Em menos de dois dias, já vira policiais e paramédicos mais vezes do que realmente gostaria. Rachel ainda estava trêmula, Rosalie acalentava-a em seus braços. Aquela altura, todo o lugar estava acordado, as freiras permaneciam chocadas por um ato violento como aquele, e apesar de todas estarem ali, não conseguia achar Candice, Sarah ou até mesmo a Irmã Jane. Por sorte, conseguimos esconder Chris antes que ele fosse pego. Em meio ao caos, só conseguia pensar em como alguém o matara. Há algumas horas atrás, Sidney era um aracnídeo que quase me matara, agora, era apenas um cadáver.
- Addie... - disse a voz melancólia de Rosalie - Vem na cozinha comigo, por favor ?
Sem entender muito bem, a segui. Entretanto, não estávamos indo pra cozinha e sim para o depósito onde Chris estava. Uma vez nas escadas, percebi que a luz voltava aos poucos. Seja quem fosse, aproveitara a falta de luz para praticar o assassinato. A menos que a falta de luz fora exatamente por esse motivo.
- Que droga, isso não está acontecendo - disse Rosalie, girando a maçaneta da porta.
- O quê está acontecendo ? - disse Chris, levantando-se.
- Fomos os únicos, além da Rachel, a estar fora da cama depois da hora - disse ela - Digo, eu e a Addison. Jane vai nos chamar na sala dela amanhã.
- É sério que é com isso que você está preocupada ? - disse ele, estupefato - Sidney foi...
Chris baixou o tom de voz, tentando falar o mais baixo possível.
- Sidney foi morto, e ninguém sabe quem o matou. Quando ele era uma aranha...
Respirei fundo. Ele revelara o ponto crucial da história que eu não contara para Rose, e isso me deixaria em más lençóis com ela.
- Como obviamente ninguém vai explicar o termo "aranha", devo perguntar: O que diabos quer dizer com "quando ele era uma aranha" ? - bradou ela.
- Na noite que encontrei o Chris, Sidney me atacou - disse, atraindo sua atenção - Mas ele não era o Sidney de antes. Pode parecer loucura, mas o vi se transformar numa aranha. O Chris também.
Rosalie direcionou seu olhar para Chris, que assentiu. Em contra partida, fez o mesmo comigo, entretanto, não conseguia encará-la.
- Tudo bem, isso é loucura - disse ela, passando a mão no cabelo - Mas estou disposta a argumentar isso uma outra hora. Precisamos voltar pro caos, antes que notem nossa duradoura ausência.
Assenti, dando espaço para que ela pudesse passar. Antes de cruzar o arco, senti o toque de Chris no meu ombro.
- O que diabos está rolando, Derringer ? - disse, afagando um sorriso - Por que não contou para a sua amiguinha o que aconteceu ?
- Porque ninguém em sã consciência acreditaria nisso - retruquei - Agora vá dormir, Scarver. Aproveite que não tem que se preocupar com a Irmã Jane.
- Não apostaria minhas fichas nisso - disse ele - Tenho medo desse esconderijo ser inútil quando ela notar minha ausência na Torre do Precípicio. Aquela mulher é um demônio, Addison.
- Bom, sou a própria água benta -disse, lançando-lhe uma piscadinha descontraída.
- Isso não é piada, queria que fosse - disse ele - Rosalie pareceu tensa para você ?
- Amanhã eu volto, eu prometo - disse, disfarçando meu medo - Não há com o quê se preocupar. Afinal, ela é apenas uma freira, não é ?
+++Todos haviam sido levados de volta aos seus quartos. Rosalie já estava dormindo, provavelmente se cansara de me esperar. Deitei-me no chão levemente confortável, tentando apaziguar meus pensamentos. A completa escuridão me fazia pensar, mesmo involuntariamente. Afinal, o medo atribui a pequenas coisas grandes sombras. Tanta coisa acontecera comigo desde que encontrei os corpos dos meus pais...
Não. Não ia me atormentar com esses pensamentos. Eu iria dormir, e esperar arduamente que a Irmã Jane não fizesse valer sua fama.
+++
Verde. O verde daquele jardim era o mais brilhante com o qual já me deparara, e o céu era o céu mais azul do mundo. As borboletas, as cores... Tudo parecia rodopiar mediante ao grande brilho daquela manhã ensolarada. Risadas infantis propagavam-se e tomavam conta do local, dando um tom jovial. Uma garotinha ruiva, vestida de anjinho estava parada na minha frente. Era... eu. A garota despareceu subitamente, entretanto, sua risada ainda ecoava na minha mente. O cenário mudara completamente, e desta vez, eu estava num carro. Provavelmente com uns dez anos e do lado de fora, mamãe e papai discutiam. Não consegui ouvir muita coisa naquela época, e a situação não era diferente agora, entretanto, um resquício da voz de papai se fez audível:
"Como foi capaz, Caroline ? Isso foi monstruoso, agora tudo faz sentido."
O cenário mudara novamente, e desta vez, eu estava em Chateau Miranda. Não se parecia em nada com uma memória. Eu estava sozinha, diante ao túmulo de Charles. Corvos sobrevoavam a estátua do Anjo Malévolo e em seguida, seguiam até a mim. E por fim, eu morri.
+++
Acordei ofegante. O suor predominava meu rosto, e a cama de Rose estava vazia.
