126| pov

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- Matt -

Eu estou sentado na mesma cadeira à pelo menos uma hora e meia. Mas eu não estava pronto para fazer outra coisa se não esperar.

Eu esperava que alguém entrasse por aqui e me dissesse que isto não é mais que uma brincadeira. Eu esperava que me dissessem que tu estavas à minha espera lá fora, April, que estavas feliz e a rir-te por eu ter caído nesta palhaçada.

Mas ninguém entrou.

E o que mais me dói é lembrar-me. Lembrar-me de mim mesmo a caminhar pelas ruas de Vegas com um sorriso estúpido na cara enquanto pensava que em poucos minutos te ia ver. Porque eu precisava de te ver, April, eu precisava porque depois de ter visto o estado da Scarlet eu percebi que não queria que fosses tu no lugar dela. E isto pode ser egoísta da minha parte, mas foda-se eu não quero saber.

Eu toquei à campainha três vezes e esperei que tu me viesses abrir a porta e me encarasses confusa quando me visses. Contudo, dez minutos depois eu ainda continuava ali parado. Então, toquei mais uma vez e ninguém veio.

Eu comecei a estranhar e pensei que não estivesses em casa. Por isso, liguei-te. Tudo o que eu queria era ver-te e conferir que estavas bem. Foi aí que ouvi a estupida música da Ellie Golding do lado de dentro. Tu tinhas de estar ali, eu sabia disso.

Forcei a porta a abrir-se com empurrões e a madeira lá cedeu deixando-me entrar. A tua casa não era muito grande e eu já lá tinha entrado outras vezes, contudo agora era diferente. Eu não ouvi um único barulho.

Comecei a caminhar pelos corredores abrindo todas as portas que me apareciam à frente. Tu não estavas no teu quarto, nem na cozinha e muito menos na sala. Eu estranhei. O teu telemóvel estava pousado na entrada e tu não o deixavas por nada.

Foi então que eu olhei pra última divisão do corredor. A porta estava fechada. Eu sorri como um idiota, tu só podias estar ali. O meu coração começou a bater mais rápido apenas por te ir ver. Porque é isso que tu me fazes, April, eu sou outra pessoa contigo. Uma pessoa melhor e eu gosto.

Agarrei na maçaneta da porta e abri-a, e depois tudo mudou. O meu sorriso desapareceu quando te vi caída no chão. Eu pensei no pior, admito. Pensei que tinha chegado demasiado tarde e tu já não estavas mais ali. Mas eu senti a tua pulsação no pulso, era fraca mas ainda assim era alguma.

Percorri a casa de banho com o olhar até parar na caixa dos comprimidos no chão. Ela estava aberta e quando peguei nela vi que eram uns calmantes quais queres.

E, merda, eu senti raiva. Senti raiva de ti por pensar que me tinhas abandonado. Tu fizeste isto a ti mesma, April. Como é que foste capaz?

Eu nunca me senti tão inútil na vida. Não como eu me senti quando vi que te tinhas tentado suicidar. Porque é mesmo assim, um suicídio.

Liguei para o 112 e eles logo vieram. Houve dois homens a carregar-te numa maca para dentro da ambulância enquanto eu observava tudo. Eles deixaram-me entrar para ir contigo para o hospital. Mas eu não consegui olhar sequer para ti.

Eu amava-te tanto e nunca te disse. Secalhar isso podia ter mudado as coisas, eu não sei... Naquele momento não havia Claire nenhuma para mim, só havias tu.

Mas e se tu não passasses de hoje? Como é que eu iria viver sem ti?

E depois eu percebi-te. Percebi todo o teu sofrimento pelo teu irmão, teres-lo perdido mas eu não podia perder-te. April, eu não podia porque depois não haveria eu sem ti.

Eu deixei que todos te fossem ver primeiro, até a Scarlet e o Cam que chegaram entretanto. Talvez tu estejas desiludida comigo nesse aspeto, mas eu não conseguia ver-te. Não daquela maneira.

