Capítulo 1- Vivian

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Era cedo, o dia estava claro e o céu  tão limpo, com um azul apaixonante. Eu estava em um lugar lindo, parecia um parque. Mas eu estava sozinha, não tinha ninguém ali. A solidão estava presente.
Começo a andar em busca de um amigo, ou conhecido, alguém para quem eu possa perguntar o que está acontecendo. De repente tudo escurece e não consigo mais ver nada com clareza. Sinto uma mão fria pegar meu ombro e me chamar com um tom de voz alto.
- Vivian! Vivian! -Falou mexendo em meus ombros com certa delicadeza.

Levanto minha cabeça desesperadamente, percebo que é apenas um sonho e que quem me chamou foi Jonatas, meu professor de Filosofia. Por sorte ele é calmo e não me mandou para a diretoria. Apenas me alertou sobre dormir nas aulas e que eu poderia ser notificada se isso acontecesse novamente.

Era começo de ano e as aulas estavam a todo vapor na minha escola. Apenas uma semana de aula e os professores já estavam nos sobrecarregando de atividades e trabalhos. É de cansar qualquer um, até mesmo os 'nerds'. Eu não sou de dormir nas aulas, e isso só aconteceu porque tive que virar a noite fazendo os intermináveis exercícios de física que o professor passou no dia anterior. Walter, o professor de física, é um ótimo professor, mas passa exercícios de matar qualquer um. Por conta desses exercícios passei horas e horas na minha mesinha, calculando, pesquisando fórmulas e vendo vídeos para resolver mais rápido, tentei de tudo. Para ter uma idéia, comecei a resolver 19:30 , logo depois que jantei, e só consegui ir deitar na cama para dormir, as 2:20 da madrugada.

Bom, acabou que nem tivemos o tempo de física porque o professor teve que se ausentar. Ninguém veio substituí-lo, então usei o tempo pra tentar descansar mais. Acordei com o sino indicando que havia acabado a aula e que eu já poderia ir pra casa.
Como hoje era segunda, eu tinha combinado de ajudar meu pai na loja, ou seja, o horário de descanso que eu tanto almejava ia ter que esperar até a noite. Cheguei em casa, meu pai já estava lá, tomei meu banho, troquei de roupa e fui almoçar. Estávamos todos a mesa, eu, meus pais e meu irmão Vicente. Levantei antes de começar a comer para pegar suco na geladeira, então meu pai disse:
-Filha, não demora pra comer porque eu tenho que ir pra loja logo. E eu vou precisar que você fique lá enquanto eu vou resolver algumas coisas.

Peguei o suco, pus na mesa e comi o mais rápido que pude, tentando mastigar o suficiente pra conseguir engolir sem engasgar. Terminei de comer, tirei as coisas da mesa, escovei os dentes e fiquei esperando meu pai na sala. Estava calor, então eu estava de bermuda, com uma camisa manga com um tecido leve. Peguei meu celular e vi que ainda era 1:34, meu pai iria sair só as 1:50, então fui no meu quarto, coloquei minha bolsa da escola sobre a cama e peguei meu caderno, o meu bebê. Ali tem tudo de mim, tem tudo o que eu sou, o que eu sinto e o que eu penso. Tem o meu Eu interior, minha alma e tudo de mim escrito em cada pedaço de folha. É nele que eu encontro abrigo quando o mundo parece não fazer sentido e é nele que eu me afogo em meus sentimentos mais sinceros.

Já que eu ia ficar a tarde toda na loja com meu pai, que fosse pelo menos com meu bebê. Meu pai bate na porta e me chama.
- Vamos Vivian, te espero no carro.
- Já estou indo pai. - Disse pegando meu celular com uma mão e com o caderno em outra.

Fui ao quarto dos meus pais e minha mãe estava assistindo. Pedi sua benção, dei um beijo e disse tchau a ela. Entrei no carro. Pus meu fone de ouvido, tentando trazer a mente ideias sobre o que escrever, já que a tarde seria longa. Chegando na loja, me sentei na cadeira em que meu pai fica, ele disse que teria que sair e que talvez demoraria um pouco. Ele ia mexer com documentos, então iria demorar. Ele entrou no carro e então saiu. A cadeira em que eu estava, possibilitava a visão por meio de um corredor de mercadorias, tendo como vista final a avenida principal. Naquela tarde ninguém apareceu. O que foi sorte pra mim, já que sou péssima em agradar alguém quando se trata de vender coisas, literalmente, esse dom eu não herdei dos meus pais.

