VI

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Logo o sol dá seus primeiros indícios de vida, porém o castelo permanece em silêncio. Ainda é madrugada. Então me levanto, olho para o lado e vejo que a passagem está livre. Sinto que é agora ou nunca, e em um movimento delicado me direciono até os corredores do castelo novamente, exatamente onde estive com Joseph há algumas horas. Meus passos são lentos e calculados, ainda sim meu coração acelera quando sinto alguém tocando em meu braço.

— Bu!

Gelada, respiro fundo e olho para trás, me deparando com uma Aimeé encapuzada e estrategista. Então o nervosismo se vai e meu coração volta a bater em ritmo normal.

— Que susto você me deu! — Sussurro, controlando meu riso frustrado.

— O que está fazendo? — Ela sussurra de volta.

— Eu pergunto o mesmo.

— Se a resposta é: Indo pegar o livro, saiba que estou com você.

— Não... Você não pode. É perigoso!

— Perigoso é você ir sozinha. Eu tenho magia, já você...

— É, você tem razão. —digo, assentindo com a cabeça e pondo a mão no queixo, reflexiva— Pensando bem, você é a pessoa perfeita para isso. Então, sabe onde o livro está?

— Sei. Me segue. — Ela responde, piscando rapidamente e segurando em sua pequena tocha capaz de clarear pequenos locais do castelo agora escuro, indo em direção a uma parte do castelo que posteriormente se revela um salão. Um enorme salão, completamente vazio.

— Aimeé, não tem nada aqui.

Ela sorri e vai até a parede, abrindo os braços. Ao mesmo movimento que ela faz, abrem-se duas portas onde antes era a parede, e o que tinha por trás dela era surpreendente.

— Desculpe, o que disse? — Ela ri e anda calmamente até o local, que nada mais era do que um depósito de livros secreto. Entro juntamente com ela, observando as inúmeras pilhas de livros sob o chão e prateleiras. Quando vou começar a procura-lo, ela o tira de minha mão e direciona seu polegar até as prateleiras, olhando fixamente para elas. De algum local daquele imenso lugar, observo um livro levitando e indo até ela. Genial. Ela põe o livro em minhas mãos e fecha tudo, deixando a parede em seu devido lugar. — Não pensei que fosse ser tão fácil. — Ela suspira. Vou caminhando até a saída do salão, quando ouço uma voz grossa gritar algo.

Olho para trás e vejo Aimeé jogar um guarda no chão.

Ela me olha rapidamente e murmura para que eu corra, enquanto prepara sua mão esquerda para jogar algum feitiço nos outros.
Então eu corro, desviando de todos os guardas e enfim conseguindo ir até a saída do castelo.

Ao chegar lá, vou até o estábulo e monto em Bubbles, em seguida olho para trás novamente e me deparo com um Garth furioso em uma das janelas da torre, gritando com seu próprio exército.

— ESQUEÇAM ELES! EU QUERO MEU LIVRO! PEGUEM A GAROTA! — Ele exclama, apontando seu dedo em minha direção. Olho para os lados e vejo todos os meus amigos correndo em direções contrárias, alguns montados em nossos cavalos, e outros simplesmente usando os próprios pés. Eles me falam algo, talvez fosse pedindo que eu siga em direção do bosque. Tudo o que consigo entender, ou que acredito ter entendido é "para o bosque".

Sim! É lá onde os encontrarei.

Eu não costumo ser muito rápida com minhas pernas, no entanto meu subconsciente grita em busca de avisar-me que no exato momento é mais do que preciso. Então eu corro loucamente como se fosse a presa de um animal faminto, procurando não se preocupar com o céu parcialmente nublado e com a visão extremamente intimidadora que é notória naquele bosque. Acabo de cometer um terrível erro. Levada pelo desespero de ter meus pecados e meus pensamentos explícitos em forma de fera, acabei por roubar seu livro tão estimado. Ainda por cima antes do tempo. Estraguei o plano que há meses bolamos, e provavelmente consegui fazer com que Joseph me odiasse de verdade. Sim, é verdade que eu consegui fugir a tempo de não ser pega e executada covardemente, no entanto não posso conter o temor percorrendo minha espinha ao me tocar que estou sendo perseguida.

Eu posso tropeçar. Posso cair e até mesmo sair daqui com a vida escapando por um fio. Mas eu não vou largar esse maldito livro. Não vou largar por nada.

Penso, enquanto sinto parte de meu cabelo atrapalhando minha visão. Dou-me ao luxo de se distrair por míseros segundos, deixando que Bubbles me guie ao invés de ser o contrário. Observando de forma otimista, os cavaleiros de Garth já não me veem mais.

Agora em uma percepção realista: Estou perdida.

Rolo meus olhos pelo local, em busca de um abrigo, mas tudo o que encontro é uma caverna, quase igual à que abrigou eu e meus amigos há alguns dias. O desespero me invade, não penso duas vezes e corro, entrando na mesma e evitando até mesmo respirar para não chamar atenções desnecessárias para o momento. Jogo o livro no chão e ponho minha bolsa por cima de uma pedra presente no local, tirando de lá um pote de água e descendo-o goela a baixo de forma desesperadora, como se precisasse daquilo por muito tempo e só naquele momento estivesse com a oportunidade de o ter em mãos. Com extrema cautela, após respirar fundo, não me aguento em curiosidade a acabo por abrir o livro, ouvindo um barulho de algo que parece vir do fundo da caverna e que ameaça se aproximar aos poucos. No entanto, com muita atenção, foco meus olhos ao mesmo, não acreditando na visão que me é apresentada. Páginas em branco.

Amaldiçoada - A Jornada Maldita VOL. IWhere stories live. Discover now