Capítulo 3

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Depois de conversar muito - e de sentir que eles escondiam alguma coisa de mim - voltamos para o corredor da despedida.
- Até, Jagiya. - era Hyungwon se despedindo.
Depois dessa noite nós já nos tornamos amigos.
- Até, Jagiya - Minhyuk repete a frase de Hyungwon.
Antes que eu falasse alguma coisa a porta deles se abre e Jooheon sai de lá.
- Jagiya, a gente pode conversar?
Ele fala diretamente comigo, sem olhar pros meninos. Hyungwon e Minhyuk se afastam discretamente e movimentam os lábios falando um "depois a gente se fala".
Minha vontade era de me esconder num casulo de glitter dentro do meu quarto, só que decidi encará-lo de uma vez.
- Tudo bem. - eu respondo com uma vozinha tão engasgada que nem parece ser minha.
Nós descemos e esbarramos com Hoseok no hall.
- Jagiya, oi!
- Oi.
- Onde vocês vão?
Eu abro minha boca pra responder, mas Jooheon pega meu braço e me puxa com ele.
- O que deu em você? - pergunto quando estamos mais longe.
Ele me solta.
- Não foi nada.
- *Merda* Tô cansada de todo mundo me enganando. Tem alguma coisa que vocês tão escondendo de mim.
Ele começa a rir repentinamente e minha raiva fica abalada.
- Não, você não pode fazer isso.
- O que?
- Ficar rindo. Eu quero sentir raiva de você, vontade de te bater, não de apertar as suas bochechas e te colocar num berço.
Ele ri ainda mais e eu começo a sorrir também. Maldito, maldito, maldito sorriso!
Nos sentamos no lugar de sempre (de novo esse maldito "sempre").
- Eu quero pedir desculpa por - ele gesticula, mexe as mãos, bagunça os cabelos - por ter te feito entender o que você entendeu. Nunca foi minha intenç- - Ele se interrompe.
- O que?
- Eu não posso dizer que nunca foi a minha intenção. Quando eu te vi já tinha imaginado tantas coisas que a gente podia fazer que-
- Eu também - falo - mas isso não é o que interessa aqui.
O olhar dele volta a ter aquele poder sobre o meu corpo. Agora eu só queria sentar no colo dele, senti-lo duro, beijá-lo. Engulo em seco. Concentração, concentração, concentração.
- Apesar disso, eu- Aish, isso é muito difícil. - ele respira fundo - Eu gosto de você. Toda você.
- Jooheon-
- Honey. - Ele me corrige.
- Você não me conhece, eu já disse isso.
- O que impede a gente de se conhecer melhor? - Vi cinco sentidos possíveis nessa frase e me arrepiei toda.
- Amigos. Vamos ser bons amigos. - Apressei em dizer antes que eu o levasse ao meu apartamento.
- É um bom começo. - Ele oferece a mão e eu a aperto.
Não foi um aperto de mão rápido do tipo amigável, foi o tipo de aperto de mão "vou-te-comer-S/n" acompanhado do olhar "e-você-vai-gostar-e-gemer-meu-nome".
Acho que sem querer mordi meus lábios, por que os olhos dele se detiveram ali por um bom tempo. Nossas mãos pareciam soltar faíscas.
- Vamos voltar? - Eu pergunto, a voz sai sem muita certeza. Observo seu pescoço e que vontade me dá de mordê-lo.
- Vamos. - ele responde com a mesma incerteza.
Eu separo nossas mãos e me levanto. O clima permanece o mesmo até que chegamos no corredor e nos despedimos.
Entro no apartamento. Coloco a mão em cima do meu peito e respiro devagar sentindo meu coração querer se esconder no meu estômago. Isso ou eu só tava com fome.

♡♤♡♤♡
No dia seguinte fui para a aula. Mal conseguia prestar atenção. Nem o professor bonito ajudava.
A tarde estive no restaurante e fui informada que teria que ficar até mais tarde, outra garçonete passou mal e eu ia substituí-la. Depois de andar horrores com o salto do trabalho eu estava morta. Voltei para o prédio e fiquei aliviada quando cheguei ao corredor. Entrei no apartamento e sorri, quase gargalhei.
Puta que pariu, como eu odiava meu emprego.
Sentei no sofá com as pernas apoiadas na mesinha de centro e liguei a TV com o controle. Fui mudando de canal e deixei num canal de programação musical e fechei meus olhos, ouvindo umas músicas de kpop tocarem.
"Monsta X está crescendo e conseguindo grande público internacional. Como vocês se sentem sabendo disso?
- Eu fico bem emocionado. As monbebes são as melhores, sempre nos apoiam, mesmo do outro lado do mundo."
