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O cansaço nas pernas devido às longas horas de caminhada, me fazia querer deitar no meio das folhas e plantas e tirar um cochilo.
Meus pais sabiam que eu não gostava de fazer trilhas ou simplesmente sair de casa, como qualquer jovem de 19 anos eu fico em casa ou saio para festas, coisa que não agrada meus pais de jeito nenhum e talvez tenha sido esse um dos motivos a qual me obrigaram a estar naquela floresta.

-Como já está escuro e andamos devagar demais, vamos ter que acampar aqui, faltam ainda 5 quilômetros para chegarmos na cabana. -falou meu pai, homem de 47 anos com cabelos grisalhos e barba feita. Advogado bem sucedido que faz de tudo para que a mídia ache que somos uma "Família feliz". Não éramos infelizes, porém não tínhamos a melhor das relações já que eu só atendia as vontades de meus pais e era do jeito que eles queriam, uma boa moça que sabe ser educada e é quieta.

-Vamos Sophia. -minha mãe reclama pois estou parada apenas olhando eles. Minha mãe não é muito diferente de meu pai, porém seus cabelos eram jovens e saudáveis, formada em artes, trabalhava em uma universidade.

-Estou indo Mãe. -sem animação começo a montar a minha barraca, me livrando do peso em minhas costas.
Ao contrário dos meus pais fui mais rápida em montar, já que tinha visto um vídeo sobre.

Jogo o saco de dormir azul marinho ali dentro. Minha barraca está um pouco longe da deles. Pouco mais que 7 metros.

Fecho o zíper impedindo de mosquitos entrarem. Pego meu celular. Não tem sinal mas eu tenho jogos que me fazem passar o tempo.
Antes coloquei na câmera. Meus cabelos castanhos grandes estavam bagunçados e cheios, meus olhos puxados pareciam ainda menores e minha boca estava seca.
Amarro meu cabelo em um coque alto e passo um gloss.

-Sophia abra aqui. -a voz de minha mãe é escutada.

Escondo meu celular na mochila e abro o zíper.

-Sim mãe? -perguntei mostrando que eu estava com sono para que ela fosse embora.

-Venha comer, não quero que você fique gorda mas não quero uma anorexa. -ela fala e novamente meu peito se enche de raiva. Ela simplesmente apenas queria um rostinho bonito para mostrar para as pessoas e dizer que eu era sua filha, isso me incomodava, eu já tinha reclamado diversas vezes mas nada adiantava obviamente.

-Eu estou com sono, e tenho comida e água aqui, obrigada mesmo assim mãe. -falo em um tom baixo tentando ao máximo não mostrar minha inquietude.

Ela assentiu e foi embora, e eu novamente fecho o zíper, não querendo mais ver a cara de nenhum dos dois por aquela noite.

Volto a mexer no celular, mas ele trava e é aí que eu explodo. Jogo o celular nas paredes da barraca que bate e volta para o mesmo lugar. Não aceito pagar caro nele e ele travar. Sim, eu, com minha mesada.

Pego o celular, está na tela uma foto de minha galeria, uma mulher vestida de preto, da cabeça aos pés, suas asas negras quase invisíveis, suas mãos juntas mostrando a timidez mas sua cabeça baixa esconde um sorriso de satisfação, agonia, maldade. Feições que muitos escondem mas poucos dominam.

Muitos me chamariam de bipolar se soubessem de meus pensamentos, mas eu não era aquela garota que todos viam e gostavam, então isso não é bipolaridade.

Balancei a cabeça afastando esses pensamentos deprimentes. Tirei minha calça jeans e minha blusa térmica. Ficando apenas com minha lingerie preta.

Preto é uma cor que eu gosto bastante, mas "não era adequado para uma moça".
Peguei de minha mochila uma blusa masculina preta tamanho G que comprei para usar como vestido/pijama.

Me senti desconfortável me trocando ali. Mesmo que a barraca me cubra. Parecia estar exposta a mata.
Entrei dentro do saco de dormir, e em minutos estava dormindo, em um sono sem sonhos.

-

O sol ainda não tinha nascido e eu já estava acordada, sem saber o que fazer, coloco meu tênis e saio de dentro da barraca.
O clima estava frio, parecia que ainda era noite para 05:15 da manhã. Nunca tinha ido em uma floresta, nunca tinha saído de Seul na verdade.

Vi um caminho que parecia ser continuação da trilha em que estávamos. Puxo mais as mangas de minha blusa e sigo naquela direção. É só eu ir reto que não me perco, vou em uma direção que seria impossível de me perder.

Andei por poucos minutos, observando as árvores balançarem com o vento frio. Olhei para trás, árvores, sem trilhas ou marca de pegadas, uma árvore estava no mesmo lugar em que eu pisei segundos atrás.

Volto dando passos na direção contrária de onde eu estava indo. Andei pelo dobro do tempo em que fui. Às vezes saia do caminho por uma árvore ou outra estar na frente. Meu coração agora acelerado, estava com medo, desesperada.
O bolo em minha garganta apertando, a vontade de chorar aumentando.
Vejo um espaço vazio, corro em direção a ele.

Uma onda de alívio percorre em mim ao ver as barracas. O sol já estava nascendo, cheguei no lugar, a barraca de meus pais estava aberta.
Fui lá e não tinha ninguém. Suas coisas estavam lá, água, comida, roupas, repelentes, tudo.

Olho em volta.

-Mãe? Pai? -minha voz ecoa nas árvores, esperei, esperei, ninguém respondeu.

Uma lágrima desceu em minha bochecha. Eu rapidamente a limpei e fui em minha barraca.

Meu celular estava lá no meio, com mais uma foto de minha galeria, uma garota sozinha em uma floresta com um ser indefinido a perseguindo, ela parecia não notar ou não ligar.

Tentei desligar, apertei diversas vezes no botão mas não foi. Apenas passou para outra foto.
Uma barraca idêntica a minha em uma Floresta escura, um homem alto com roupas pretas encarava ela. Me assusto com a foto.

-O que é isso? -falei para o celular, apertando em todos os botões possíveis.
Mais uma foto aparece.

Um homem com o dedo na boca, seu rosto estava desfocado.
-Just Sleep" -li as palavras que estavam juntas com a imagem.

Meus olhos pesam e sinto meu corpo cair no saco de dormir.

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Unknown • /Onde histórias criam vida. Descubra agora