Chapter II - The Butler's Claws

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O carro de Alexa Grapple era, de certa forma, bastante confortável. Acolchoado, limpo e bastante confortável. Era um simples Citroen 11 Legere, mas parecia ser digno e conquistado pelo próprio esforço da assistente social. Enquanto íamos seguindo pela estrada, pude observá-la atentamente. Era uma mulher bonita, com poucas marcas de expressão e uma pele clara e brilhante. Seus cabelos loiros em corte Chanel a deixavam mais profissional, seus olhos eram inexpressivos, mas algo nela estava em conflito.
- Então, Addison - disse ela, quebrando o silêncio perturbador - Está com fome ?
Não tinha parado para pensar nisso. Nem sequer lembrava qual tinha sido minha última refeição, e sinceramente, não estava com fome. Meu estômago estava embrulhado e a cena de ter encontrado meus pais mortos, se repetia sem parar na minha cabeça.
- Não, não estou com fome - disse, secamente.
Ela me olhou, quando achava que não estava vendo.
- Vai adorar Chateau Miranda, sei que sim - disse a Sra. Grapple - É um local enorme, com um ar de mistério. Pelo que sei, vocês, adolescentes, amam mistérios.
- Tem filhos ? - perguntei, tentando ser mais gentil.
- Uma filha, na verdade - disse ela, cantarolando - O nome dela é Audrey.
Sorrio de leve, observando pela janela. Uma névoa de poeira tomava conta da estrada, fazendo a Sra. Grapple atentar-se.
- Já estamos chegando no Orfanato - disse ela - Só precisamos passar pela estrada...
Um homem estava parado na pista. Ele aparentava ser apenas um mendigo, mas Grapple pareceu reconhecê-lo.
- A Irmã Jane pediu para recebê-la aqui, Sra. Grapple - disse o homem.
- Claro, Sidney - disse ela - Addison, este é o Sidney, mordomo de Chateau Miranda.
- Esta é Addison Derringer ? - indagou Sidney, severo.
- Sim, Sidney, é ela - disse a assistente - A Irmã Jane requisitou que você a levasse ?
Sidney assentiu, abrindo a porta para mim.
- Não se preocupe, querida - disse Alexa Grapple - Suas coisas chegarão amanhã de manhã, e estarei sempre em contato com você.
Estava em pânico. Sidney me dava calafrios, e só a ideia de andar até não sei onde com ele não ajudava muito.
Ela me abraçou, acariciando de leve minha cabeça.
- Mais uma vez... Eu sinto muito, Addison - sussurou ela - Tenho certeza que em breve, você achará seu caminho para felicidade. Olhei fixamente para ela, agradecendo com os olhos. Sidney me deu espaço, com um sinal de reverência. Quando olhei para trás uma última vez, vi o olhar de Alexa Grapple. Ela estava fragilizada e, ao que parecia, com medo. Eu só não conseguia entender o por quê.
                               +++    
Sidney se manteve calado todo o tempo, ele era totalmente formal.
O medo que senti dele há pouco tempo pareceu dissipar-se e transformou-se numa cruel curiosidade. Se Sidney era assim, como seriam os outros funcionários do lugar ?
- Não sei se a Sra. Grapple informou-lhe, Srta. Derringer - disse Sidney, ainda formal - Mas Chateau Miranda é um orfanato católico, e bastante rígido. Certos comportamentos não são e nem serão tolerados. Temos métodos não muito formais, mas que funcionam perfeitamente.
- Não me interessa saber, na verdade - disse, friamente - Não ficarei por muito tempo, não se depender da Sra. Grapple.
Sidney deu uma risada debochada e cruel.
- A Sra. Grapple é apenas uma idealizadora, garota.
- Mal te conheço, e não já gosto de você - disse.
- Bom, vejo que é bastante insolente - disse Sidney, firmemente - Acho que chegou aos nossos cuidados no momento correto.
Parei quando o visualizei. Não era um grande edifício, ou uma casa, ou um pequeno chalé. Chateau Miranda era um grandioso castelo.
- Entre, garota - ordenou Sidney, abrindo os portões de ferro.
Entrei aos poucos, hesitante. No chão, pisei numa poça d'água. Perfeito. A porta principal do local se abriu, e alguém saiu de lá. Era uma freira, e parecia irritada.
- Por que diabos demorou tanto, Sidney, seu lixo ? - bradou ela, interrompendo-se ao me ver - Ah, você deve ser a garota Derringer.
Assenti positivamente, em resposta.
- Sou a Irmã Jane - disse ela - A responsável por Chateau Miranda.
- Um prazer conhecê-la, Senhora - menti.
- Venha, entre - ordenou ela, dando passagem.
Suspirei fundo, e passei por ela, quase decaindo.
O lugar era ainda mais grandioso por dentro do quê por fora, era simplesmente estonteante. Grandes pilastras brancas sustentavam um teto pintado com imagens bíblicas e simbólicas. Nas paredes, quadros simbolizavam Jesus Cristo e algumas passagens da Bíblia. Diversas freiras passaram por mim, guiando garotos e garotas de todas as idades para algo ou algum lugar. 
Uma garota morena se aproximou de mim, dando um sorriso de leve.
- Você é a garota nova ? - perguntou ela, docemente.
- Sou, sim - retruquei, envergonhada.
- Me chamo Rosalie, mas pode me chamar de Rose - disse ela.
- Me chamo Addison - disse, timidamente.
