Chapter IX - The Orphanage Shelters Death

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A lama consumia minha roupa e meu coração se debatia contra o solo. O som inconfudível da cachoeira vindo á distância e o dos grilos cantando quase que em meu ouvido. Não havia rastro do Anjo em nenhum lugar, mas temia que ele estivesse esperando apenas a oportunidade certa para fazer sua entrada triunfal. Chateau Miranda degradava-se de fora para dentro, as crianças gritavam e as janelas estavam quebradas. Precisava avisar aos meus amigos que estava viva, mas eu estava tão distante da entrada e...
O som do galho quebrando-se despetou-me do devaneio que me fez levantar. Pus-me de pé, e visualizei a mata escura e as árvores imensas que me rodeavam. O melhor a se fazer era seguir o curso da água, que se mostrava presente no chão, devido a lama. Segui-a por um caminho tortuoso, meus pés doíam e meus olhos pareciam soltar das órbitas. Quando finalmente visualizei a cachoeira e por subsequência o precipício, suspirei longamente. Fora por ele que diversas crianças perderam a vida, isto é, crianças que acharam paz na morte. Uma garoa iniciou-se, meu cabelo uma vez sujo permitiu-se ser lavado tal como minhas roupas e meu corpo.
- Srta. Derringer ? - disse a voz conhecida do Dr. Further.
Quando virei-me para trás, pude vê-lo. Seus olhos refletiam uma dor amarga e um completo estado de pânico. Nas suas costas, jazia um machado. Aos poucos, sangue se expeliu de sua boca e antes que ele pudesse cair no chão ele segurou minha mão.
- Não pode... - a voz íngreme, o sangue expelia-se mais depressa - Não pode confiar em ninguém. Nem em quem acha que conhece.
- O quê ? - disse, desesperada - Quem fez isto com o senhor ? O que aconteceu ?
- Me mate! - a súplica em sua voz era nítida - Por favor, Addison. Me mate!
Com os olhos fechados, apertei suas vias nasais e pressionei minha mão sobre sua boca. As mantive ali até que não se pudesse mais sentir o tremor do ar comprimido. Eu o havia matado. Eu havia matado um homem. Tentei abafar meu grito e o tremor que se apossou do meu corpo, mas foi impossível. Seu corpo reluzia os gracejos da morte rápida e dolorosa, tal como seu olhar de paz. 
Virei-me de costas para o cadáver, e centralizei meu olhar para a cachoeira. Em meio á água, uma abertura revelava uma espécie de gruta. Eu não poderia ficar ali para sempre, nem com o cadáver do Dr. Further e o possível ataque do Anjo Malévolo. Levantei-me e sem olhar para trás, segui até ás águas. 
                            +++
A intensidade da água e do vento quase lançaram-me para trás, meu cabelo pendia sobre minhas costas e meu corpo estava congelando. A gruta estava sem quaisquer impedimentos e entrei com facilidade. O lugar cheirava a mofo e terra molhada, o que ocasionou um cheiro forte, porém não insuportável. Aquelas paredes paredes cinzentas e mórbidas me eram familiares; eu estava em Chateau Miranda, era inegável. A portinha que se apresentou para mim no momento seguinte me fez perceber que aquela gruta era, na verdade, um sótão. Ou outrora fora um. A abri lentamente, temendo o que poderia estar atrás.  
- Que bom que não está morta - entoou o sotaque britânico perfeito de Austin - Venha, suba. 
Sorri internamente. Com a ajuda da mão dele, ultrapassei a barreira e fui tomada pelo abraço caloroso de Rosalie. 
- Eu fiquei tão apavorada - grunhiu ela, trêmula - Quando aquele vulto levou você...
- Rose... - disse, trôpega - Further está morto. 
- Sarah também - afirmou ela.
- Sarah ? - indaguei, estupefata.
- Aqueles órfãos da Torre do Precipício estavam violentos e sedentos por vingança - disse ela, com repugnância ao lembrar da cena - Eles a atacaram com facões. 
- Candice - bradei - Onde está Candice ?
- Christopher foi procurá-la - afirmou Austin - Eu estou muito assustado com isso. Aqueles órfãos da Torre estão com sede de sangue. O sangue de todos nós. E estão nos competindo com os fantasmas de Aravis...
- Precisamos ir embora daqui - afirmou Rosalie. 
- Eu ainda preciso de respostas, Rose - assegurei, sem resistências - Onde fica o gabinete de Jane ?
