167| carta

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"Primeiramente, eu quero que cada uma das pessoas que esteja a ler esta carta perceba a razão do meu silêncio, o motivo pelo qual nunca partilhei a minha dor com ninguém.

Eu sempre fui aquele rapaz calado que não fazia nada nem perturbava os outros. Ficava sentado na última mesa e ninguém dava por mim durante a aula, mas quando chegava o intervalo era diferente. Todos pareciam-me notar, e confiem em mim isso não era uma coisa boa.

Por outros motivos, eles notavam-me para me inferiorizarem. Como se a minha dor comigo mesmo não bastasse, eles ainda esfregavam na minha cara o quão inútil eu era.

Eles diziam-me que eu não prestava e eu acreditei. Afinal, qual era a minha utilidade? Eu nem pra ajudar a minha irmã mais nova servia. Ela sempre foi o elo mais forte da família e, April, se estiveres a ler isto sei que estás a abanar a cabeça e negar tudo o que aqui escrevi, mas no fundo sabes que é verdade.

Eu sei que te começas-te a aperceber que algo estava errado. Eu via os teus olhares estranhos para mim, mais diretamente pras marcas nos meus braços que eu tanto tentava esconder. Sempre me perguntaste o porquê de elas existirem a minha resposta não mudava. Cai na escola, eu dizia-te.

Mas como eu vim aqui contar absolutamente tudo, eu vou-o fazer. Porque esta é a última oportunidade que vou ter e não razão para mentir ou inventar desculpas. Esta é a última vez que vou falar e quero que a minha voz seja ouvida, pelo menos agora.

Social life | Matt EspinosaOnde histórias criam vida. Descubra agora