Chapter XI - Grapple Down With The Darkness

116 14 2
                                    

Seguimos o Citroen 11 Legere de Alexa Grapple até sua residência e apesar da grande dificuldade para omitirmos a perseguição, acabamos conseguindo. Por sorte, não houve tempo para que o assunto do quase beijo fosse discutido e acho que isso permaneceria assim. Grapple não notara nossa presença, ou ao menos, transpareceu assim. Ainda não entendia a conexão dela com meu pai por completo, seria possível que ela houvesse matado-o ? Destarte, apenas desejava tomar um bom banho e descansar; o que, naquelas circunstâncias, parecia impossível.
- E então, o que faremos agora ? - disse Rose, do outro lado da moita.
- O que faremos agora ? - vociferou Chris, abaixando o tom de voz logo em seguida - Foi sua ideia segui-la.
- Eu não estava pensando, ok ? - confessou ela - Mas afinal, ela é minha mãe. E ela possui respostas que eu e Addison necessitamos. 
- É verdade, mas ela ainda é assistente social - disse - Ela seria capaz de nos levar até outro orfanato, não é ?
- Não deixaremos que isso aconteça - afirmou Rosalie, levantando-se - Vamos, precisamos interrogá-la. 
Eu e Chris nos entreolhamos. Parecia uma má ideia e ele concordava comigo, mas não descordaríamos de Rose por nada. Levantamos e a seguimos lentamente até a porta da assistente social. 
                              +++
Rose deu três batidas leves na porta. O som de alguém descendo as escadas dentro da casa se fez audível, provavelmente, a mulher estaria indo dormir. 
- Quem é ? - perguntou a mulher, seguida por um pigarro.
- Rosalie Summers, Srta. Grapple - disse ela - Precisamos da sua ajuda. 
A mulher não disse mais nada e quase que imediatamente, destrancou a porta. Alexa Grapple aparentava ser a mesma mulher que conheci há semanas atrás; os mesmo cabelos loiros cortados em estilo Chanel, as marcas de expressões quase que inexistentes e o mesmo olhar compassivo e desesperado que ela me lançou da última vez que nos vimos. 
- O que estão fazendo aqui a essa hora da noite ? - inqueriu ela, fechando seu casaco com os braços.
- Houve um incêndio em Chateau Miranda - disse, estudando-a - Não ouviu em noticiários ?
- Na verdade, acabei de chegar de Pittsburg - afirmou ela - Podem entrar, vou preparar um chá. 
A casa era tão organizada e limpa quanto transparecia por fora. Os móveis devidamente envernizados, a pintura da sala totalmente adequada ao tipo de espaço e o que mais se fazia notável em toda a residência: a presença de imagens religiosas. 
- Por favor, sentem-se - disse ela, tremendo - Deus, como está frio esta noite. 
Sentei no meio de Chris e Rose, estudando a casa ainda mais. Grapple fora até a cozinha e aproveitando a oportunidade, atentei-me para meus amigos.
- Se essa mulher não for o Anjo Malévolo, eu não sei quem é - disse, baixinho - As imagens religiosas por toda a casa, a conveniência de ter me levado até Chateau Miranda, a conexão com meus pais... É ela, gente. 
- Eu não teria tanta certeza, Addie - disse Chris - Ela está muito estranha, quase como se estivesse com medo de algo.
- Ou de alguém - completou Rose.
- Aqui está o chá - exclamou ela, retornando para a sala. - Trouxe uns biscoitinhos.
- Obrigado, Srta. Grapple - disse - Onde está sua filha, Audrey ?
A mulher quase engasgou, olhando diretamente para Rosalie.
- Está dormindo - respondeu ela, forçando um sorriso. 
- Que chá é esse ? - perguntou Chris, tentando suavizar o clima tenso que havia se formado.
- De verbena - retrucou a mulher, acendendo um cigarro - Desculpem-me por isso, realmente é um vício terrível. 
- O enterro dos meus pais foi há algumas semanas, não lembro de tê-la visto lá - disse.
