"Trair o rei é o primeiro passo para a insanidade."
- Denatheor, rei dos dragões
Missandra correu o máximo que pôde, até sentir seu pulmão querendo estourar no peito. Com a respiração entrecortada, olhou para trás, mas não viu sinal de seu guarda-costas. Resolveu subir para a murada do castelo pelas escadas de pedra, com a intenção de poder puxar a maior quantidade de ar possível no alto.
Sentiu os olhos marejarem pelo esforço, todos os seus músculos reclamando da tensão súbita e desesperada. Parou mais uma vez na escada para a murada, olhando para trás e respirando fundo várias vezes.
Ela não entendera o que acontecera. Nem mesmo quando seu pai a fitava com fúria por ter desobedecido alguma ordem, ela temera daquela forma. Como se seu cérebro soubesse de algo da qual não queria avisá-la, mas a fazia correr dos perigos feito uma louca.
Aquele olhar não deixava margem para dúvidas.
Lantis a odiava.
Ela terminou de subir as escadas sentindo-se atordoada. Era final de tarde, e os guardas haviam se recolhido para o chá. Era engraçado; se alguém quisesse atacar o reino era só vir quando o sol estivesse se pondo. Não haveria viva alma na murada.
Contudo, o reino era famoso por causa da derrota dos dragões. Fora seu pai, o rei, que havia matado todas aquelas criaturas que causaram horror e destruição a todos os reinos. Ninguém ousava atacar Ayala. Os dragões eram a raça mais poderosa de todo o planeta e haviam sido derrotados; o que seriam algumas hordas de humanos?
Subiu na murada, sentindo o vento levantar de leve sua saia até os joelhos e os cabelos soltos se agitarem buscando dançar com o vento. Respirou profundamente, inalando e expirando, tentando eliminar a ansiedade de dentro de si.
Isso já acontecera antes. Lantis já olhara para ela assim. Mas por que agora sentia-se tão fragilizada?
Enquanto equilibrava-se na murada, observava com indiferença a paisagem lá de cima. Eram mais de vinte metros de queda livre se perdesse o equilíbrio, mas ela riu consigo mesma. Jamais perdia o equilíbrio.
Uma voz foi trazida pelo vento. Ela olhou para baixo, buscando ver se alguém conseguia vê-la lá em cima. Melhor não. Ia tomar o maior dos esporros.
A voz veio mais aveludada, insistente.
Ela se inclinou mais para baixo. Se a pessoa podia vê-la, faria sinal para que se mantivesse em silêncio. Subitamente a voz soou mais clara e urgente.
– Missandra, afaste-se desta murada!
A sua proximidade fez seu coração pular. Ela virou-se rapidamente e avistou Lantis de relance, antes de perder a firmeza nos pés e despencar no vazio.
– Missandra!!
Ela fechou os olhos assustada por não mais poder sentir o chão sob seus pés e sentiu um tranco forte no corpo.
Ela pairou no ar. Alguém a segurara pela mão.
Seu corpo raspou na beirada e ela atingiu com força a parede. Seu tornozelo batera forte na pedra que estava levemente torta na murada do castelo, abrindo um corte profundo.
– Ah!
– Missandra, você está bem?
Ela respirou fundo para que sua voz não tremesse quando falasse. Olhou para cima e o olhar de Lantis era calmo, profundo e cheio de compaixão. Será que sua imaginação lhe pregara alguma peça? Ele não parecia ser o mesmo homem da biblioteca agora.
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O Legado do Dragão - degustação
Fantasy"Os dragões eram a lenda. Temidos, admirados. Viviam entre as pessoas disfarçados de seres humanos. Espreitando. Espionando. Parecendo buscar a paz, mas sempre tendo em vista o domínio. Sua última cartada. Rei Gallad, o mai...