Peguei minha bolsa, meu celular e o fone de ouvido. Quando abri a porta, senti o frio que a chuva trouxe ainda tão cedo. Fechei a porta, corri no meu quarto e peguei um casaco preto no meu armário. Sai, quando fechei a porta e olhei meu relógio, era 6:28 e o ônibus passaria em 2 minutos. Apressei o passo e cheguei segundos antes do ônibus chegar na parada.Entrei, e como sempre, não tinha ninguém que eu conhecesse. Na verdade, não sei porque ainda procuro por rostos familiares, já que meu único amigo de verdade é um caderno com o qual passo tudo o que sinto. Desloquei-me pro fundo do ônibus, e me sentei no lugar de sempre, o da janela. Vi que o ônibus parou em um lugar diferente, eu sei todas as paradas que o ônibus para, porque já gravei os rostos das pessoas, que são sempre as mesmas.
Não liguei, devia ser alguém não tão importante. Então voltei ao meu caderno e fiquei ali no meu mundo escutando Shawn Mendes. Começo a escrever, e percebo que se aproxima de mim uma silhueta que aparenta ser masculina. Não dou muita bola e continuo a escrever. Levanto o olhar e me deparo com um garoto que usava o mesmo uniforme. Antes que eu pudesse notar seus detalhes ele senta do outro lado do ônibus, põe o capuz e percebo que ele também está escutando música. Volto a escutar minhas músicas, que por sinal agora já mudou. Começa a chover muito forte e o lado em que o garoto está começa a molhar e pro azar dele, a janela tá emperrada. Estava observando ele de canto de olho, noto que ele levanta, e quando vai sentar alguns bancos mais próximo de mim, o motorista passa muito rápido por um buraco o que faz ele cair sobre mim e derrubar meu caderno. Na hora eu pirei, pensei no meu caderno molhado, estragado, manchado. Levantei e disse:
- O que você tem na cabeça?
- Garota, se toca, foi um acidente.
- Aí meu Deus, meu caderno. Olha o que você fez. -Senti uma lágrima rolar em meu rosto.
- Sério, desculpa. Mas eu não tive culpa. Ia trocar de cadeira quando o motorista passou pelo buraco. - pegou o caderno que ainda estava no chão e me entregou.
Senti um alívio tão grande de ao ver que ele estava sequinho e intacto. Fiquei mal pelo modo que falei com o garoto e me desculpei
- Ai desculpa. Eu fiquei irritada e acabei falando de forma arrogante com você. Desculpa mesmo.
- Não tem problema. Só estranhei tanto carinho por um simples caderno.
- Mas não é um simples caderno. É um caderno...Antes que eu terminasse de falar ele sorri e eu acabo perdendo minha linha de raciocínio. Que sorriso perfeito. Tem um leve ar de frescor. Mas fico sem entender o porquê de ele estar rindo.
-Por que você tá rindo? -Pergunto a ele
- Nós perdemos a nossa parada. Já passou duas depois da escola.Descemos na parada seguinte. Não era tão longe, mas não chegaríamos no horário, o que me causaria outra advertência verbal. Enquanto caminhávmos, ele retorna ao assunto
- Então, você é muito apegada àquele caderno né?
- Sim, muito mesmo. Ele é meu único amigo então eu não largo ele por nada.
- Pera aí. -Ele para na minha frente. - Você não tem amigos? Como assim?
- Eu não socializo muito, então aqui estou eu. A menina que todos chamam de 'A nerdizinha e o seu diário da barbie'.
- Gostei do apelido. - E de novo ele abre aquele sorriso que me fez arrepiar instantes antes, e agora de novo.
- Bom, você nem se apresentou. Vou começar então. Me chamo Vivian, tenho 15 anos e só.
- Eu sou o Richard Cauã, mas as pessoas me chamam mais de Cauã. Sou debutante também.Chegamos na escola e haviam passado 7 minutos do início da aula. Me separo do Cauã e entro na minha sala. Era aula do professor Walter e ele estava recolhendo os exercícios. Sentei na minha cadeira, a primeira cadeira de uma das fileiras. Entrego meus exercícios a ele, que corrige uma a uma e anota algumas falhas simbólicas. É de se esperar, já que fiz com tanto cansaço.
- Muito bem Vivian, você foi uma das poucas que entregou todos os exercícios. Parabéns.
- Obrigada professor, mas é mais que minha obrigação entregar não é mesmo?!?
- Sim, claro. Fiz algumas anotações em questões isoladas, mas fora isso, me parece que você está dominando o assunto.
- Eu tento né. Falo pegando meu caderno e indo em direção a minha cadeira.Começo a rever os erros cometidos enquanto o professor corrige outros exercícios dos demais alunos. De repente, alguém entra na sala. Era a diretora Marta, ela até que é bem simpática, na maior parte do tempo está de bom humor e é ótima como nossa diretora, mas não tão boa como nossa professora de geografia. Ela entra e sinto ela passar ao meu lado com pisadas fortes e marcadas e com passos longos. Foi em direção ao professor e vi ela dizer algo baixo perto dele, logo depois, ajeita sua saia e diz:
- Atenção todos. Prestem atenção. Eu tenho um aviso a dar. - Disse em tom autoritário.Todos pararam o que faziam e olharam para ela.
- Estamos caminhando para a semana de provas.
Nessa hora pode-se ouvir os murmúrios de alguns alunos.
- Silêncio, e mais respeito. Bom, como eu dizia, estamos caminhando para a semana de provas. Mas por motivos de força maior eu adiarei por uma semana. Nessa hora meu coração deu um alívio, eu já estava estudando tanto, e com essa notícia teria mas tempo para me preparar.
- Ainda não acabei. Achei justo fazer isso porque recebemos hoje um aluno novo, e seria muito complicado pegar tantas matérias se as provas fossem na semana que vem. - Ela vai até a porta e faz um gesto de pode entrar.
Não olhei para ele, estava focada nos meus exercícios e acabei nem olhando pro novo aluno.- Bom alunos, esse é o mais novo aluno. Espero que ajudem ele a se adaptar. Ele pode se apresentar não é?
-Sim, claro. Bom, eu me chamo Richard Cauã. -Quando ele disse seu nome eu reconheci a voz e olhei pra trás, ele me olhou e continuou
- Bom, e eu sou debutante. -Todos riram, até o professor.Nessa hora eu sorri, senti o olhar dele, relembrando da nossa conversa um tempo antes. A diretora o interrompeu e falou:
- Bom, espero que seja bem recebido por todos. Aquele é o professor Walter, ele leciona física, qualquer dúvida ele pode lhe esclarecer. De restante, bons estudos. - Ela sai fechando a porta, percebo que Cauã fica perto da porta por alguns instantes notando os olhares curiosos em sua direção.Acho que ele estava procurando uma cadeira. Baixei minha cabeça na esperança de ele sentar perto de mim, afinal a cadeira logo atrás da minha estava vaga. Porém, vi que ele mudou seu trajeto, pois um dos meninos o chamou:
- E aí Richard, senta aqui com a gente cara. -Esse era Gustavo Benech, o capitão do time de futebol.
Haviam panelinhas na sala, dos nerds, dos festeiros/populares e dos jogadores de futebol. Eu estava no grupo dos nerds, mesmo não me considerando uma.
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Sentimentos Guardados
Teen FictionTodos parecem viver sua vida comum. Mas Vivian é tão diferente. Não tem amigos de verdade, a não ser seu incrível e inseparável caderno. Caderno este que guarda todos os sentimentos e pensamentos de uma jovem. Tudo parece rotineiro até a chegada de...