- Ah, claro, eu não pude ir - afirmou ela - Eu fui para Pittsburg logo após deixá-la em Chateau Miranda. Sabe como é, assistentes sociais possuem uma vida burocrática bastante agitada.
Encarei-a por mais alguns segundos, por alguma razão, eu sentia pena daquela mulher na minha frente. Eu não a via como a amante de meu pai ou como a mãe da minha irmã, apenas a via como ela era: uma mulher aterrorizada.
- Sabemos a verdade, Alexa - afirmei - Rose é sua filha.
Grapple repousou seus olhos azuis em Rosalie.
- Então também já deve saber que o pai dela é...
- Sim, Patrick Derringer - disse - Meu pai.
- Peço que não julge-me com tanta iniquidade, Addison - suplicou ela - Eu não sabia sobre a existência da sua mãe quando eu e seu pai nos relacionamos. 
- Mas ainda assim entregou sua filha aos cuidados de Chateau Miranda - interpôs-se Rose - A fez acreditar que um dia viria para resgatá-la das crueldades e da tirania daquele lugar e nunca o fez. Fez-me acreditar que havia um refúgio para mim na vasta escuridão, mas não tinha, não é ?
- Dizem que quando não se pode lutar com a escuridão, você deve agarrar-se á ela - disse Alexa Grapple - E era nisso que minha promessa se baseava, Rosalie. Eu voltaria para te buscar, mas eu precisei agarrar-me na escuridão que me sufocava...
- Onde fica o banheiro ? - indaguei, interrompendo-a
- No segundo andar, á esquerda - disse a mulher, voltando-se para Rose.
Levantei-me e segui até a escada. Aquele momento pertencia a Rose e eu não seria capaz de estragá-lo. Contudo, eu precisava de respostas; por fim, subi as escadas da casa até o seu andar superior.
                              +++
O segundo andar era ainda mais amplo que o primeiro e mais obscuro também. Eu realmente queria ir ao banheiro mas não perderia a chance de poder investigar a casa também. Entrei no primeiro quarto que vi e este era o dela, aparentemente. Cores derivantes do bege predominavam o local e apesar de não ser tão perceptível, sentia-se o cheiro de rosas emanando. O guarda roupa dela era grande e espaçoso, um grande espelho refletia a minha imagem cansada e encardida. Olhar para o mesmo lembrava-me o que Aravis me dissera uma vez: "A ascensão das Trevas se aproxima.. Como um espelho que possui duas faces, como um nascimento precoce vindouro de uma promessa satânica. Como a sepultura falaz que predomina o solo profanado..."
Olhei para o espelho novamente. Minha imagem permanecia nítida, porém, algo não estava certo. Segurei uma mecha do meu cabelo, mas o reflexo não acompanhava, era impossível. 
"Como um espelho que possui duas faces".
- Olá, irmãzinha - disse meu reflexo - Surpresa!
Senti uma mão puxando meu cabelo por trás e era... meu reflexo!
- Desculpe-me por essa surpresa medíocre - disse ela - Eu havia elaborado algo muito melhor, mas... A situação fugiu das minhas mãos. 
Descíamos as escadas, eu estava confusa, como isso era possível ?
- Quem diabos é você ? - indaguei
- Sério, irmãzinha ? - riu ela - Sou Audrey. Derringer, claro. Sua irmã gêmea. 
Ouvi o choro de Rose vindo da sala e vislumbrei o corpo de Alexa Grapple no chão sob uma poça de sangue.
- Sério, Charlie ? - bradou a minha gêmea - Isso foi realmente necessário ?
- Desculpe, amor - disse a voz de Chris - Eu me empolguei.
- Addison, Rosalie - disse ela, espantando Rose com sua aparência - Quero que conheçam o amor da minha vida, Charles Clifford.
Chris sorria para mim, seus olhos assemelhavam-se com os do demônio. Eu estava paralisada, eu não sabia o que fazer, então tudo que me permiti fazer foi gritar.

American Horror Story: OrphanageOnde histórias criam vida. Descubra agora