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A viagem para Londres não fora tumultuada como Lizzie esperava. Não houve grande espera na estação de trem, e haviam muitas cadeiras vazias em seu vagão, deixando sua viagem mais confortável. 
Pensou que neste momento poderia estar viajando na companhia dos Darcy, não fosse o terrível incidente a dois dias atrás. Tocou sua pulseira, os berloques delicados pareciam insistentemente querer lembrá-la das três últimas semanas em Rosings.
Ergueu a cabeça quando finalmente enxergou a exuberante e cinza Capital que se alargava conforme se aproximavam. Seus prédios antigos misturados com o novo, como se a história se recusasse a abandonar Londres. 
Na estação, seus tios e sua irmã a aguardavam. Jane, ah querida Jane. Como ousava estar ainda mais linda? Seus cabelos batiam na cintura, com ondas delicadas naquela cor dourada que ressaltava suas maçãs do rosto naturalmente rosadas. Seu sorriso finalmente tinha alguma vida e seus olhos azuis eram celestiais. Ela estava superando, e a ideia de lhe contar sobre Charles caía cada vez mais por terra.
Não podia jogá-la no fundo do poço da qual ela conseguiu sair. Não podia ceifar o brilho que embora tímido, já se fazia notar no belo semblante de Jane.

- Lizzie! - a loira abriu um sorriso majestoso e correu ao encontro da irmã. 

- Irmã. Que saudade.

Lizzie jogou as malas no chão, rodeando os braços em Jane. Um abraço apertado, cheio de sentimento. 

- Sim, parecem anos e não meses.

- Tenho a mesma impressão. Você está tão maravilhosa Jane.

Jane segurou o rosto da irmã, avaliando rápido seu estado. Ela sem dúvida estava mais magra. Seus cuidados com a aparência também não eram dos melhores. Os cabelos de Lizzie estavam secos, embolados em um coque mal feito. O esmalte das unhas descascando, e como não estava usando nenhuma maquiagem, as olheiras eram marcadas e os lábios sem cor, ressecados.

- Queria dizer o mesmo de você irmã,  mas você parece muito abatida.

Lizzie desfez o sorriso, consciente de que não estava ligando para si mesma nos últimos dois dias. Roeu as unhas e não lavou muito menos penteou o cabelo, o prendendo de qualquer jeito. 

- Sobrinha, que prazer em te receber aqui.

A tia interveio no momento certo.

- Obrigada tia Martha. Tio Ed.

Lizzie recebeu o quase abraço, onde a pança do tio atrapalhava bastante. 

- Ficamos muito felizes com a sua presença Lizzie. - ele sorriu terno.

Lizzie projetou o melhor sorriso que conseguiu enquanto se dirigiam para o estacionamento. 

Se acomodaram no carro, mantendo sorrisos discretos ao invés de conversa. Lizzie queria olhar ao seu redor, gostava da movimentação intensa pelas ruas de Londres. Era contagiante ver que ninguém se intimidava pelo clima da cidade, vagando pelas ruas e sorrindo como se um belo dia de sol primaveril os abençoasse. 

- Está cansada? Pensei que podíamos fazer alguma coisa, mas se preferir ficar em casa...

Jane quebrou seu vislumbre, fazendo Lizzie acordar de suas observações pela janela do carro.

- Podemos sair um pouco. Mas em algum lugar que tenha cadeiras pois minha costa está me matando.

- Quando a velhice chega... - a loira riu tocando a mão da irmã.

- Sim. Minha coluna já tem noventa e quatro anos, uma cifose e um bico de papagaio.

Como era bom ter Lizzie por perto. Ela sempre tinha alguma gracinha, mesmo que no fundo de seu consciente estivesse submersa na água mais escura.

ORGULHO E PRECONCEITO - SÉC. XXIOnde histórias criam vida. Descubra agora