Chapter X - Children Shouldn't Play With Dead Things

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As chamas consumiam tudo em seu caminho. Enquanto corríamos, o zunido das coisas sendo carbonizadas pelo fogo davam-me a sensação de um fim cósmico. Em quaisquer corredores que passássemos a esperança vívida de achar Austin vivo era perdida. Se aqueles dois adolescentes da Torre do Precipício não matassem-no, o incêndio o faria. Isto é, se essa não fosse a principalmente origem daquela conflagração.  E em meio a todo o alvoroço, a descoberta da origem de Rosalie ainda afligia-me. Meu pai não fora quem transpareça ser por toda a vida. Ele traíra minha mãe com Alexa Grapple, a assistente social que posteriormente me levaria ao resultado de tudo aquilo - minha irmã, Rose.
- Addie, você está bem ? - indagou ela, visivelmente hesitante.
- Estou, eu só... - minha mente estava um turbilhão de pensamentos corriqueiros e vorazes, porém um deles destacava-se - Candice. Precisamos achar Candice. 
- Ela está na sepultura, mas como vamos sair daqui com esse fogo todo ? - disse Chris, sobrepondo-se ao ruído. 
- Poderíamos tentar sair por onde Rose entrou - disse Rosalie - Pela entrada da gruta. 
- Vale tentar, mas é distante da sepultura - disse, minhas narinas ardendo devido á rede de fumaça formada. - E se Aravis ainda busca vingança...
- Prometo que iremos salvá-la, Addie - afirmou ele, segurando minha mão - Somos um trio imbatível, conseguiremos sair dessa. 
Assenti, permitindo-me um sorriso singelo retribuído por eles logo em seguida. Suspirei fundo, e, juntamente com meus amigos, desci as escadas do subsolo.
                             +++
A gruta era como da última vez, entretanto, sentia-se o calor emitido pelas paredes rochosas. Á medida que andávamos, sentia uma ânsia de vômito incontrolável. Rosalie andava trôpega por dentre as pedras, seus passos repetiam-se com receio de cair. Chris andava normalmente, entretanto, algo nele debatia-se por dentro. Há poucas horas atrás, ele estava novamente preso no tormento ao qual escapara com tamanha dificuldade. Depois foi relatado sua familiaridade com a morte, o que perturbou-me no momento. Quando a saída estava ampla e clara, visualizei o cadáver de Clementine Further e abaxei a cabeça ao lembrar-me de seu apelo. Por sorte, Rose e Chris aparentaram não notar nem o corpo e nem a minha expressão, o que considerei uma vitória. Andamos pela floresta, desta vez, sendo guiados pela luz alaranjada que as chamas refletiam. Mais ao norte, o jardim e os altos portões de ferro de Chateau Miranda fizeram-se visíveis, tal como as altas torres do mesmo sendo destroçadas pelo bafo de fogo. 
- É praticamente impossível que este lugar erga-se novamente - constatou Rose, impávida. 
- Por mim, pode apodrecer nas profundezas do inferno - esbravejou Chris - Com todo respeito, Rose.
- Não precisa ser repreender - relatou ela - Chateau Miranda sempre foi minha casa, de fato; mas nunca foi meu lar. Entendem o que quero dizer ?
Assenti, e realmente entendia. Andamos mais um pouco até enfim adentrarmos no jardim do orfanato. Por dentre as estátuas, visualizamos Candice perante o epitáfio da sepultura. Ela murmurava algo e apesar de não poder ouvi-la, sei que se resumia em dor e vergonha.
- Tia Candice ? - disse, aproximando-me. 
- Olá, Addison - respondeu ela, mórbida. 
- O que está fazendo aqui ? - disse, tentando entender o que a levaria até ali - Esse lugar vai virar pó. 
- Pó - zombou ela, quase que de si mesma - Quem dera tudo fosse do pó ao pó assim tão facilmente. 
- O que está querendo dizer ?
 - A dor é uma coisa muito esquisita, Addison - sussurrou ela- Ficamos desamparados diante dela. É como uma janela que simplesmente se abre conforme seu próprio capricho. O aposento fica frio, e nada podemos fazer senão tremer. Mas abre-se menos cada vez, e menos ainda. E um dia nos espantamos porque ela se foi.  Assim foi essa sepultura para mim, apesar de Charles nunca ter estado nela. 
- Eu sinto muito, mas precisamos sair desse lugar - afirmei.
- Aravis não me deixará sair - disse ela, levantando-se. Do outro lado, a figura da garota tremeluziu até mostrar-se íntegra. 
- Deve haver algo que possamos fazer - bradei - Não sei, desenterrá-la...
- Crianças não devem brincar com coisas mortas - disse ela, retirando seu hábito por completo - Adeus, Addison. Rose.
Rosalie engoliu em seco. Isso significava que ela sabia?
