Capítulo 8- Vivian

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Ele se aproxima de mim. E quando vê lágrimas pelo meu rosto, me abraça. Ele nunca tinha me abraçado. Pera, vamos pensar né Vivian, ele te conheceu hoje. E o garoto já me vê assim, com a cara inchada e com soluço. Que cena linda de se ver. Bom, fato é que, ele me abraçou. E eu senti seu corpo no meu. E por instantes eu senti que não queria que parasse mais, algo dentro do meu eu gritava ao mundo um momento de 'pause', pena que não é possível.

As lágrimas continuam rolando por meu rosto. Eu sinto seu abraço ficar mais apertado e ele apóia sua cabeça em meu ombro. Depois de algum tempo, eu me afastei um pouco.
- Obrigada por se preocupar, eu acho. -Falei um pouco cabisbaixa.
- Mas eu nem te ajudei. Porque você ainda tá chorando. - Ele disse limpando as lágrimas do meu rosto.
- Mas nunca alguém se importou sabe... Ninguém nunca se preocupou em saber porque eu estou mal como hoje, e...
- Mas é que... -Ele disse me interrompendo.
- Calma, eu quase nunca falo isso. Deixa eu terminar, por favor. - Falei olhando nos olhos dele e pondo a mão sobre a sua.

Ele assentiu e eu continuei.
- Bom, ninguém nunca se preocupou assim comigo. Nunca se preocuparam em saber por que eu choro ou sequer fizeram isso que você acabou de fazer... Sabe, você apareceu hoje e já está fazendo coisas que ninguém nunca fez por mim.
- Vivian, eu apenas fiz o que eu achei certo. Bom, se eu estivesse mal, eu gostaria que alguém viesse falar comigo ou ao menos se preocupar.
- Eu só tenho medo que tudo se repita.
- Acabei pensando alto e ele ouviu.

-Repetir o que Vivian?
- Não é nada. -Falei tentando conter ainda mais o choro.
- Fala pra mim. - Ele puxou meu rosto, para que o seu olhar cruzasse com o meu. 

Por que que ele se preocupa comigo? Ele poderia simplesmente ignorar a minha existência como a maioria das pessoas faz e me deixar aqui sofrendo com as minhas dores. Mas não, ele quer me ajudar, mas eu tenho medo. Confesso que eu tenho medo. Medo dele fazer o que fizeram comigo há um tempo atrás, e medo de que se ele não for assim, tenho medo de estar o julgando por erros alheios. Porque é tanta confusão na minha vida???

- Vivian, fala pra mim. Eu só quero te ajudar. - Ele falou insistente.
- Sabe, é que... -Nessa hora minha fala foi interrompida.
- Gente, a aula já acabou. Vocês tem que voltar pra sala.
- Poxa Cauã, olha que triste. Não vou poder falar agora... -Falei em tom sarcástico, tentando abrir em meu rosto vestígios do que um dia foi meu sorriso.
- Engraçadinha. -Ele riu. - Não vai ficar assim não, ou você esqueceu de hoje a tarde gata? - Ele falou enquanto levantava, e acabou dando uma piscadinha pra mim.
- Tu é muito idiota mesmo Cauã. - E novamente, ele me fez rir.

Sabe, eu nem sequer recordo a última vez que eu ri assim... Ri com tanta intensidade, e tantas vezes em um dia. Mas eu não posso meter ele na minha vida, não posso. Mesmo sabendo que ele pode me ajudar, eu não quero meter ninguém nos meus problemas. Mas além de tudo, não quero que acabem comigo novamente.

Desci da arquibancada e ele foi conversando comigo até a sala.

- Você vai continuar aquela história hoje senhorita. Não pense que eu vou me esquecer, porque eu não vou, viu?!? Tenho ótima memória. - Ele disse isso enquanto caminhava de costas na minha frente, e pondo o dedo indicador ao lado do rosto.
- Sei não hein... Vou pensar no seu caso. - Eu disse.
- Ah qual é Vivian? Tu não vai mesmo falar? - Ele falou já normal. Pera, ele é normal. Só que em 99,9% do tempo ele é bem doido.
- Desculpa, é que eu não consigo mesmo. - Abaixei a cabeça e me segurei para não deixar as lágrimas caírem pelo meu rosto novamente. Nesse momento ele só falou baixo o que eu entendi como um "Entendi".

Chegamos na sala, era o intervalo e eu percebi que ele estava lendo o bilhete que eu havia deixado. Corei ao notar que ele sorriu pra mim ao terminar de ler.
Me virei, peguei meu sanduíche que estava na bolsa. E ao girar, aproximadamente 180°, dou de cara com o Cauã a minha frente. Ele ainda está suado, com o cabelo menos bagunçado, e o cheiro de desodorante é nítido. A sua bolsa estava apoiada em somente um ombro. Ele acabou interrompendo o silêncio.
- Será que teria um lugar pra um jovem rapaz debutante? -Falou em tom humorístico
- Oh sim. Nós temos esta linda carteira disponível -Apontei com as mãos para a cadeira logo atrás da minha. -Ela é confortável e possui de cortesia a companhia de uma simpática moça que senta logo a frente.
- E quem seria esta simpática moça? Eu a conheço?
- Ela se chama Vivian. -Eu disse
- Ah, então eu vou embora. Essa Vivian é aquela nerd chata que nem quer falar comigo. Tô fora. -Ele fez como que fosse sair, mas eu dei um tapa não tão forte em suas costas e ele voltou.
- O que foi?
- É sério que tu acha isso de mim?
- Acho. Por que?
- Nada não. Só pensei que você tinha uma impressão diferente de mim. - Desviei dele e sai em direção a porta da sala.

Antes que eu consiguisse sair, ele me segurou pelo braço.
- Ei, eu tava brincando. - Por instinto eu tentei remover meus braços da mão forte dele. Foi em vão. Ele apertou um pouco mais e disse
- Você vai mesmo ficar assim agora por causa de uma brincadeira?
- Me solta.
- Não vou soltar até você dizer que entendeu que foi uma brincadeira.
- Eu entendo que foi a brincadeira, agora me solta. Fiquei aliviada ao sentir sua mão largar meu braço. Mas aí veio uma coisa que eu não esperava, ele me abraçou. Seu corpo grande e musculoso estava delicado atrelado ao meu, em o que chamam abraço de urso.
- Desculpa mesmo.
- Tá bom.- Ele me soltou e me imitou
- Tá bom.
- Além de palhaço ainda é papagaio.
- Quer dizer que eu sou palhaço? Ok dona Vivian, OKAY.
- Ele ficou chateadinho ele. - Eu ri
- Besta. - O sorriso dele é de longe a droga mais louca que eu poderia me viciar e olha só, eu viciei.







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