Chapter I - At Nightfall

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Treece, Kansas - 22 de setembro de 1974.

Quando os sinos da igreja anunciaram a chegada da meia-noite, a Dra. Pray  adiantou seus passos. O céu estava nublado, qualquer resquício da luz da lua foi encoberto. A rua estava deserta, não se ouvia outro som além dos seus passos. O ar estava praticamente rarefeito, tornando-se difícil de respirar. Poderia chover a qualquer momento, e antes de retornar para casa, a Dra. Pray precisava atender sua última paciente do dia. A complexa e psicótica, Addison Derringer. Em seus anos de carreira, a doutora Charlotte Pray nunca havia visto caso parecido ou sequer ouvido falar. Quando finalmente debruçou-se contra o alto portão de ferro, o gemido a fez ficar atenta.
A escadaria de mármore que levava até o interior do recinto reluzia o branco perolado mais brilhante que ela já havia visto. Isso dava um tom lúgubre ao lugar, ou ao menos, uma luz diferente do quê o reflexo das sombras. Vindo em sua direção, a equipe médica a orientou a evitar aproximar-se de Addison. De acordo com um deles, ela tivera mais um dos seus tórridos e constantes pesadelos. A Dra. Pray tentou desprender a imagem da garota presa de sua mente. Em algum lugar ali, dentro de sua subconsciente, havia uma garota fragilizada pela morte de seus pais. Pela morte de... Bem, de todos aqueles a quem ela perdeu.
Uma vez dentro do hospital psiquiátrico, a Dra. Pray seguiu para a ala mais perigosa do recinto - a Ala Leste.
- Charlotte, que surpresa - uma voz grave fez a doutora parar - Pensei que não viria esta noite.
- Engano seu, Dr. Brielson - respondeu-lhe ela, impávida - Meus deveres sempre são priorizados.
- Não me entenda mal - repreendeu-se o homem - Só achei que talvez, devido ao longo período em qual trabalha, tivesse decido ir para casa mais cedo.
- Muito obrigado pela preocupação, Cameron - afirmou com veemência a médica - Mas assumo daqui.
Virando-se, a Dra. Pray seguiu. Nunca fora sua intenção ser grossa, mas Cameron Brielson era um homem difícil de se lidar. A doutora deixou seus devaneios de lado ao chegar na porta do quarto de Addison Derringer.
Era uma porta simples, opaca. E quando a Dra. Pray bateu, o som fez seus músculos se retorcerem.
E lá estava Addison. Perdida em seus pensamentos, em seus desenhos.
- Boa noite, Srta. Derringer - disse a doutora, fixando seus olhos atentamente na garota.
- Boa noite, Dra. Pray - disse a garota, quase murmurando - Quase pensei que não a veria hoje.
- Acho que todos esperavam - suspirou a doutora, sorrindo de leve - E como anda minha paciente favorita ?
- Aposto que diz isso para todos - insinuou Addison, de maneira delicada.
- Tem razão, eu digo. Você é uma garota perspicaz, Srta. Derringer - a doutora segurou suas mãos. - O que acha de contar-me a história que se nega a contar aos outros médicos ?
O semblante feliz de Addison desapareceu.
- Eu não quero importunar ninguém com meus demônios, Dra. Pray - disse ela - Quando eu me vejo no espelho, eu vejo meu demônio e isso não me deixa dormir em paz.
- Talvez seja a hora de livrar-se desse fardo - sugeriu a doutora, esperançosa.
Os olhos cinzentos de Addison a penetraram. Seus cabelos ruivos caíam com perfeição sobre seus ombros naquele momento, tudo parecia estar se encaixando.
- Essa não é minha história, não propriamente dita - disse ela - Mas sim do Anjo Malévolo.
- Anjo Malévolo ? - indagou a doutora, confusa.
- Sim, tudo começou ao cair da noite...
                                +++

Treece, Kansas - 15 de junho de 1974.

As sirenes da polícia e das ambulâncias misturaram-se naquela noite fria. Era curioso estar frio, mesmo estando no verão. Os paramédicos tiravam os cadáveres ensanguentados dos meus pais de casa, e eu fechava os olhos tentando não ver nada daquilo. Mas era impossível desver o que havia visto anteriormente. O corpo dos meus pais, repousados sem vida no chão. Era tanto sangue e tanta dor...
- Srta. Derringer, pode nos contatar exatamente o que viu ? - o policial manteve-se na minha frente, refazendo aquela pergunta pela quarta vez.  Ele era um homem muito paciente, talvez por isso tenha sido designado para essa tarefa.
- Eu havia descido para tomar um copo d'água - proferi, com a garganta seca, lembrando que não havia conseguido beber a água - Estava descalça e percebi algo viscoso sob meus pés. A princípio achei que fosse tinta, meu pai é... Era um pintor. Mas não era.
- Foi nesse momento que o seu copo de água caiu no chão ? - questionou ele.
- Sim - retruquei - Eu gritei ao perceber o sangue. Pensei que algum dos meus pais viesse ver o que havia acontecido...
Segurei as lágrimas, tentando manter-me forte.
- Eles não vieram - disse, deixando algumas lágrimas escaparem - Quando andei até a sala, os encontrei.
Um outro policial sussurrou algo no ouvido dele rapidamente. Ele assentiu, dispensando o informante.
- Srta. Derringer, tem algum outro parente seu, digo, para entrarmos em contato - disse ele.
Parei por um momento. Eu não tinha parentes. Nem primos, nem avós, nem tios. Eu era a última Derringer da minha família.
- Não, eu não tenho mais ninguém - afirmei.
- E você ainda tem 16 anos - disse ele - Teremos que encaminhá-la ao Chateau Miranda.
- Chateau Miranda ? O que é isso ? - questionei, pondo-me de pé.
- É um orfanato, Srta. Até que seja adotada por outra família, Chateau Miranda será seu lar. - disse ele, por fim.
Meu mundo estava colapsando. Eu havia perdido tudo no mesmo dia. Minha família, minha liberdade...
- Addison ? - disse uma voz suave atrás de mim.
Virei-me e uma mulher de meia-idade estava sorrindo para mim.
- Sou Alexa Grapple, assistente social - prosseguiu ela - Queria dizer que sinto muito por sua perda.
Assenti, em resposta.
- Irei conduzi-la até o Chateau Miranda, provisoriamente, é claro - disse ela - Você tem 16, podemos tentar emancipação.
- É quase impossível conseguir emancipação, não me engane - vociferei.
Alexa baixou os olhos.
- Desculpe-me, não foi minha intenção ser grossa.
- Está tudo bem, Addison - prosseguiu ela - É uma nova fase da sua vida, imagino o quão difícil é. Mas o quanto antes adaptar-se, melhor.
Alexa pousou suas mãos sobre meus ombros, direcionando-me para o carro.




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