- Srta. Summers, leve a Srta. Derringer ao quarto que, agora, são de vocês duas - disse a Irmã Jane, fechando a porta principal atrás de si - Após o fazê-lo, leve-a até a Irmã Candice para que ela vista o uniforme. Observei o vestuário de Rosalie. Ela vestia um vestido básico cinza, assim como sapatos cinzas. Tudo naquela lugar parecia grandioso e coberto de tons de cinza.
- Então a Grapple te trouxe ? - indagou Rosalie, guiando-me pela grandiosa escada.
- Sim...Mas o Sidney me pegou no caminho - acrescentei.
- Eu odeio o Sidney, acho que todos aqui o odeiam - disse ela - Rachel me contou que uma vez o flagrou cheirando as calcinhas na lavanderia. Ele é um nojento.
- Mas as freiras sabem disso ? - questionei, chocada.
- Se sabem, ignoram - disse Rosalie - Vai perceber que a fé dessas mulheres é direcionada para algo que traga benefício para elas mesmas. Claro, temos como exceção a Irmã Sarah.
- Há quanto você vive aqui ? - perguntei, tentando não soar evasiva. Rosalie parou um momento. Percebi que este era um assunto complicado para ela.
- Não precisa responder se não quiser, desculpe-me - afirmei.
- Não, tudo bem. Vivo aqui desde que me lembro, mas os registros apontam que estou aqui desde os dois anos - disse ela - Chateau Miranda sempre foi meu lar. De acordo com  a Irmã Jane, minha mãe era uma prostituta e acabou engravidando de um homem casado. Não tendo condições de ficar comigo, deixou-me aqui, prometendo as freiras vir me buscar. Bom, isso não aconteceu até hoje.
- Sinto muito, Rose - disse, verdadeiramente triste por ela.
- Aprendi a conviver com isso, na verdade - disse ela, colocando os volumosos cabelos pretos de lado.  - Mas venha, tenho que te apresentar nosso quarto. 
                              +++
Chateau Miranda era incrível, mas ao mesmo tempo assustador. Cada centímetro, cada pessoa, tudo naquele lugar contava uma história. E eu estava louca para conhecer cada uma delas.
Sentei no último degrau da escada, esperando Rosalie terminar de se vestir. Parecia que as freiras queriam reunir as meninas para uma nova contagem, devido a minha adição.
Quando o silêncio predominou enfim, nada se escutava além dos ruídos dos batimentos do meu coração. Entretanto, algo rompeu o silêncio. Era um grito. Um grito ensurdecedor e cheio de dor, que me fez gelar. Rosalie, que já havia se arrumado, desceu rapidamente as escadas. Ela estava atônita, seus olhos refletiam o meu desespero
- Rose, o que diabos está acontecendo ? - disse, nervosa - Quem está gritando ?
Rosalie olhou para os lados, temendo que alguém estivesse nos vendo ou ouvindo.
- Dois dias antes de você chegar, um garoto foi trazido de um reformatório. Não tivemos tempo de descobrir seu nome ou qualquer outra informação relevante, porque...
- Porque o quê, Rosalie ? - indaguei, mais nervosa ainda.
- Irmã Jane o trancou na Torre do Precipício - disse ela, enfim. 
- Torre do Precipício ? - disse, confusa.
- Em uma das torres do castelo, há uma que dá acesso para uma floresta. Perto dela, há um precipício e de acordo com o que ouvi desde pequena, muitos acharam o fim da vida tentando escapar por lá - disse ela, com ênfase - Aquele lugar é tão horrível, que dizem que ainda há ossos de crianças por lá. 
- Que tipo de lugar é esse ? - bradei - Isso não fere algum dos direitos humanos ?
- Provavelmente...
Uma voz irritada clamou pela presença de Rosalie e a mesma foi logo em seguida. Os gritos do garoto tornaram-se mais frequentes, meus tímpanos estavam em chamas. 
- O que está fazendo aqui, Derringer ? - vociferou Sidney, com um aspecto ranhoso. 
- Estava apenas descendo as escadas, Sidney - disse, irritada - Que eu saiba ainda é permitido. 
- Insolente - disse, revirando o pescoço de forma não humana - Vou ensiná-la a me respeitar. 
Os olhos de Sidney tornaram-se etéreos e sem pupilas, totalmente brancos. Seus dentes restantes caíam para fora, e presas afiadas tomaram seu lugar. Mas o mais assustador nele eram... as garras. Eram imensas, asquerosas e vinham em minha direção.
- É melhor correr, loirinha - disse a criatura que Sidney havia se tornado.
Subi correndo as escadas, tropecei em cima de uma estatueta, que quebrou com o impacto, mas não dei importância. Meus cabelos criavam vultos vermelhos atrás de mim. Sidney engatinhava como... como uma aranha.
Abri uma porta, e entrei no recinto. Uma luz fraca, quase mínima tomou conta do recinto e senti-me imprensada na porta. Havia um garoto pressionando-me. Podia sentir sua respiração no meu pescoço, seu coração pacífico batendo contra o meu tempestuoso. Seus olhos negros encontram os meus, nos deixando em estado de puro êxtase.
- Quem é você, garota ? - murmurou ele, com certa repulsa.
- Addison, mas quem é você ? - disse, observando-o com atenção.Cabelos loiros crescidos, olhos fundos e negros, pálido como um fantasma.
- Olá, Addison - disse ele, deixando claro o seu tom de deboche - Meu nome não importa no momento. Agora cale-se se não quiser virar jantar de mordomo.

American Horror Story: OrphanageOnde histórias criam vida. Descubra agora