IX

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Não é possível. Só posso estar sonhando. Como é possível ele as conhecer? Não me recordo de ter mencionado seus nomes em momento algum.

— O que? — pergunto, ao mesmo tempo em que me espanto— onde ouviu esses nomes?

— Ah, esquece... você não entenderia. — Ele responde, desviando o olhar.

— Victor... Como você as conhece? — Insisto.

— Olha, você vai me achar louco se eu te contar. Mas eu não sou. Eu não sou louco, e estou certo disso, essas duas mulheres me mandam sinais há dias. Eu ouço suas vozes, sinto suas respirações próximas a mim e tenho sonhos em que as encontro. É coisa de louco, entende? Mesmo sem ver seus rostos, eu sinto que as conheceria se as visse. Alexia, não me importo com o que pensa de mim, mas eu te garanto uma coisa: há poucos momentos na vida em que eu decifro algum enigma. E esse é um deles. Você vê isso? Esses amuletos estão flutuando! Seja sincera... O que você acha que isso é?

— Eu acho que é magia. — respondo, cruzando os braços— E que não sabemos quem a fez, por isso devemos ignorar e seguir em frente.

— Alexia... —ele diz, se aproximando de mim e segurando em meu braço— eu sinto que são elas. E eu sei que você também sente isso. Vamos lá, do que tem medo?

— Talvez você tenha problemas auditivos, por isso eu vou repetir mais uma vez. É MAGIA! Magia desconhecida. Quem garante que não é uma armadilha?

— E quem garante que é?

Suspiro, montando em Bubbles.

— Olha, eu tenho um amigo. O nome dele é Audrey. Há umas semanas, logo depois de decidirmos pegar o livro de Garth, ele iniciou essa conversa, falando que duas gêmeas de sobrenome Hartje haviam se comunicado com ele através de um sonho. Ele passou a nos falar isso constantemente, e elas sempre traziam o mesmo recado. Mas é óbvio que achamos que Audrey estava apenas cansado. Achamos que ele estava ficando louco. Ele dizia que deveríamos entregar o livro a elas, pois elas saberiam o que fazer.

— Alexia! — Ele diz, aumentando o tom de voz como resultado de sua empolgação— você sabe o que isso significa? Oh céus! —Ele continua movimentando suas mãos e olhando para cima em um ato de descrença— Como não acreditaram nele?!

— Eu não sei, ele não falava nada sobre elas, só sabíamos seus sobrenomes e o que queriam, se quer sabíamos como ir até elas! — Me defendo.

— Vocês cometeram um equívoco terrível em ter ignorado isso.

— Mas ele não sabe que ignoramos. Então não perdemos nada.

— Ele não sabe, mas as irmãs certamente sabem.

— Olha, não pode nos culpar. Elas estavam querendo o livro, acha mesmo que daríamos um livro cujo arriscamos nossas vidas nas mãos de duas desconhecidas?

— Vocês deveriam confiar no garoto. Ele estava falando a verdade. Bom, agora você sabe que elas são reais. E sabe que deve fazer isso. Elas são a nossa única chance, sabe disso, não é?

— Então ele não estava delirando. — Digo, enquanto sinto um imenso remorso dentro de mim.

— Ei, não faça isso. Por Deus, não temos tempo para tanto drama, temos que seguir esses amuletos e ver onde vão nos levar.

— Você acha mesmo que eu irei levar um desconhecido comigo?

— Vamos lá, se disser que não gostou de mim estará mentindo. — Ele diz sorrindo, entretanto é claro que aquilo não me convence.

— Continua sendo um desconhecido.

— Alexia, pense bem. Você tem uma metade de um amuleto, e eu tenho a outra metade. Nos encontramos por um acaso do destino. — Ele diz, dando ênfase nas últimas palavras de forma a dar impacto em sua fala— E então descobrimos que quando estão próximos os dois brilham juntos e nesse exato momento eles querem nos guiar para algo. Vamos lá, isso não te cheira a aventura? —Insiste, entusiasmado.

Para falar a verdade, cheira sim. E se elas forem mesmo as bruxas, podem me levar até meus amigos, certo? Certo.

— Tudo bem, você ganhou. Vamos descobrir para onde esse amuleto irá nos levar, mas após isso eu quero que você desapareça, ok? Eu tenho de encontrar meus amigos para darmos continuidade a nossa missão, que a propósito, é muito mais importante do que isso. Então cada qual segue seu caminho. É mais prático.

— Feito. — Ele diz, estendendo seu braço. Faço o mesmo, iniciando um aperto de mãos. Então o puxo, o fazendo subir em Bubbles ficando logo atrás de mim.

Os amuletos permanecem a nos guiar rumo a um vasto caminho pelo bosque, quase que indo até os limites da aldeia. Ao fim da tarde, quase que escurecendo, já nos encontramos além da floresta, observando uma área isolada da aldeia que nunca havíamos visto antes, onde existe apenas uma única moradia. Os cantos dos pássaros nos recebem, e a ventania sopra uma extraordinária brisa em meu rosto, fazendo com que eu sorria imediatamente.

Ao chegarmos lá, vemos os dois artefatos já trêmulos indo em direção da moradia, quase que perdendo o brilho por total.

— Victor, acho que chegamos. — Digo, observando os amuletos.

— Para ser honesto, eu achei que seria mais duradouro. —Ele diz, descendo do cavalo e me auxiliando estendendo suas mãos para que eu faça o mesmo. — Obrigada pela viagem... ahn...

Ele não fala. Fica a pensar sobre o nome do cavalo enquanto põe a mão no queixo.

— Bubbles. —Digo.

— Credo, que nome feio. — Ele diz, fazendo uma espécie de careta.

— Cale a boca. Feio é essa sua cara. — Respondo, defendendo a honra de meu cavalo ao mesmo tempo que o acaricio, demonstrando o carinho que carrego no peito por ele.

— Eu mal te conheci e já conclui uma coisa: você é uma pessoa terrível. Seu coração tem tanto ódio assim ou é apenas uma armadura?

— Você não me conhece. É apenas um menino esquisito que está o tempo inteiro no meu pé que nem um carrapato, e que sabe perfeitamente como ser irritante.

— Ah vamos lá, já tem quase um dia que nos conhecemos, podemos fazer melhor que isso.

— Victor... —digo, o interrompendo— você acha que são elas?

— Eu gostaria de saber a resposta. — Ele diz, mantendo seus olhos fixos na mesma direção que eu. Ambos permanecemos confusos aguardando o final da trajetória dos objetos.

Amaldiçoada - A Jornada Maldita VOL. IWhere stories live. Discover now