Chapter XIII - Through The Valley Of Death's Shadow (Finale)

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Treece, Kansas - 22 de setembro de 1974.

Charlotte Pray encarava-me, sem palavras ou uma expressão definida. Seu olhar temia encontrar o meu, e sinceramente, não a julgava. Fora há dois meses, mas o terror e a angústia ainda percorriam minhas veias.
- Você não soube o que houve com Audrey e Charles ? - indagou a psiquiatra, por fim - Digo, eles não tentaram vir atrás de você ?
- Uma das vantagens de estar em um sanatório de segurança máxima é que você se torna completamente protegida - afirmei, levantando-me - Eu só não sabia que seria tão... exaustivo.
- Eu sinto muito, Addison - afirmou Charlotte - Você não mereceu nada disso.
- Eu só sinto pesar pela Rose, doutora - suspirei - Ela é a verdadeira vítima dessa história, não eu.
- Eu prometo que irei tirá-la daqui, Addison - disse a Dra. Pray - Primeiro, preciso falar com o Dr. Brielson sobre sua adoção.
- Adoção ? - disse, estupefata.
- Sim, Addie - disse ela - Você ainda é menor de idade e precisa de um lar, ao menos, até completar dezoito anos.
- Tudo bem - retifiquei - Eu só quero sair daqui, Doutora.
- E sairá, querida. Vai ver que sim.
E assim, Charlotte Pray partiu após escutar minha tragédia em forma de história.
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Deitei-me na cama tentando afastar as lembranças que estavam atordoando minha cabeça. A porta abriu-se e uma enfermeira entrou. Seus cabelos loiros repousavam em suas costas e ela arrastava um carrinho. Eu teria que tomar aquele remédio novamente, entretanto, esta poderia ser a última vez. O carrinho parou em frente á minha cama e senti que a enfermeira também.
- Hora de acordar, dorminhoca - disse a voz arrepiante e risonha de Audrey.
Levantei-me de imediato. A minha gêmea estava vestida de enfermeira e coberta de sangue, seu cabelo ruivo mascarado por uma peruca loira.
- Você - disse, exasperada
- Sim, irmãzinha - disse ela - Não pensou que tinha acabado, não é ?
- O que você fez ? - questionei.
- O Dr. Brielson se mostrou um empecilho para mim - retrucou Audrey, impávida - Tive que estripá-lo.
- Onde está o seu capacho ? - indaguei, severa.
- Charles ? - disse ela, transparecendo incômodo - Bem, após você ter sido levada por Roman, nós o interceptamos. Ele reconheceu Charlie na hora e pensou que eu fosse você; mas antes que eu pudesse matá-lo, ele atirou no crânio do próprio filho.
Permiti-me rir.
- Aquele desgraçado pode apodrecer no inferno agora - solenizei - E você, bem, pode juntar-se a ele.
No carrinho de remédios, havia um bisturi. Saquei-o em um movimento súbito e perfurei seu ombro direito. Ela deu um urro rápido, sentindo a dor percorrer seu braço; isto me deu tempo suficiente para retirá-lo do seu ombro, guardá-lo no bolso e sair do quarto o mais rápido possível. Uma vez fora, deparei-me com os corredores frios e desertos do sanatório. Onde estava a Dra. Pray ?
O relâmpago clareou o caminho de sangue que estendia-se pelo lado esquerdo. Apesar de não ter certeza, aquele sangue só poderia ser de Cameron Brielson. Senti algo pressionando o meu pulso, era Charlotte. Ela pôs seu dedo sobre meus lábios, calando-me antes mesmo que pudesse pensar em proferir algo. A porta do meu quarto se abriu e Audrey havia saído.
- Não pode fugir da morte para sempre, irmãzinha - gritou ela - Sabe, existe uma linha tênue entre o céu e o Inferno. É chamado de Vale da Sombra da Morte. Sim, o da Bíblia. Mas ele é muito mais aterrorizador do quê você poderia imaginar; é lá onde a Estrela da Manhã habita.
Charlotte ainda mantinha a guarda. Ela tinha um plano, o qual eu não fazia ideia de como seria executado, apenas podia confiar nela.
- O ritual do sacrifício fará uma troca - disse Audrey, sua voz aproximando-se de nós - A sua alma habitará o Vale da Sombra da Morte enquanto ele percorrerá a Terra e espalhará o caos. A batalha apocalíptica se aproxima, Addison, é inegável.
- Muito sagaz, Audrey - gritou Charlotte, em resposta - Mas tem um Plano B, certo ?
- Plano B ? - retrucou minha gêmea - Por que precisaria de um Plano B, Doutora ?
- O Anjo Malévolo sempre tem um plano reserva, não é ? - continuou a Dra. Pray - Você tinha o Charles, agora não tem nada. Essa é a sua última jogada, então diga-me: O que acontece após passar pelo Vale da Sombra da Morte ? O que acontece com o Anjo Malévolo ?
Desta vez, Charlotte não me conteve. Em disparada, segui para o fim do corredor e desci as escadas de mármore.
- Corra, Addison, corra! - ordenou Charlotte, atrás de mim.
- Não, Doutora - afirmei - Essa é a minha luta, não fugirei mais dela.
- Não pode enfrentá-la, Addie - suplicou ela - Por favor, apenas vamos sair daqui.
- Doutora, eu serei infinitamente grata pelo que fez por mim - proferi - Mas... Audrey Derringer foi um mal criado pelos meus pais e como herdeira, preciso resolver tudo que está pendente. De uma vez por todas.
Charlotte assentiu, dando um espaço significativo para mim.
- Por favor, Addie - choramingou Audrey - Podemos parar de correr em círculos ?
- Ninguém está correndo - disse, exasperada.
- A propósito, você não sabe o quão gratificante foi ver a morte da nossa Rosalie - disse ela - Quando o machado acertou a coluna dela então...
O horror e o ódio apossaram-se de mim, enfim. Lancei-me contra Audrey, rolando com ela até as escadas. Ela estava mais preparada do que na última vez, acertando meu estômago em cheio.
- Você é patética - berrou ela - Nossos pais teriam vergonha de ver o quão fraca você se tornou. E eu era a filha defeituosa.
- Você não era a filha defeituosa, Audrey - disse - Você era o estorvo. A consequência do desespero de uma mulher traída e do plano maligno da Estrela da Manhã. Você é apenas uma versão distorcida de mim, um reflexo. Isso nunca foi sobre você e sim sobre mim. Tudo que você sempre quis foi ser Addison Derringer e bem...
Saquei o bisturi mais uma vez e com o mesmo, perfurei a carótida da minha gêmea.
- Parabéns, irmãzinha - afirmei - Você conseguiu.
Levantei-me lentamente, ainda tomada pela adrenalina. O sangue de Audrey percorria a outrora escada de mármore perolada, tornando-a no rubi mais paralisante já visto.
- Oh, céus! - disse Charlotte Pray - Addison, precisamos sair daqui. Agora.
- Eu não sou Addison Derringer, Dra. Pray - afirmei - Addison Derringer está morta.
Com os últimos espasmos, a vida deixou o corpo da minha irmã. Segui Charlotte até seu carro e entrei rapidamente. A equipe médica do sanatório já havia sido notificada e o alvoroço se iniciou. Eu não sabia mais quem eu era, entretanto, não era mais Addison Derringer.
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                        Prefácio

