48| pov

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- April -

Uma enorme nostalgia passa por mim enquanto eu observo uma moldura de madeira escura com uma fotografia de mim e do meu irmão lá dentro. Eu sorrio ao lembrar-me dos seus cabelos lisos e castanhos, tais como os meus, mas os dele conseguiam ser mais claros. Os olhos dele eram também castanhos e ele vivia a reclamar que eu tinha puxado o melhor lado da família, já que os meus eram verdes.

Ali tínhamos onze, doze anos não sei. Não éramos mais que duas crianças inocentes que só precisavam de aproveitar os momentos e serem felizes, e nós realmente éramos felizes. Não havia nada de errado.

Eu sinto tanto a falta dele que dói. Porquê que isto teve de acontecer, logo com ele? Porquê? Eu precisava dele aqui comigo, eu ainda preciso...

Acabo de passar os dedos pela moldura e paro para ouvir o silêncio completo na casa. Eu não faço ideia onde a minha mãe possa estar, talvez ela tenha saído para ir a algum lado ou simplesmente esteja a dormir. Eu agradeço-lhe tanto por isso, ela não me fez perguntas nem sequer ousou perguntar o que se passava enquanto eu chorava no quarto e recusava-me a sair. Ela apenas estava lá, para mim.

Pode parecer estranho, mas esta é a primeira vez que saio do quarto em dias, eu perdi a conta depois das 72 horas.

Empurro os cabelos para longe do meu rosto e sinto alguma oleosidade neles, realmente preciso de tomar banho mas a minha vontade para fazer o que quer que seja é nula. Caminho até ao meu quarto cansada, a passos pequenos e vagorosos e antes de entrar olho para trás prendendo os meus olhos à porta do quarto da frente. O quarto do meu irmão.

Tenho vontade de entrar nele e deitar-me sobre a sua cama, a minha mãe fez questão de não mudar os lençóis desde que ele morreu, ela nem arrumou ou tirou as roupas dele do roupeiro. E já se passaram 5 anos.

Suspiro, e obrigo-me a entrar no meu quarto fechando a porta atrás de mim. A cama está desfeita, há livros espalhados pelo chão e a luminosidade é fraca por causa da janela fechada. Eu sei que eventualmente vou ter de arrumar esta confusão toda, mas por agora tudo o que me apetece fazer é dormir que é tudo o que tenho feito nestes últimos tempos.

Deixo-me cair para trás na cama sentindo as minhas costas baterem contra algo macio -o colchão. A luz brilhante do meu telemóvel a piscar chama a minha atenção e eu puxo-o de baixo da almofada. Assim que ligo o ecrã sou surpreendida por todas as mensagens e notificações das redes sociais envolvidas nele.

Eu sei que deixei toda a gente preocupada, passou-se tanto tempo e eu não tenho dado notícias. Só a minha mãe sabe onde estou e isso é porque vivo com ela.

Oiço o barulho da campainha a tocar, mas ignoro. Os meus pensamentos estão numa única pessoa agora:

Brandon. Brandon Violet.

"Eu duvido que vás conseguir falar com ela. Ela não fala com ninguém." A voz doce da minha mãe soa e apercebo-me dos seus passos a aproximarem-se. "Já faz quase uma semana que ela está trancada, não sai nem para comer."

Uma semana?!

Ela suspira. "Começo a ficar preocupada com ela." Diz com uma ponta de tristeza. "No entanto, se achas que consegues fazer algo, por mais mínino que seja, faz-lo. Por favor. Tudo o que eu quero é ter a minha filha de volta."

"Obrigado." Alguém que não consigo perceber quem é, fala.

Franzo a testa. Quem é desta vez? A Scarlet ou a Chelsea? Já disse que não quero falar com nenhuma delas.

"Filha." A minha mãe grita como se eu já não a tivesse ouvido. "Tens uma visita."

Grunho sentando-me na cama, deixando-me estar calada. Quem quer que seja, não estou com paciência.

Social life | Matt EspinosaOnde histórias criam vida. Descubra agora