XIII

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Ao deitar em minha cama, logo sou pega pelo sono. No entanto, ao sonhar tenho uma surpresa nada agradável. É sobre minha mãe. Novamente, sendo morta por uma besta enquanto eu assisto a tudo sem poder fazer nada, permitindo que sua carne seja dilacerada diante de meus próprios olhos. É assustador. Reviro por inúmeras vezes em minha cama, me queixando de dores em meu corpo, e quando enfim consigo paz, volto a dormir.

O dia seguinte é regado de lembranças da noite passada. Ao abrir meus olhos já fixados para o teto, suspiro. Levanto da cama indo em direção da sala, onde encontro Normani preparando o café da manhã.

— Bom dia! —digo, sentando na cadeira mais próxima da mesa— você precisa de ajuda?

— Oh, não se preocupe! Eu estou bem. — Ela responde, andando em direções contrárias, como se procurasse algo. Parece perdida.

— Mani, eu acho que você precisa sim. —Insisto, soltando uma gargalhada e caminhando em sua direção— você se quer começou a cozinhar!

— Tudo bem, eu admito. Não sei fazer isso. — Ela diz em meio a um suspiro, sentando na cadeira com um ar derrotado— Nunca cozinhamos antes, sempre usávamos magia. Mas queríamos nos certificar de que você e Victor tivessem um café da manhã caprichado. Bem, não deu muito certo...

— Mani, não precisa! Olha, agradeço muito, você é uma fofa. Mas realmente não precisa. Acho muito bonito você ter se esforçado para tentar, de verdade.

Ela sorri.

— Então... vai fazer seu próprio café?

— Não, obrigada. Estou sem fome.

No mesmo momento, Felicité surge abrindo a porta com Victor em seu lado. Ela está o apoiando através de seu ombro, porém nota—se que o peso dele está sendo demais para ela. Percebendo isso, vou até ela, me oferecendo para carrega-lo, o levando até o quarto e o deitando na cama.

Normani fecha a porta e segue Felicité, indo em nossa direção.

— Ele está bem? — pergunto, ao mesmo tempo em que ponho um pano molhado sob sua testa.

— Infelizmente para você. — Ele responde. Ouço seu tom de voz ainda fraca e observo seus lábios rachados que se distanciam em função de formar um breve sorriso. Ao retribuir o mesmo, ergo minha mão objetivando pegar um copo de água deixado em cima de um móvel, levando minhas mãos por trás de sua cabeça o fazendo inclinar-se um pouco para frente, permitindo assim que ele possa beber um pouco do líquido. — Não se preocupe, é normal. Passei muitas horas transformado. Estarei bem rapidamente.

— Alex... —diz Felicité— aqui está o amuleto. Está pronto para ser usado.

— Obrigada. —Digo, o pegando. Observo Victor e me direciono em sua posição, pondo o colar em seu pescoço— Tome. É seu.

— Não, é seu também. Você usa de dia e eu de noite. Está tudo certo.

— Victor, você precisa mais do que eu. Na verdade, eu nem preciso tanto assim. Já você... pegue, tome isto como um presente meu.—Insisto, sorrindo e já me posicionando antes que o mesmo se oponha a argumentar— Eu estou sendo legal com você, então não estrague tudo.

Ele ri.

— Está bem. Só não irei contestar pois sei que isso não acontecerá novamente.

— E não irá mesmo. — Digo, me levantando.

— Alex, se não se importa, pode vir me ajudar a guardar as porções em sacolas para levarmos? Felicité fica com Victor. — Diz Normani.

Após assentir com a cabeça, sigo ela até um quarto, onde me deparo com imagens paradisíacas que arrancam brilhos dos meus olhos. Ao redor de todo o local existem belíssimas prateleiras. Mas não são prateleiras qualquer. Elas contêm inúmeras porções que variam desde o uso medicinal até a tradicional prática da magia. Há nelas diversas cores que variam desde as mais claras até as mais escuras. Ela observa meu encantamento e se opõe rapidamente a puxar assunto, de forma que me tire um pouco da hipnose na qual me encontro no momento.

