O ruído do chão sendo limpo me fez tremer. A cada movimento súbito que Chris, ou melhor dizendo, Charles fazia, deixava-me á flor da pele. Rose havia recostado-se no canto, em choque; Ela presenciara o assassinato da mãe biológica e sendo cometido por alguém que ela considerava um amigo...
- Não sejam tão dramáticas - resmungou Audrey, descendo as escadas - É uma reunião de família, afinal.
- O que faremos agora ? - indagou Charles - Ainda falta muito tempo para o nascer do sol.
- Não há problema algum nisso - afirmou minha gêmea - Na verdade, foi até conveniente. Acho que minhas irmãs merecem uma explicação.
- O que você ganha com isso tudo ? - bradei, abraçando meus joelhos - Você matou os nossos pais ?
- Eu só matei a mamãe - disse ela, remoendo a memória - Deixei o papai para o Charlie. Mas não pulemos a história, vamos do princípio.
- Princípio ? - questionou Rose
- As irmãs Candice e Caroline Valak conhecem o sedutor Patrick Derringer - começou Audrey, pondo o igualmente volumoso cabelo ruivo de lado - Elas se apaixonaram por ele e no fim, Caroline e Patrick se casaram. Entretanto, a nossa mamãezinha era infértil; não importava quais médicos visitasse ou quais métodos tentasse, nada funcionava. Isso irritou tanto o Patrick que o fez distanciar-se completamente de suas obrigações de marido e procurar mulheres fáceis na rua. Em um bar, ele se depara com a bem resolvida e atraente Alexa Grapple.
- Então realmente meu nascimento provém de uma traição - murmurou Rosalie.
- Não julgue-os, Rose. - disse ela, rindo - Eles iniciaram então o tórrido romance e o rumor da infidelidade espalhou-se pela cidade. Caroline ficou completamente insana é claro, e recorreu á fonte mais inusitada e perigosa que poderia achar: as Trevas.
Charles sorria para ela, admirando-a. Eu apenas conseguia sentir asco.
- Caroline encontrava-se com Helen Duncan na esperança de que a bruxa pudesse resolver aquilo e acreditem se quiser, isso foi uma benção para nós, maninha - afirmou ela - O desejo de Caroline sempre foi ter filhos gêmeos, e foi isso que Helen concedeu. Acho que sabem sobre a história do Anjo Malévolo, não é ?
- Bom, é isso. A condição imposta pelas Trevas foi que Candice portasse o Anjo Malévolo, que um dia, traria a Estrela da Manhã em meio aos mortais - disse Audrey, sem qualquer emoção - Adivinha quem foi a sortuda ?
- E o que aconteceu com a Grapple ? - perguntou Rose.
- Com a gravidez de Caroline, Patrick voltou a cair de joelhos pela esposa - prosseguiu ela - Entretanto, as gêmeas não eram sua única prole. Quando Grapple contou que estava grávida, Patrick se desesperou e fez de tudo para omitir o fato. Com a rejeição e por ser uma mulher solteira, Alexa foi obrigada a entregar a única filha para Chateau Miranda, usando o nome de Marion Summers para esconder sua identidade.
- Sabe, Addie ? - disse Rose - Nosso pai era um cretino.
- As gêmeas enfim nasceram e a casa dos Derringer se preencheu de alegria; ao menos por um tempo - emitiu ela - Uma das crianças transparecia um comportamento anormal, uma aura sombria. Flores e plantas morriam em sua presença, agouros tomavam conta das imediações e por aí vai. Mamãe era uma vadia. Ela me fez quem eu sou e depois ficou choramingando pelos cantos.
- E como eu nunca conheci você ? - indaguei, confusa.
- Bom, Grapple retornou para a vida de Patrick e exigiu que ele a ajudasse a recuperar sua filha de volta - disse ela - Patrick, então, uniu o útil e o agradável e entregou a gêmea defeituosa para a Grapple, fazendo-a acreditar de que era a garotinha que ela entregara ao orfanato. Isto é, impondo a condição de que ela fosse para longe.
- Rose, eu sinto muito - virei-me para ela.
As lágrimas escorriam por seu rosto, era tão injusto.
- Com o passar do tempo, a criança defeituosa cresceu e a Grapple não notara nenhuma mudança, até visitar Treece - disse ela - Nessa visita ela viu você, Addison. E soube quase imediatamente que fora enganada. Ela ficou fragilizada, obviamente e se distanciou de mim por completo. Helen então me acompanhou, guiou-me e orientou-me para o grande propósito ao qual eu havia nascido.
- Então nasceu o Anjo Malévolo - disse, montando as peças - E ele ? Como pode estar vivo ?
- Foi um presente de Helen, na verdade - disse Audrey - Ela sabia que eu precisaria de ajuda na Ceifa e que família sempre trabalha bem junta. Críamos então Christopher Scarver, o garoto sarcástico e gradativamente confiável ao qual minha irmãzinha encontraria refúgio.
- Era por isso que você podia ver Aravis - constatei - Você é um cretino nojento. Vocês dois são.
- O que vocês querem de nós, afinal ? - bradou Rose.
