Chapter VII - These Violent Delights Have Violent Ends

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Na medida em que os sussurros por Chateau Miranda começaram, todos já haviam sido informados do desaparecimento de Rachel. Apesar de todos estarem apreensivos, as freiras souberam controlar a situação. Dr. Further havia sido chamado pela Irmã Jane sem nenhum motivo aparente, entretanto, algo me dizia que ela queria um relatório sobre mim. Rose e eu havíamos ficado no nosso quarto desde então. Imóveis, caladas.
- Quando Roman e Candice me levaram ao funeral, Rachel me abordou na escadaria – disse, singelamente.
- E o que ela disse? – murmurou Rose, de forma melancólica.
- Ela estava aterrorizada - afirmei, sem muita coragem para pronunciar as próximas palavras - Ela disse que achava que a Irmã Sarah tinha assassinado o Sidney.
Rosalie levantou-se num pulo, pondo a mão na boca para abafar o grito.
- Então foi à última vez que você a viu? - indagou Rose, sentando-se na cama novamente.
- Sim - disse - Na hora, não dei a devida importância aquilo, pois estava focada em buscar informações sobre Aravis e Charles.
- Tudo bem, temos que ser positivas - afirmou ela - Eles vão encontrá-la. Apenas espero que a boba não tenha sido leviana ao ponto de tentar fugir daqui. Eles a arrastariam para a Torre do Precipício.
- Falando nisso, precisamos ver o Chris - disse - Tenho que atualizá-lo quanto ao Charles.
A porta do quarto se abriu. Uma das garotas passou rapidamente para avisar que teríamos aula agora. Aula com a Irmã Sarah.
- Não consigo acreditar que Sarah tenha feito algo assim – disse Rose - Eu a conheço, Addie. Ela não é uma assassina.
- Vamos investigar isso a fundo, Rose. Primeiro vamos para aula -sugeri - Depois veremos o Chris e a partir daí, investigaremos a Sarah.
Assentimos em conjunto, e partimos para a aula de Sarah.
                            +++
Sarah estava apreensiva.  A sala estava totalmente organizada e todas as garotas estavam escrevendo o apontamento. Sarah virou-se para nós, seu semblante não era muito diferente do que seu corpo reproduzia. 
- Muito bem, vamos adaptar Shakespeare ao nosso tema - disse ela - Acho que todos aqui conhecem "Romeu e Julieta", certo ?
Todas nós afirmamos, mas algo sublime estava acontecendo. 
- E conhecem a famosa citação do Frei Lourenço: ''Estes prazeres violentos têm fins violentos". - disse ela - Poderiam me explicar o que o Frei quis dizer com isso ?
Vejo uma garota levantando a mão.
- Sim, Claire ? 
- Alegria violenta aqui, dor romantizada lá... Não precisa necessariamente ser uma alegria que cause dor, que fira, que machuque. Pode ser uma alegria veemente, apressada, pode-se se dizer imatura - disse ela -  Por exemplo, aquela alegria do primeiro amor, quando você vai com muita sede ao pote. E o que acontece? O pote vira e a paixão entorna, derrama. Você se frustra. Você se torna insano, capaz de matar. Se uma felicidade começa exagerada, seu fim não será outro senão do excesso. Por isso ele faz a referência ao fogo e a pólvora. O fogo percorre todo o caminho da pólvora, numa pressa, num desespero. Mas, quando se tem o contato, o fim é "diferente do planejado" e ocorre a explosão. Consomem-se, ou seja, a morte é o resultado de amores violentos.
- Perfeito - disse Sarah - O verdadeiro mal tenta nos aprisionar de todas as formas. Seja ele como um prazer violento ou como uma dor saturada. 
O sinal toca, causando burburinhos enquanto as garotas se levantam. Todas seguem para fora da sala numa velocidade realmente surpreendente, entretanto, tanto eu quanto Rose, seguimos de forma moderada, esperando pelo próximo ato da Irmã Sarah. 
- Addison, Rose... - disse a voz cansada e trêmula da freira - Podem ficar por mais uns minutos ? Preciso falar com vocês.
- Irmã - disse Rosalie, segurando meu braço de maneira apreensiva.
- O tema que abordei hoje não foi uma mera adaptação didática - disse ela - Sinto que perceberam isso. 
- O trecho que citou ? - disse - "Estes prazeres violentos têm fins violentos".
- Exato - disse ela - Lembra quando lhe contei a origem do Anjo Malévolo e da época da França Renascentista ?
Os olhos de Sarah, então, fecharam-se em pleno pavor. Uma dor forte, rápida e absoluta apossou-se da minha cabeça, derrubando-me no chão. O mundo ao redor começou a rodopiar e tremeluzir, até que tudo que restou foi a completa e isolada escuridão. 