- Fica na Ala Sul - disse ela - Mas é impossível acessá-la com esses psicopatas perambulando pelos corredores. 
- Na verdade, não é tão difícil - disse Austin - Esperemos até que Christopher retorne, quando isto acontecer, distrairei os meus companheiros por tempo suficiente para que consigam passar pelas corredores. Serão minutos preciosos, por isso, não desperdicem. 
- Mas eles irão matar você, Austin - resmunguei, de leve - Não posso deixar que faça isso. Não quando passou tanto tempo preso. 
- Você pode, e irá - vociferou ele, da mesma forma que um pai quando dá conselhos aos seus filhos - Eu passei da idade de conseguir uma adoção, Addison. E não sei adaptar-me ao mundo exterior sem entrar em contrariedade comigo mesmo. 
- Eu sinto muito - disse Rose.
- Se tem uma coisa que aprendi dentre esses anos é que existe uma diferença absurda entre não dizer o que sente e não sentir o que diz - disse ele - Neste momento, quero agradecer por terem me libertado de mais um dia naquele inferno, recompensando-os com minha morte. É o mínimo que posso fazer.
- Candice está na sepultura de... Bem, de Charles - sussurrou Chris, quase sem fôlego - Este orfanato abriga a morte e eu não quero ser mais seu residente por muito mais tempo. 
Rapidamente, Austin nos contou seu plano. 
- Pessoal, deem uma boa olha - disse Austin - Pois esta é nossa última neste maldito lugar. 
                              +++        
Subimos até o andar de cima e nos permitimos ficar de tocaia por tempo suficiente até que alguns dos órfãos da Torre aparecesse.  Seguindo o som dos passos, Austin ergueu-se.
- Augustus e Madison - disse ele - Já faz um tempo. 
- O que está fazendo aqui, McGregor ? - esbravejou o garoto - Sabe muito bem que não faz parte da turma. 
- Pobre Augustus, ainda achando que alguém quer fazer parte da sua turma parasita - ironizou ele - E Madison... Ainda implorando pelas sobras que ele te dá. 
- Apenas vá embora, Austin - disse Madison - Isso não é uma briga de gangues. É vingança. 
Austin nos deu o sinal, e a partir dele, saímos sorrateiramente do esconderijo. Olhei uma última vez para o rapaz que por pouco tempo e por quase nada, salvara nossas vidas. Seria eternamente grata ao garoto britânico. 
                             +++
O gabinete particular de Jane estava vazio e intocado. Diferentemente dos outros recintos de Chateau Miranda, o lugar apresentava uma coloração branco perolado e um tom fosco nos móveis. 
- Addie, o que você está procurando exatamente ? - indagou Rose, sentando-se na mesa de Jane. 
- Algo que explique a origem deste Anjo Malévolo, a minha ligação com isso - disse - E por fim, uma prova que coloque Jane atrás das grades. 
Abrimos e fechamos pelos minutos seguintes. A maioria papelada ali presente era simplesmente burocrática, mas..
Summers, Rosalie. 
Um arquivo sobre Rose ? 
Eu abri o arquivo, e choquei-me diante dos nomes de seus pais. 
- Addie ? - murmurou ela - O que é isso ?
- Seu arquivo, Rose - afirmei - O nome dos seus pais estão aqui.
Rapidamente, Rose tomou o arquivo de minha mãos. Por alguns minutos, ela o leu.
- Oh, meu Deus - disse ela, engolindo - Alexa Grapple é minha mãe ?
Abaixei minha cabeça. Isto não era o pior. 
- E meu pai é... Patrick Derringer. 
- Isso quer dizer que vocês são... - começou Chris, com relutância em terminar a frase.
- Irmãs - sussurrei, com os olhos cheios de lágrima - Meias irmãs, entretanto...
- Patrick traiu a sua mãe com a Grapple - balbuciou Rose - E por meio disso eu nasci. Agora tudo faz sentido. A "prostituta", o homem casado. 
- Grapple me disse que tinha uma filha chamada Audrey - afirmei, remoendo minha memória - Ou você tem outra irmã, ou a "Audrey" é você.
- Meninas! - gritou Chris, apontando para a fumaça vindo da caixa de ar.
- Fogo ? - perguntei.
- O orfanato está sendo incendiado - bradou Rose - Precisamos sair daqui agora! 

American Horror Story: OrphanageOnde histórias criam vida. Descubra agora