O caminho até o prédio

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Fiquei com vergonha, mas não tão intimidada como antes, e resolvi perguntar: “Mas porquê você não gosta de ficar em casa durante o dia?”. Dessa vez ele respondeu rapidamente: “Porque desde que minha mãe se foi, meu pai se tornou um alcoólatra, e eu não consigo mais ficar na mesma casa que ele”.

- Mas você tem irmãos? - Perguntei.

- Sim. Uma irmã de 5 anos, e um irmãozinho recém-nascido.

- E onde eles ficam? Seu pai que cuida de seus irmãos?

- Na verdade ele não cuida. Ele culpa meu irmão mais novo pela morte de minha mãe, e minha irmãzinha fica na creche até eu voltar para casa e pega-la.

- Sua mãe morreu no parto? - Perguntei, curiosa e me sentindo mal por ele.

- Sim. E meu irmão fica com minha avó, até eu ter condições de cuidar dele e levá-lo para casa.

- Então porque você não manda seu pai ir embora de casa e fica lá com seus irmãos? - Falei sem pensar, mas me senti envergonhada depois.

- Ele não sai. Está agressivo, da última vez que tentei conversar com ele, levei uma facada no braço.

Fiquei sem reação ao ver o corte no braço dele, e sem palavras também.

- Me desculpe por estar contando tudo isso a você, nem nos apresentamos. Meu nome é Jonathan, e o seu?

- Não se preocupe. Meu nome é Karoline.

- Nunca pensei que conheceria uma garota tão legal em um ônibus, dessa forma.

Rimos, e eu nem reparei que já havíamos chegado.

- Chegamos Karol, aqui que você vai ficar.

- Obrigado por vir comigo. Me desculpe por ter sido tão curiosa.

- Que nada. Foi bom desabafar com você, eu que agradeço. Será que nos veremos de novo?

Eu sorri, mas realmente não sabia se iria ver ele novamente.

- No sábado eu virei aqui de novo pela manhã, vou ter outro curso para fazer, talvez nos veremos.

- Tudo bem, talvez. Foi ótimo te conhecer, tchau linda.

- Tchau.

Nos despedimos com um aperto de mão, e eu subi para meu curso.

O garoto do ônibus Onde histórias criam vida. Descubra agora