                             +++
Quando meus olhos abriram-se novamente, o cenário era completamente diferente. Não estava mais na sala de aula e sim numa espécie de bunker. Minha cabeça latejava, algo ou alguém havia atacado-me por trás, diretamente na minha nuca. Ao meu lado, Rose gemia baixinho. Estava tão atordoada quanto eu, entretanto, mantinha-se sentada. Ao que parecia, ela estava olhando fixamente para frente. Levantei-me e fiz o mesmo que ela, até então finalmente estar frente a frente com a figura de pé, e ela era Rachel.
- A dorminhoca acordou - riu ela, indo até mim.
- Rachel ? - inqueri, confusa - O que está acontecendo ?
- Fim da linha, minha querida - disse ela - O Anjo falou que já era hora disso acontecer.
- O Anjo ? - vociferei - Mas ele não existe!
- É claro que ele existe, Addie - disse ela - Ele ronda Chateau Miranda todo o tempo, á espreita. No seu rastro.
- Meu rastro ?  - questionei - O que eu tenho com isso ?
- Por algum motivo, o Anjo Malévolo tem um interesse singular por você - disse ela - Acho que ele deve ter suas razões, afinal, ele trará de volta a Luz da Manhã. 
- Então a lenda é verdade ? - disse, fixando-me em seus olhos - E o que você tem com isso, Rachel ? Qual o seu envolvimento em toda essa trama ?
- Bom, acho que a primeira coisa a dizer é que meu nome não é Rachel - afirmou ela, sorrindo - Meu nome é Helen. 
- Helen, como Helen Duncan ?  - bradei.
Ela soltou uma risada sonora e comemorativa.
- Muito bem, garota! - disse ela - Eu sou Helen Duncan, a bruxa.  
- Você matou Sidney - disse, percebendo o fato eminente.
- Certa também - disse ela - Sabe, eu amava o Sidney, nos amávamos. Entretanto, sabíamos que como demônios da magia, trabalhar na causa do Anjo necessitaria de sacrifícios. E por fim, o Anjo determinou que na primeira ceifa, Sidney precisava morrer. 
- "Estes prazeres violentos têm fins violentos." - disse, levantando-me - Foi isso que a Irmã Sarah quis dizer. 
- Sarah atrapalhou meus planos desde o início - disse Helen, virando-se para Rose - Vocês duas, na verdade. Na noite em que matei Sidney, Sarah nos achou primeiro que vocês. Eu tive que simular um teatrinho diferente do que apresentei para vocês. Eu disse a ela que ele havia tentado me violentar e a estúpida caiu perfeitamente. Contudo, seu altruísmo superestimado a fez tentar me ajudar a me livrar do corpo. Ela me apresentou a esse útil e agradável bunker.
- Ela descobriu a verdade, não foi ? - murmurou Rose, atrás de nós - E quando ela começou a desconfiar que você o matou intencionalmente, você disse a Addison que ela o havia matado.
- Exatamente - disse ela - E aquele garoto, o Chris, também foi um empecilho bastante trabalhoso. Ele me viu momentos antes de eu "desaparecer" e isso estragaria meu álibi. Então, enquanto vocês dormiam, fiz Sarah o levar de volta para a Torre do Precipício, onde ele pertence.  
Meu coração bateu mais rápido, levantei-me num impulso, jogando-me contra ela. Visualizei uma pá, entretanto, não dei muita importância. No chão, impulsionei minhas pernas sob seu corpo, tentando mantê-la imóvel. As unhas dela mantinham-se pressionadas contra meu braço, fazendo-o sangrar, até que finalmente ela inverteu a situação.
- Eu não posso matá-la, mas posso fazê-la sofrer de formas inimagináveis - disse ela, suspirando e rindo - Perdeu o seu Romeu ? Romeu, Romeu.
- O que que esse Anjo pretende fazer, Helen ? - indaguei - Qual é o seu próximo passo ?
Ela riu ainda mais alto do que a primeira vez.
- Ele me disse... Que era hora de brincar!
Sarah a atacou com a pá, onde a acertou várias e várias vezes na cabeça; Quando finalmente a bruxa parou de se mover, engoli em seco.
- O que ela quis dizer com "hora de brincar" ? - disse Rosalie.
- Não faço ideia, meninas - afirmou Sarah - Mas precisamos recuperar o Chris da Torre. Jane planeja algo terrível para ele e quanto mais rápido formos...
A porta do bunker abriu-se violentamente. Por vários minutos, nada aconteceu e ninguém se mostrou. Uma neblina densa e cinzenta percorreu o ar, até que enfim, ela retornou. Era Aravis, a garota no túmulo de Charles. Ela sorria diabolicamente, e ela não estava sozinha.

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