Eu não queria ver o teu corpo ali deitado, mole e frio. Não sei como te explicar mas aquela não eras tu, embora fosses. Aquela não era a minha April cheia de vida e eu não estava preparado para ver-te e saber que tinhas feito aquilo a ti mesma.

Eu queria entender o porquê, eu realmente queria. No entanto, não conseguia.

Sei que não fui o melhor para ti, podia ter te dado mais e não te dei. Sei do quanto te fiz sofrer, mas eu arrependo-me de cada segundo.

"Matt, é a tua vez." A voz doce da tua mãe chamou-me e eu olhei para ela. O que me deu ainda mais irritação.

Ela era tão parecida contigo. Podiam não ter a mesma cor de olhos e o cabelo dela era mais curto que o teu, mas ela era bonita. Não tanto como tu, mas era. E o sorriso da cara dela, irritou-me ainda mais e sabes porquê? Porque ela estava a sorrir para mim mesmo sabendo que tu podias não acordar.

Como é que ela podia sorrir se eu nem conseguia falar?

Apenas assenti e levantei-me. Demorei uma eternidade até chegar à porta, eu questionava-me várias vezes no mesmo segundo se queria mesmo fazer aquilo. E a verdade é que eu não queria, mas precisava.

Foi por isso que abri a porta e observei todas as paredes e detalhes do quarto antes de ti. Era tudo estupidamente esbranquiçado e sem o mínimo de graça. Talvez porque ninguém se ri num sítio destes.

Eu sabia que não podia evitar o inevitável e quanto mais rapido fizesse isto mais rápido o meu sofrimento iria acabar. Então, eu olhei para ti.

A minha respiração ficou presa na minha garganta quando te vi. Até ligada a todas aquelas maquinas eras linda. Irônico, não é? O teu cabelo estava crespo perfeitamente penteado para a frente dos ombros, a tua pele nunca esteve tão branca e os teus lábios secos. Aquela não podias ser tu, não eras.

Aquela rapariga não era a April que eu tinha conhecido, aquela não era a April por que eu estava apaixonado. Aquilo era mais um paciente em risco de vida no meio de tantos outros deste enorme hospital.

Eu aproximei-me para tocar na tua mão e senti o frio repassar para a minha. Tu estavas gelada, April. Eu queria tanto embrulhar-te no meus braços e aquecer-te, mas eu não o fiz. Em vez disso olhei para o ecrã da maquina e observei os traços inconstantes subirem e descerem.

Depois apertei os olhos com força, respirei fundo e murmurei "Porquê?" Era tudo o que eu queria saber. Porquê, April, porquê que fizeste isto contigo?

Tu não me respondes-te. E eu senti os meus olhos arderam quando olhei para ti outra vez. Vi a forma como as tuas pestanas descansavam por cima das bochechas e como respiravas calmamente. Sim, tu estavas calma enquanto eu nem me conseguia controlar de nervoso.

Eu nunca pedi tanto para ver o verde azulado dos teus olhos uma última vez. Eu queria uma última oportunidade para dizer o quanto te amo e que me importo contigo.

Mas percebi que tu já sabias isso. Eu não precisava de dizer-lo para tu saberes. Toda a gente sabia, menos eu. Céus, eu fui um idiota de merda pela maneira como te tenho tratado e odeio-me por isso. Se pudesse fazer algo, acredita, eu faria.

A luz do teu telemóvel piscava impaciente por cima da mesa. Eu ia pegar nele, secalhar não devia mas eu não me conseguia conter. Era uma mensagem. De um desconhecido.

Eu ia abrir-la, mas uma voz foi mais rápida que eu. "Matt, nós vamos almoçar. Vens?"

Era o Luke.

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se eu precisava de fazer as coisas assim? precisava

se adorei? sim

xx Buhh

Social life | Matt EspinosaOnde histórias criam vida. Descubra agora