melhor que ninguém, tu nunca lhe podes dizer que não e quando estás num assunto ou no teu caso quando estás num " trabalho " com ele não podes voltar atrás. Harry lamento dizer-te mas tu acabaste de entrar numa roda que nunca irá parar de girar até ordem contrária do meu irmão.

- Eu não tinha mais sinto para onde ir - Por favor ele que não me venha com essa história.

- Estou a avisar-te ele é perigoso - aviso-o e ele assenta com a cabeça.

- Eu sei Margarida, eu sei. - Ele encostasse a mim e os nossos ombros tocam-se. Um silêncio constrangedor percorre o ar. Viro lwntamente a minha cabeça e ele está de olhos fechados, e eu aproveito para ver a cara dele, cada traço do seu rosto e do seu olhar, ele era lindo.

- Harry ? 

- Diz - Ele responde ainda com os olhos fechados

- Como é que me encontraste ?

- Já fui a tua casa e u só tive que encontrar o autocarro que ia  de lá até à livraria. - Boa. Além de conhecer o meu irmão, também já esteve em minha casa.

- Porque é que querias falar comigo ?

- Para te avisar - Os olhos deles encontram os meus.

- O John não gosta de juntar o trabalho com a família sabes ? - Ele adiciona.

- Sim infelizmente sei - Olho para o chão do autocarro e os meus pensamentos vão para a cena de ontem à tarde.

- O que é que tu fazes para ele específicamente ? - pergunto-lhe. Eu tenho que saber, quando ouvir a resposta a esta pergunta o meu coração vai ficar com menos um peso.

- Desculpa mas não posso.

- Na festa sabias que eu era irmã dele ?

- Não - Harry ri-se. Porque é que ele se está a rir ?

- E porque é que... - sou interrompida novamente por ele.

- Chega de perguntas por hoje pode ser ? - Respondo que sim com a cabeça e o autocarro para na minha saída. Levanto-me da cadeira e Harry segue-me até à saída do autocarro. Está frio cá fora e o meu cabelo vêm-me para  cara.

- Agora como é que voltas para casa ? - digo. E tiro o cabelo dos meus olhos, fico encantada com o cabelo escuro de Harry também a voar-lhe para a cara .

- Não te procupes comigo - Ele diz, vira-me as costas e segue em frente. Mas a onde é que ele pensa que vai ?

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