A voz me é familiar, mas eu continuo esperando essa entrevista acabar.
"- Cada um de vocês pode dar um recado para as fãs? Digam o nome e a mensagem para a câmera.
- Eu, Jooheon, sou sinceramente grato por tudo. Acompanhem a gente."
Fiquei em estado de choque quando escutei a voz e nome do Jooheon. Abri os olhos e não pisquei até as mensagens acabarem. Nomes, aparência, vozes. Ou eu tinha sete vizinhos sósias ou o grupo inteiro do meu lado nesse exato instante. PUTA. QUE. PARIU.
Queria sair, mas estava tão cansada pra tomar ar ou pra tirar satisfação que achei melhor dormir. E daí que eram idols? E assim acaba minha quarta-feira.
Passei dois dias sem ver os meninos. Aquela história de idols parecia ser um sonho. Dei uma pesquisada sobre os meninos, ouvi músicas, vi MV e alguns programas de entretenimento. No final das contas as personalidades batiam muito bem. Além disso, foi uma ótima oportunidade para ver os meninos em várias roupas diferentes e babar. Até os shipps eu achei. Até fanfic li.
Cheguei a conclusão que não sei se consigo encarar os meninos de novo.
Penso em passear, andar pelas ruas.
Visto alguma coisa quente e abro a porta. Vejo uns reporteres se despedindo uns dos outros e indo embora. Os meninos se curvam, se despedindo de todos. Depois eles todos suspiram, um suspiro tão sincronizado que parece combinado.
- Oh, Jagiya, tudo bem? - Hoseok se aproxima.
- Wonho.
Eu cruzo os braços e o encaro.
- Você já sabe?
- Vocês passaram na TV. - Respondo secamente - Podiam ter me dito antes, eu não ia atacar ninguém.
- Jagiya, desculpa - Minhyuk diz - é bom conversar normalmente com alguém, acho que a gente... se empolgou. É.
- Não escondam mais coisas de mim. - Eu falo olhando para Jooheon - Vou demorar a perdoar vocês.
- Eu prometo - Minhyuk fala prontamente.
- Eu também - Agora era Hyungwon.
Os outros membros não respondem, provavelmente não confiam em mim ainda.
- Ótimo. Vou dar uma volta por aí, até mais.
Eu entro no elevador e Hoseok entra comigo. Jooheon tenta alcançar o elevador, mas Hoseok aperta freneticamente o botão pra fechar as portas.
- Por que vocês fazem isso? - pergunto.
Ele começa a rir alto. Tão engraçado e lindo que dá vontade de rir junto.
- É coisa nossa.
Quando saimos para o hall ele me pergunta aonde eu vou.
- Andar por aí.
- Posso ir junto?
Eu penso um pouco. A companhia dele não era desagradável, além disso ele tinha um sorriso tão lindo, né?
- Sim.
A gente caminha devagar uns três quarteirões até um parquinho. Nós dois sentamos nos balanços.
- Então - eu começo - não tem problema vocês serem vistos comigo?
- Não, aqui na Coreia as pessoas mal reconhecem a gente. O bairro ajuda.
- Entendo.
- Você tá muito chateada?
- Acho que eu entendo um pouco disso tudo. Faz até sentido vocês terem escondido. Mesmo assim tô bem chateada.
Ele se levanta e fica na minha frente, eu sentada no balanço, ele em pé.
Hoseok se curva na minha direção.
- Por que - ele começa a falar, a mão dele na minha nuca - Por que sempre que eu tô com você - Ele olha para a minha boca e se aproxima mais um pouco - tem alguma coisa no seu cabelo?
Ele tira um pouco de algodão (acho que era de alguma das minhas roupas) da minha cabeça e eu respiro aliviada quando ele se afasta, mesmo que a mão dele continuasse na minha nuca.
- Obrigada. - eu agradeço. Ele continua me olhando, como se decorasse os detalhes do meu rosto, depois volta ao seu balanço como se nada tivesse acontecido.
- Hoseok - eu olho pra ele - da próxima vez que tiver alguma coisa no meu cabelo, é só avisar.
Ele sorri e começa a se balanças no próprio balanço, quase como que ignorando o que eu tinha acabado de falar.
- Jagiya - ele chama - o que você faz? Com o que você trabalha?
- Garçonete de meio período.
Eu perguntaria um "e você?", mas lembrei, ele é um idol.
- É ruim?
- É péssimo, mas eu não posso não achar ruim. Preciso do dinheiro pra me sustentar.
- E sobre o Brasil? Sente falta?
Eu lembro de toda a minha família. Um ano sem ver nenhum deles, falando só por telefone.
