121| pov

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- April -

Fecho a porta da casa de banho e pressiono-me contra ela, olhando em volta. Tudo normal, não há com que me tenha de preocupar. Certo?

Ugrh. A quem é que estou a tentar enganar? Há sim, coisas com que me tenho de preocupar. Não é possível alguém mais saber da existência daquela carta, só eu é que sei disso. Eu e mais ninguém.

Puxo a torneira para cima e logo água corre por ela até ao ralo. Junto as minhas mãos por baixo da mesma e levo-as ao meu rosto, sentindo a minha pele molhada.

Eu tenho de me acalmar, é só isso que preciso de fazer e depois tudo fica bem.

Encaro o meu reflexo no espelho e assusto-me quando o vejo. Eu estou horrível. Os meus lábios estão enchados, as bochechas levemente rosadas, o cabelo uma confusão e a respiração irregular.

Sinto uma dor aguda na zona do peito quando me volto a lembrar daquelas estúpidas mensagens. Eu sei que foi injusto da minha parte guardar aquela carta só para mim quando há várias pessoas envolvidas nelas, no entanto eu precisava de sentir que o meu irmão tinha deixado alguma coisa cá. Apenas para mim. Ele devia-me isso. E foi por essa razão que eu escondi a carta.

É impossível ele ter-se ido e não me ter deixado nada pra eu me lembrar dele. E eu quero-me lembrar dele, eu preciso de algo dele que me faça lembrar do sorriso dele cada vez que olho para o objetivo.

E, caramba, eu tenho tanto medo que um dia as memórias que tenho nossas se desvaneçam. O Brandon não merece isso, ele tem de ter um lugar na minha vida. Porra, ele é meu irmão.

Agarro num punhado de cabelos com força e lágrimas rolam pelas minhas bochechas.

Não vou permitir que me roubem a carta, eu não posso ficar sem ela. Nem a minha mãe sabe da sua existência, como é que este desconhecido sabe?

Pior é se ele me começar a ameaçar por causa disto... Não, eu não posso permitir que façam isso comigo. Mas a carta, ela é a coisa mais preciosa que tenho, abdicaria de tudo por ela.

Tudo.

O choro não pára, só tende a aumentar. E eu sinto-me ficar mais desesperada a cada segundo.

Para onde foi todo o controlo que eu tinha sobre mim mesma, ah? Para onde foram todos aqueles dias na psicologa? Já se passaram 5 anos, eu devia estar a seguir em frente, o meu sofrimento deveria ter diminuído. Mas não. Parece pior.

Acalmar. Eu preciso de me acalmar. É tudo uma questão de fechar os olhos e respirar fundo. Porém, não resulta. Ou pelo menos não está a resultar agora.

Um 'clique' dá-se na minha cabeça e eu lembro-me dos calmantes que a minha mãe me trouxe da farmácia. Céus, como é que não fui pensar neles antes?

Os meus dedos tremem ao abrir o armário pendurado na parede, observo todos aqueles medicamentos e logo encontro o frasco destinado a mim.

Calmantes. Violet, April.

Abro a tampa pousando-a em qualquer lado e retiro um comprimindo de lá, forçando-me a engolir.

Respiro fundo, afastando os meus cabelos da cara e concentro-me em respirar normalmente.

Todos aqueles nomes marcados na carta, mataram um pedaço do Brandon. Todos eles levaram-no a acabar com a sua própria vida. Até eu, a pessoa que mais o queria ajudar.

Ele sempre foi muito reservado e na altura, nós éramos o contraste um do outro. Mas depois de ele morrer, eu fui-me tornando outra pessoa. Alguém que eu nunca pensei em ser. Mas é mesmo assim, não é? O que vivemos é o que nos faz.

Sinto-me acelerada, sinal de que o comprimido não resultou. Talvez um só não chegue... Preciso de mais. Realmente tenho de calar estas vozes dentro da minha cabeça ou vou acabar por fazer algo que não quero.

Viro alguns comprimindos do frasco para a minha mão e meto-os na boca. Numa estimativa, foram uns treze eu acho. Mas tudo bem, desde que resulte.

Fecho o armário e volto a olhar para o espelho. A minha pele que antes estava rosada está agora incrivelmente pálida, os meus lábios secos e gretados e a cor clara dos meus olhos mais dilatada.

Isto vai passar, eu sei que sim. -tento convencer-me, fechando os olhos e voltando-os a abrir. No entanto, não há só um reflexo no espelho. Há três. Ambos de mim.

O quê que se está a passar? Era suposto sentir-me melhor, e não extremamente cansada. As minhas pálpebras pesam e há fortes tonturas a atingir-me.

Eu vou ficar bem, Brandon, sei que sim.

As minhas pernas falham e eu estou demasiado fraca para me conseguir levantar outra vez.

Não, eu preciso de ficar.

Pela minha mãe, pelo Matt, pelos meus amigos. Eles importam-se.

Os meus olhos fecham-se, por fim cedendo ao cansaço e eu apago.

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espero que tenha ficado bom

o que deverá conter esta tal carta de suicídio que o brandon deixou?

quem é o desconhecido que lhe manda sms?

xx Buhh

Social life | Matt EspinosaOnde histórias criam vida. Descubra agora