- Não quero nada de você, bastarda - vociferou Audrey - Quanto á Addie, bem, preciso que você ocupe meu lugar.
- Ocupar seu lugar ? - indaguei.
- Para a Estrela da Manhã renascer, precisa de um sacrifício e acho mais do que justo ser você - riu ela - Meu plano sempre foi sacrificar você. Por isso fiz Grapple levá-la até Chateau Miranda, por isso fiz Charles e Helen ficarem de olho em você, por isso que fui naquele maldito orfanato...
- O incêndio ? - disse, aproximando-me dela - Foi você ?
- Eu precisava tirar você do lugar, por isso a joguei pela abertura da Torre - disse ela - Eu armei tudo com Charles para que saísse perfeito. Matamos Jane e Sarah, Charles matou Further, fizemos os órfãos da Torre do Precipício matarem uns aos outros e por fim, levamos vocês até a descoberta que os levou até aqui.
- Então você vai nos matar ? - perguntei - Tudo isso para nos matar ?
- Eu sinto muito, Addison - afirmou ela - Não é exatamente algo pessoal, apenas estou fazendo-me ser recompensada por tudo.
- E eu também sinto muito, Audrey - proclamei - Mas não posso receber a culpa das ações dos nossos pais. E muito menos serei o sacrifício de um ritual satânico para trazer... Seja lá quem for.
Em um segundo de distração, a puxei contra mim, seus batimentos incontroláveis juntos aos meus estáveis. Era como estar lutando comigo mesma, e isso era frustrante. Seus olhos ardiam em fúria e senti a força de suas mãos contra o meu pescoço. Do outro lado, via Rose debatendo-se nos braços de Charles. Com toda a força que consegui reunir, soquei o rosto da minha gêmea, desestabilizando-a.
Levantei, chutando a canela do impostor quase que imediatamente.
- Temos que sair daqui - gritei - Agora!
Corremos para fora da casa. A noite estava fria e aterrorizante; era como se tudo ao nosso redor estivesse á espreita, conspirando. As estrelas eram a única iluminação confiável, e a cada passo que dávamos rumo ao fim da rua, nos deixava mais nervosas. Meus batimentos foram barrados quando notei que Rosalie não corria mais ao meu lado. Virei-me para trás e vi-a caída no chão. Corri até a minha irmã e pude ver que ela sangrava.
- Rose! - murmurei, nervosa - O que aconteceu ?
Ela tentara falar algo, mas o sangue que se acumulava em sua boca tornava impossível deixara praticamente impossível. Em suas costas, reconheci o machado que tirou a vida de Clementine Further.
- Addie - seu olhar refletia dor e felicidade ao mesmo tempo, era desconcertante - Eu posso ser Victoria agora.
- Não se atreva a me abandonar, Rosalie - disse, as lágrimas pesando em meu rosto - Vai ficar tudo bem, encontraremos ajuda.
Em uma distância considerável, pude ouvir as sirenes da polícia se aproximando. Levantei-me para atentar-me por onde ela vinha e vi as luzes vermelhas e azuis tomando conta da rua. O carro estacionou e uma figura conhecida apareceu.
Era Roman Clifford, o pai de Charles.
- Addison Derringer - disse ele, em tom grave e autoritário.
- Detetive, é tão bom vê-lo novamente...
- Você está presa pelo incêndio de Chateau Miranda, tal como o assassinato dos funcionários e órfãos ali presentes - disse ele, algemando-me.
- Eu não fiz isso, foi Audrey Derringer. Minha irmã gêmea - disse, impávida - Você me conhece, eu não seria capaz de fazer isso.
- Eu sei que pode não ter sido intencional e que doenças mentais são incontroláveis... Mas ainda foi você, Addison - disse ele - Sinto muito, não há nada que eu possa fazer.
- Tudo bem, mas você precisa levar minha irmã até um hospital - disse, virando-me para Rosalie - Rose, está tudo bem.
Rose não se mexia e não se ouvia nem sequer um ruído vindo dela. Isso me destroçou lentamente, e á medida que caía sobre seu cadáver, permiti que todas as lágrimas fossem libertas.
- ROSE, NÃO! - gritei, sem ressalvas.
Ela estava morta, minha melhor amiga, minha irmã... morta;
- Preciso levá-la daqui, você é um perigo para si mesma e para os outros - disse Roman - Prometo que a Rosalie terá um final digno.
Eu me debatia por nas algemas. Eu não podia deixar que a culpa das ações de Audrey e dos meus pais recaíssem sobre mim, não podia deixar Rose ali. Mas eu estava tão cansada, tão cansada de lutar. Por fim, permiti que Roman me levasse até o carro e obriguei-me a não olhar para o corpo de Rosalie atrás de mim nenhuma vez sequer.
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American Horror Story: Orphanage
FanfictionApós a misteriosa morte de seus pais, Addison Derringer é levada até o enigmático orfanato Chateau Miranda, onde espera uma rápida adoção. Entretanto, logo em seus primeiros dias na residência, Addison presenciará acontecimentos estranhos e ao seu v...