- Sinto - Eu rio triste. - Vamos voltar.
- Já? - Ele pergunta assustado.
- Uhum. Tô com dor de cabeça.
O plano era passar o dia andando pela cidade, mas pelo visto eu não tinha animação o bastante pra continuar.
Nós voltamos e eu liguei pra casa, falei com meus pais, disse que sentia saudades. Não era o bastante, mas fazer o que, né? Pegar um voo pro Brasil com que dinheiro?
Dormi a tarde quase toda e não planejava sair a noite.
Tocaram a campanhia e eu perguntei quem era pelo interfone.
- Eu - era Jooheon - Nós... A gente veio jantar.
Abri a porta e todos os meninos entraram de uma vez. Os sete. Changkyun, Soo Hyun e Kihyun ainda bem tímidos, mas vieram mesmo assim. Todos eles com sacolas.
- *Quentinha?*
- O que é *quentinha*? - Hyungwon perguntou.
Eu tinha que parar de misturar português e coreano, definitivamente eu tinha que parar.
- É como a gente fala em português pra comida que vem nessas embalagens e talz.
- Aaah - ele faz uma carinha muito fofa - Entendo.
- E o que é *caralho*?
Jooheon pergunta com os olhinhos brilhando e eu finjo não escutar a pergunta.
- O que vocês trouxeram?
Nos sentamos no chão, no sofá, a gente se distribuiu bem pela sala e começou a comer.
- Hmm, muito bom - Eu falo já colocando outra colherada na boca.
- Não tem problema a gente comer aqui? - Kihyun perguntou.
- Não - respondo - a não ser que vocês queiram me matar. Espera, - passo os olhos em todos eles realmente preocupada - Vocês mataram o antigo morador daqui?
- Não.
- Então podem vir quando quiserem.
Kihyun ri.
- Por falar em morador antigo - agora era Shownu - Você não tem medo?
- Não, tá tudo bem. O proprietário já tirou o tapete.
- Tapete? Que tapete? - Agora era Minhyuk.
- O tapete que ele morreu em cima.
- Espera - Jooheon termina de mastigar e fala - Você remobiliou, né?
Eu abri um sorriso de orelha a orelha já imaginando a reação dele.
- Não.
- Aaaaaish - ele se treme todo como se sentisse calafrios.
Minhyuk volta a falar:
- Eu ouvi boatos que ele morreu na cozinha.
- Não, não. Ele morreu na sala, bem aqui. - Falei apontando um pouco mais a frente da mesa.
- Jagiya, pede pra ele remobiliar - Jooheon diz levantando do chão e sentando no balcão da cozinha.
- Assim é mais barato.
Eu solvo o macarrão todo. Uma delícia.
- Muito gostoso. - Eu repito e os outros concordam. - Hm, quer dizer que vocês cantam e dançam? Idols? Sério mesmo?
- Jagiya tá bem calma pra quem acabou de descobrir sobre a gente. - Changkyun comenta.
- Você fala?! - Perguntei e ele começou a rir. - Faz mais de dois dias que descobri, aí comecei a pesquisar sobre vocês.
- E o que você descobriu? - Era Changkyun outra vez.
- As fãs tem muita criatividade. Vou traduzir um imagine brasileiro pra vocês depois.
- Eu ainda tô esperando você falar dos palavrões. - Era Jooheon, ele queria me deixar envergonhada, mas eu ia sair dessa por cima.
- *Caralho* é "pênis" de um jeito bem informal.
Continuei comendo tranquilamente enquanto os meninos processavam aquilo.
- Wooooow - todos reagem ao mesmo tempo.
- Jagiya, você é ótima. - Minhyuk faz um coração com os dedos e eu o imito. - E "aish"?
E eu passei uma hora inteira comendo e dizendo palavrões em português para os meninos do Monsta X.
Depois disso nos despedimos e dissemos "até amanhã".
E foi assim que eu fiz boas amizades em apenas alguns dias. Depois virou costume (faz duas semanas que isso começou) a gente comer junto alguns dias na semana. Eu nunca sabia quando eles vinham, por causa da agenda lotada. A gente ria, falava informalmente e eles levavam cerveja de vez em quando. Eu só bebia dois dedos dela num copo, só pra acompanhar mesmo.
Agora já era sábado a noite. Como os finais de semana era complicados pra eles, pensei que não viriam, mas o interfone tocou.
- Jagiya, sou eu, seu Honey.
Jooheon queria que eu o chamasse de Honey, mas como eu achava engraçado o "Jooheon" permanecia firme e forte.
Abro a porta e ele está sozinho com duas sacolas.
- Hoje eu vim sozinho, tudo bem?

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