— Como foi sua noite, Alex? — Ela pergunta, logo que põe uma grande sacola preta em cima da cama e começa a retirar cuidadosamente os frascos os colocando lá dentro.

— Péssima. E a sua?

— Nada de surpreendente. Mas e quanto a você, quer conversar sobre isso?

— Bem...

— Sabe que eu estarei disposta a ajudar, não sabe?

— Claro que sei. Para ser sincera, o problema mesmo é que eu não consigo explicar. É que eu não sei o que é que me faz sonhar com isso. Não faz o menor sentido. É apenas... minha mãe. Sendo assassinada por uma besta. Várias e várias vezes.

— Deve ser torturante.

— Você não faz ideia. O pior é que a cena nunca muda. Até mesmo a forma como eles definham sua carne é a mesma

— Você já buscou tentar entender o que o sonho transmite?

— Não. Mas o que me intriga é que foi exatamente assim que ela foi morta. A única diferença é que no sonho ela... ela é minha mãe, entende? Ela é humana. É doce, bonita. E não o monstro no qual Garth a transformou. Eu não entendo a razão pela qual o meu cérebro insiste em me trazer essa recordação. — digo, na tentativa de enxugar as lágrimas já caídas em meu rosto.

— Alex, nós vamos encontrar uma solução para isso. Eu te prometo. Se me permite desviar um pouco o assunto, achei que precisava saber disso. Os seus amigos já estão no local combinado.

— Sério? — Então, de repente toda a minha dor parece sumir e um sorriso enorme brota em minha face— onde eles estão? Vamos até lá!

— Nós iremos. É por isso que estamos aqui. Não podemos deixar de levar nossas porções conosco. Podemos precisar delas, entende?

— Eu entendo perfeitamente —digo, assentindo com a cabeça ao mesmo tempo que permaneço a ajudando— mas como irão levar tudo isso em uma sacola? Quero dizer... não são de vidro?

— Sim, são. — Ela responde ao soltar uma gargalhada, pondo as últimas porções lá dentro e assim que finalmente esvazia as prateleiras abre a boca da sacola e leva sua mão esquerda sob a mesma, fazendo movimentos circulares com a mesma, de onde observo sair pequenos fiapos de magia— estão protegidos. Não há como eles quebrarem agora.

— Incrível. — digo, maravilhada.

— Felicité! Está na hora! — Mani grita, indo até a porta.

A irmã então surge rapidamente surge com Victor de seu lado, que nem está de pé e nem está caindo. Mas está firme sob o chão.

— Está pronta? — Ela pergunta para mim.

— Bem, se é a única forma de encontrar os meus amigos... — Respondo inquieta.

Em um movimento precipitado, acabo por ouvir um som de cavalgadas. Olho para os demais, que demonstram também ter escutado. A medida que o barulho se aproxima, nos aprontamos e rapidamente saímos de casa. Victor e Normani montam em um cavalo, que provavelmente é delas.

Felicité senta logo atrás de mim, que monto em Bubbles. Ela segura a sacola com as porções enquanto Victor segura o livro. Quando finalmente avistamos os donos das galopadas, nos assustamos. São eles. Os cavaleiros de Garth, que se aproximam de nós deforma frenética. É quando Felicité tem a ideia de descer de Bubbles e os jogar contra o chão. No entanto, esse ato arriscado faz com que os poucos ilesos consigam fugir, possivelmente voltando em direção do castelo.

Então ela corre até um deles e tira sua capa, voltando rapidamente até mim. Montando rapidamente no animal, ela abre um sorriso enquanto, de forma divertida comemora a vitoria ao simular a vestimenta da capa da cavalaria real em si mesma, ao mesmo tempo em que acompanhamos Normani, cavalgando logo atrás dela.

Amaldiçoada - A Jornada Maldita VOL. IWhere stories live. Discover now