- Rose ! - gritei, sem ter certeza do motivo.
De uma porta, saiu Rosalie. Com uma escova de dentes na boca. Por algum motivo, aquela visão me trouxe paz. Eu não fazia ideia do que havia sido aquele sonho, mesmo assim, o relatei rapidamente para Rose.
- Então... Primeiro você sonha, então morre ? - disse ela, secando a boca numa toalha - Sua situação está crítica, Addie.
- Acho que sim - balbuciei - Na verdade, não sei o que há de errado comigo.
- Acho que te falta um banho e uma disposição matinal - resmungou ela, pondo a gravata do uniforma - Sugiro que faça a sua higiene o mais rápido possível, porque, para nossa alegria, seremos interrogadas.
- Interrogadas ? - vociferei - Você quer dizer pela Irmã Jane, não é ?
- Por ela e pelo detetive de polícia que chegou há poucos minutos - disse ela - Estou com medo, Addie.
- Não podem nos culpar, certo ? - disse, levantando-me - Digo, estávamos apenas no lugar errado, na hora.
- Espero que o detetive pense da mesma forma - afirmou ela - Agora vá, arrume-se.
Fora o banho mais rápido que tive em minha vida. A água quase não tocara minha pele, entretanto, fiz a escovação bocal completa. Já uniformizada, adiantei meus passos com Rose pelos corredores. Estava aflita. Pelo sonho, pela pressão que estávamos sofrendo pela possível incriminação pela morte de Sidney e por todos aquilo que conspirava contra nós...
Paramos em frente a uma porta, e Rosalie bateu nela levemente.
- Podem entrar - disse a voz autoritária da Irmã Jane.
Rose abriu a porta e nos deparamos com a Irmã e o detetive, perfeitamente uniformizado. Seu cabelo era loiro ondulado, dando a ele um ar de galã. Ele era ligeiramente familiar...
- Rosalie Summers e Addison Derringer - disse ele - Enfim pude conhecê-las.
- Bom dia, detetive... - disse Rose, pálida.
- Clifford. Roman Clifford - disse o homem - Por favor, sentem-se.
Meu coração parou por um momento. Clifford, como Charles ?
- Farei algumas perguntas, se não se importarem - disse Roman - Irmã, pode nos dar licença ?
Jane, relutante, saiu da sala.
- Ela é sempre assim ? - perguntou ele.
- Na maior parte do tempo - afirmou Rosalie.
- Clifford ? - disse, interrompendo-os - Como Charles ?
- Sim - disse ele, com pesar - Charles era meu filho.
Candice não o menciora, mas eu também não perguntara. Se o pai de Charles estava vivo...
- Muito bem, garotas. Preciso que me contem tudo que sabem sobre "A Torre do Precipício." - disse Roman, abrindo seu caderninho de notas.
- A... A Torre do Precipício ? - disse Rose.
- Sim - disse ele - Preciso que me informem tudo que sabem sobre as medidas de disciplina de Chateau Miranda.
Por que ele não nos perguntara sobre Sidney ?
- Bom...
A porta do recinto se abriu.
- Foi uma surpresa quando ouvi que estava aqui, Roman - disse Candice - Garotas, nos deem licena, por favor ?
- Claro, Irmã - disse, puxando Rosalie para fora.
Fechamos a porta atrás de nós, Rose estava atônita, o coração saltando pela boca.
- Que merda está acontecendo ? - questionou ela - Ele nem sequer mencionou o pervertido do Sidney!
- Algo me diz que há coisas mais interessantes que Sidney para se interessar no momento - disse, pondo-me encostada na porta.
- Irei ver o Chris... Você vem ? - indagou ela
- Sim, irei, só não agora - retruquei.
Rosalie partiu, assim como seu nervosismo contagiante. O silêncio predominava e dentro da sala, os sussurros eram quase inaudíveis.
- Ainda continua uma mentirosa, Candice - riu Roman - Um túmulo no jardim, sério ?
- Fale baixo, alguém pode escutar - reclamou Candice - Ninguém soube o que aconteceu de verdade.
- O quê ? - disse ele - Ninguém soube que nosso filho possuía doenças mentais e que por causa dele, uma criança foi morta ?
- Não foi culpa dele, a estátua matou os dois, de certa forma - afirmou ela
- Não - disse ele, com a mesma ira voz - Charles morreu de pneumonia, em Londres. Aquela criança morreu por causa dele e por culpa sua.
- A estátua iria cair de uma forma ou de outra, Roman - disse Candice - Apenas foi uma trágica coincidência acontecer no exato momento que Charles estava brincando com...
- Não importava, não mais - disse ele - Agora saia daqui. Não aguento mais encarar sua cara presunçosa.
Corri até a escada, e sentei-me no primeiro degrau. Eu respirava fundo, e prendia o grito na minha garganta, quase asfixiando-me. Outra criança ocupava o túmulo de Charles, e por culpa do mesmo, ela morrera. Charles era um assassino.
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American Horror Story: Orphanage
Hayran KurguApós a misteriosa morte de seus pais, Addison Derringer é levada até o enigmático orfanato Chateau Miranda, onde espera uma rápida adoção. Entretanto, logo em seus primeiros dias na residência, Addison presenciará acontecimentos estranhos e ao seu v...