Heroin

Respirei fundo olhando todo local, que agora, seria visitado diariamente por mim. Pensei em todas as madrugadas mal dormidas que passei devorando - literalmente - meus livros de anatomia. A recompensa pelo esforço havia sido alcançada, o orgulho dos meus pais mostrado explicitamente, e claro, uma vaga na melhor clínica da cidade, o Sta. Judes.

Sta. Judes era um estabelecimento privado para jovens que sofriam com a dependência química e alcoolismo. Haviam vários setores, os de médicos renomados, assistência social, centro de psicologia, e o que eu me encaixaria, centro de psiquiatria.

Meu peito inflou e o nervosismo expandiu-se por meu corpo, ao ver todas aquelas pessoas que faziam parte daquela equipe de saúde. Desde quem se responsabilizava pela limpeza do ambiente, até um médico consagrado.

- Olá, você está perdida? Precisando de algo? - uma mulher de estatura mediana despertou-me de pensamentos pessimistas.

- Não... quero dizer, sou a nova psiquiatra da clínica. - ela deu um sorriso, mostrando todos os seus dentes branquíssimos e bem alinhados.

- Ah, ouvi falar de você. Meu nome é Magdalene, mas me chame apenas de Maggie. Sou uma das nutricionistas do Sta. Judes.

Isso explicava seu corpo esguio e esbelto, Magdalene era ruiva e sua pele pálida continha pequenas sardas, quase imperceptíveis. Suas curvas eram dignas de uma modelo fotográfica e seu perfil era elegante e bem ativo. Diferente de mim, que tinha um corpo pequeno e com poucas curvas.

- Eu sou Annelise, pode me chamar do que quiser. - sorri simpática e ela assentiu colocando suas mãos no bolso do jaleco branco neve. - Sabe por onde começo? - falei ansiosa com o curriculum em mãos.

- Acho que você deveria informar ao Dr. Sanchz, o diretor do hospital.

Assenti seguindo suas instruções até a grande sala onde encontrava-se o responsável pelo hospital.

- Você deve ser Annelise Williams. - ele deu uma pausa para cumprimentar-me. - Ouvi bastante sobre você.

- Espero que tenham sido agradáveis.

- Oh sim, pelo que consta em seu curriculum, suas excelentes notas na universidade, garantiram uma vaga nessa instituição. Antes de tudo, quero que leia as regras e apostoles, não admitimos qualquer tipo de mal comportamento, principalmente vindo de estagiários.

- Não se preocupe, quanto a comportamento, respeito e coisas do gênero. Sou uma psiquiatra e sei meus limites.

- Ótimo, era exatamente isso que eu queria ouvir.

O Dr. Sanchz era um homem com uma certa idade, seus cabelos grisalhos eram bastante perceptíveis e suas olheiras e rugas indicavam o quanto se esforçava e empenhava-se em seu trabalho.

- Seus materiais e fichas de pacientes, estão em sua sala. Segundo andar, corredor quatro, sala onze. - ele continuou e eu assenti. -

Antes que pudesse sair de sua sala, o mesmo chamou minha atenção.

- Seja bem vinda. - fiz um aceno com a cabeça e me direcionei a minha nova sala.

[...]

Vesti o jaleco branco que estava dobrado elegantemente, em minha sala, que era pequena, mas bem aconchegante. O nome bordado em linhas pretas enchia meu peito de orgulho próprio. Minha mesa de mármore estava bem organizada com todas as fichas de meus pacientes, empilhadas. Caminhei até a mesma e folheei pacientemente, destacando os vícios, as substâncias químicas, familiares, relacionamento com os mesmos... Até que uma ficha instigou minha atenção.