Na medida em que Candice andava até seu destino fatal, senti o abraço de Rose e Chris em mim. Por fim, Aravis e minha tia juntaram-se ao casaréu em chamas.
                           +++
A região exterior do orfanato era completamente desértica, o ar era praticamente rarefeito e o único som audível era os dos nossos passos; Chris procurava algum carro que pudesse "pegar emprestado", segundo palavras do mesmo. 
- Eu sinto que estamos em pleno Polo Norte - rosnou Rose, envolvendo-se no casaco de Candice.
Candice...
- Ali está! - disse Chris, apontando para uma caminhonete velha. Seguimos até o automóvel e de maneira civilizada, Chris quebrou o vidro da janela. Ao destrancar as portas, eu e Rose entramos e nos arrumamos nos bancos do fundo.
- Você sabe dirigir um carro, Scarver ? - indagou Rose, irônica. 
- Eu nem sempre fui um trombadinha, Rose - afirmou ele, recuperando o tom sarcástico da primeira vez que nos vimos. 
Seguindo a estrada, Chris acelerava. O tempo estava muito frio, isso indicava que o inverno estava se aproximando de Treece. 
- Tem alguma música aí ? - disse, apontando para o rádio.
Chris o ligou, e imediatamente iniciou-se uma melodia conhecida. Era Carry That Weight, dos Beatles. Á medida que a letra da música passava e o carro andava, refleti sobre tudo que acontecera comigo em apenas quatro semanas. A morte dos meus pais e suas mentiras, parentes que eu sequer soubera que existiam, um Anjo psicótico que me perseguia e atormentava meus sonhos...
O carro finalmente parou. 
- Vou no mercado tentar apropriar-me de alguma coisa - afirmou ele.
- Esse eufemismo foi muito bem colocado, Christopher - sorri.
- Obrigado, Srta. Derringer - proferiu ele, antes de sair.
Encarei Rosalie por alguns segundos, ela estava pegando um resfriado.
- Então... - disse ela, cabisbaixa - Irmãs, não é ?
- Suponho que sim - disse ela - E eu sinto que a amo mais que antes.
- Fico imaginando como seria minha vida caso eu não vivesse em Chateau Miranda - articulou ela - Se pudesse escolher um nome, escolheria Victoria. 
- Por que Victoria ? - indaguei
- Em todos os livros que li, as Victorias eram fortes, corajosas e independentes - retrucou ela - Sempre quis ser tudo isso, mas... Sempre estive presa nas paredes daquele castelo. 
- Você tem o mundo agora, Rose - afirmei - Estamos desfrutando da liberdade e com sorte, manteremos assim até completarmos dezoito anos e não precisarmos mais fugir.
- Eu te amo, Addie - confessou ela, abraçando-me.
- Eu te amo também, Rose - abracei-a ainda mais firme. 
A porta do carro se abriu e Chris apareceu.
- Temos um pequeno problema - revelou - O segurança não sai do caminho um segundo e não tem como eu passar com a sacola.
- Eu consigo - disse Rose, levantando-se - Sempre fui boa em furtar coisas.
Chris assentiu e deu espaço para ela passar, dando todas as coordenadas. 
- Espero não ter interrompido nada - disse ele, sentando do meu lado. 
- Na verdade, interrompeu. Mas não tem importância, foi um momento simbólico - disse, sorrindo. 
- Eu preciso de sua ajuda, Addie - disse ele - Eu preciso testar uma tese. 
- Tese ? - argumentei, confusa. 
- Sinto algo que não sei explicar, e não desejo explicar.Não sei se isto é amor, não sei como explicar o amor, não sei se eu sei o que é o amor. Sei que não é apenas algo qualquer que sinto por você.Nunca imaginei que amaria de forma tão intensa e incondicionalmente. Você me mostrou um amor que não conhecia, que independe completamente da opinião de qualquer outra pessoa, como se o mundo fosse habitado apenas por nós dois. É um amor que não ver defeitos e todas as características não passam de peculiaridades. Você me faz feliz, Addison Derringer. Você reflete tudo que eu sempre imaginei numa vida feliz, e eu não estou dizendo isso para obrigá-la a sentir o mesmo. É uma tese, como disse. 
- Chris, eu...
- Calada, eu só quero testar algo... - ele aproximou-se ainda mais de mim, podia sentir sua respiração irregular e disparada contra meu rosto tal como seu coração batendo contra o meu. Seus olhos negros fitavam os meus cinzentos, seu toque fez meus pelos se arrepiarem e seu estômago fez um nó tremendo. Seu lábio estava quase selado ao meu...
A porta da caminhonete se abriu, Rose entrou em disparada. Afastei-me de Chris rapidamente.
- Desculpem a interrupção - disse ela, dando um rápido sorriso.
- O que foi, Rose ? - disse.
- A Grapple - murmurou ela - Ela está bem atrás de nós. 




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