Ainda era verão na Inglaterra. Aquela época em especial fazia de Meryton um lugar atrativo e aconchegante. Seus rios e lagos brilhavam com os raios que pincelavam suas águas calmas. Viam-se mais cisnes e outros pequenos animais pelas redondezas. Grandes bosques e jardins em seu verde mais exuberante, como suaves cobertas pelos prados, praças e campos. As pessoas estavam mais alegres e dispostas para qualquer coisa.
Talvez nem tanto assim... Ao menos Elizabeth havia levantado sem nenhuma vontade de servir mesas e aguentar aqueles clientes chatos, reclamando do café muito forte, muito fraco, com pouco chantilly, bolinhos murchos e mais uma infinidade de dores de cabeça.- Lizzie, nós vamos nos atrasar de novo. A Sra. Long não vai nos poupar de um daqueles longos discursos sobre responsabilidade.
Jane Bennet costumava estar pronta bem antes da hora em que saíam para o trabalho. Mas hoje o Sr. Bennet não estava muito melhor do que nos outros dias, sua forte tosse o fizera pôr o café da manhã para fora e Jane sempre atenciosa ajudou a mãe a cuidar do pai, até que este melhorasse.
- Sei bem. Aquela mulher mexeriqueira, só sorri quando tem fofoca em vista.
Elizabeth estava acabando de calçar os tênis. Ajustou o lenço em seu pescoço e se olhou no espelho. Aquela roupa de garçonete era horrível. Um short saia preto e uma camisa branca com o nome do Long's Coffee bordado em vermelho. Elas usavam tênis idênticos, pretos. Os cabelos deviam estar amarrados, sempre. Ela só gostaria de entender como Jane conseguia ficar graciosa e linda naqueles trajes quando ela mais parecia uma desqualificada até para servir mesas.
- Esses lenços me dão nos nervos. No inverno até que vai, mas em pleno verão e essa coisa incomodando o pescoço.
Lizzie puxou com violência o pedaço de pano, que se enrugou e ficou com um nó torto e desleixado.
- Você apertou demais irmã. Deixa que eu ajeito pra você. - Jane com toda sua delicadeza deixou o lenço harmonioso. - Isto faz parte do uniforme, não devia reclamar e sim dar graças a Deus por estarmos empregadas e termos dinheiro para comer.
Lizzie achava a benevolência de Jane uma qualidade muito irritante às vezes.
- Eu sei Jane. Eu sou agradecida. Mas não acho pecado querer mais. Se pudéssemos estudar, melhorar de vida... Sem trabalhar só pra sobreviver. O tempo passa e a cada dia sinto meus sonhos escorrendo pelos dedos...
Ela não terminou de falar, sentiu a mão da irmã repousar em seu ombro e relaxou um pouco os músculos tensos.
- Às vezes sinto o mesmo. O que me consola é que estamos fazendo um bem tão grande em ajudar nossa família, que não vejo outra coisa no futuro que não seja alguma dádiva que a vida nos dará em retorno. - Jane sorriu brevemente dando dois tapinhas nas costas de Lizzie.
- Espero muito que você esteja certa. - Lizzie sorriu vago.
- Acho melhor você esperar enquanto trabalha.
Elas sorriram e desceram as escadas com pressa, dando graças por não haver trânsito, ao mesmo tempo em que isso nunca poderia soar como desculpa para um atraso.
- Certo, por favor, não dirija igual uma velhinha hoje. - Lizzie alfinetou a irmã que costumava seguir regras muito à risca.
- Não vou correr riscos por causa de uma inconsequente.
- Jane, você pode andar a 50 por hora tá bom? - Lizzie revirou os olhos, já prevendo que ela não teria coragem de ir mais rápido.
Pensou também que poderia ter aprendido a dirigir, mas nunca lhe veio vontade alguma de levar um treco mecânico daqueles por aí.
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ORGULHO E PRECONCEITO - SÉC. XXI
RomanceNa pequena cidade de Meryton, há cerca de duas horas de Londres, viviam Elizabeth Bennet e suas quatro irmãs. A vida era pacata, de cidadãos igualmente modestos e com alguns poucos sonhos realizados. Mas com a chegada da grande festa de aniversário...