Greensburg, Kansas - 24 de setembro de 1974

Charlotte tremia. Suas mãos estavam fixas no volante, como se fosse uma tabua da salvação. E eu em minha mochila, como se fosse a minha. Agora eu sei. Andei pelo Vale da Sombra da Morte, mas apenas estava dando uma volta. E apesar de ser impossível, acabei voltando com as chaves de todas as portas. Resgatei minha alma da escuridão, transmutei as trevas em luz, e trouxe a união. O horror e a tristeza dentro de mim estavam revoltos, mas os tranquei bem lá no fundo. Em um abismo dentro de mim, do qual apenas eu tinha a chave. O cartório de Greensburg estava aberto assim que o sol nasceu dando-nos uma vantagem. Há dois dias, minha irmã gêmea morrera, levando consigo minha antiga identidade repleta de dor e sofrimento. Charlotte decidira adotar-me, isto é, "ficar de olho em mim por um tempo", segundo a mesma. Queria ser um novo alguém, um ser pleno e sem ligações com o passado assustador de histórias de terror. Jamais conseguiria apagar o que levava em mente e no coração, mas poderia tentar ofuscar algo ruim com algo bom. A cada queda, uma ascensão. Felizmente, Charlotte permitiu que eu escolhesse o meu novo nome. Eu queria ser forte, corajosa e obstinada. Lembrei-me de Rose naquele momento, da sua importância em minha vida, do seu destino injusto e cruel e de como ela sempre apoiou-me, mesmo tendo motivos para fazer o contrário. Rose iria querer isto para mim, que eu fosse uma de suas Victorias.
- E então, querida ? - indagou Charlotte, sorrindo suavemente.
- Victoria - afirmei, sem ressalvas - Victoria Pray.
Então, talvez, eu sempre estivesse marcada pela escuridão. Sempre estaria presa no orfanato do meu passado, mas jamais estaria sozinha. Pois mesmo nos momentos mais escuros, eu saberia onde encontrar luz.

American Horror Story: OrphanageOnde histórias criam vida. Descubra agora