Fiquei horas escrevendo, acho que meu caderno nunca me sentiu escrever tanto em apenas um dia. Não senti o tempo passar, quando percebi, meu pai estava estacionando o carro na frente da loja.
- O que aconteceu? Por que o senhor voltou cedo? Não disse que ia demorar? - disse, meio surpresa
- Em que planeta você estava? Já são 18:10 Vivian. -Ele parecia cansado
- Ah, acho que acabei me desligando do mundo.
- Tudo bem, agora me ajuda a fechar as coisas para irmos pra casa logo, eu tô exausto.
- Tá pai.

Fechamos a loja. Quando chegamos em casa, fui às pressas pro banheiro, estava precisando de um banho gelado. Tomei meu banho, me enxuguei e vesti meu pijama, que eu amo, um moletom com desenho de um donut e uma calça moletom que é da mesma cor do donut. Não jantei. Estava morrendo de sono, muito cansada e sem fome.

Quando deitei, senti um alívio e não lembro de mais nada. Quando dou conta meu celular estava tocando. Pensei comigo mesma "Quem é o doido que tá me ligando uma hora dessas?". Peguei meu celular em cima da cômoda que fica ao lado da minha cama, e com os olhos ainda meio cerrados vi que na verdade era o despertador. Passou muito rápido, e eu dormi quase 11 horas e parecia mentira. Mas não, já era 5:50 e eu tinha que estar na escola às 7. Levantei contra minha vontade, mas não podia atrasar e nem me dar o luxo dos 5 minutinhos. Levantei, fui ao banheiro, lavei meu rosto para despertar e tentar tirar o sono. Tirei minha roupa e prendi meu cabelo em um coque alto.

Estava frio, molhar o cabelo logo cedo não me parecia uma boa opção. Entrei no box do banheiro e liguei o chuveiro. Pus o pé para confirmar a temperatura da água. Estava um pouco fria, do jeito que eu particularmente gosto. Fui entrando devagar embaixo do chuveiro, deixando aos poucos as partes do meu corpo serem molhadas. Tomei um banho bom, mas não demorado. Peguei minha toalha, enrolei-me nela e fui escovar os dentes. Saí do banheiro e fui vestir meu uniforme. Minha escola não cobra tanto a padronização do uniforme, eles exigem que você vá com no mínimo a camisa da escola. E eles também restringem o uso de algumas coisas, por exemplo, para as meninas não é permitido ir de short ou saia, para os meninos não é permitido ir de bermuda ou short de esporte. Outros detalhes exigiam certa conformidade entre os alunos, o uso de tênis por todos, calça jeans ou a da escola.

Pego minha blusa do uniforme que está passada e no cabide dentro do armário. Vejo que o dia está mais frio do que eu pensava. Estava pretendendo ir com o uniforme completo da escola, mas no frio que estava, ir com uma calça de tactel seria tolice. Peguei minha calça jeans que tinha uma cintura um pouco alta, pus a camisa por cima e coloquei meu ALL star, que ressaltando, já estava bem velhinho. Arrumei minha bolsa e pus os livros e cadernos necessários pras aulas do dia. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo não tão preso, o que deixava ele com um ar despojado. Eu não passava tanta maquiagem para ir a escola como a maioria das meninas da minha idade. Eu usava o suficiente pra tirar minha cara de sono eterno. Então passei o rímel, lápis e um batom fraco pra tirar um pouco da minha palidez nítida. Peguei minha bolsa e olhei meu celular, vi que estava no horário, dava tempo de tomar café, era 6:15. Fui pra cozinha, minha mãe já tinha feito meu café. Sentei na mesa, peguei um copo e pus meu café com leite. Esperei esfriar um pouco enquanto preparava dois sanduíches. Tomei meu café e guardei um dos sanduíches pra comer depois.



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