124| pov

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- Chelsea -

Eu podia ouvir as minhas pulsações na garganta enquanto dava passos incertos pelo corredor.

Não me lembro de ter estado tão nervosa para nada, eu não consigo sequer pensar. Tudo o que sei é que quero ver os cabelos escuros da minha amiga esvoaçarem bem na minha frente, enquanto ela me encara profundamente com os seus olhos esverdeados. Eu desejo que ela abra um pequeno sorriso de lado e depois ambas vamo-nos rir como sempre fazemos.

Eu não posso perder-la assim, eu preciso dela.

O Nash parece notar o meu desconforto pois passa o seu braço pelos meus ombros e puxa-me para ele, nos seus lábios está um sorriso ainda que fraco. "Vai ficar tudo bem."

Eu queria acreditar nas palavras dele, mas por algum motivo não conseguia. Algo dentro de mim sabe que algo de muito errado se estava a passar, só não sei o quê.

Viramos a esquina e logo os meus olhos alcançam o rapaz loiro. O seu corpo está sentando numa das cadeiras expostas no corredor, a sua perna treme e ele está deveras concentrado em algo no chão, o seu maxilar travado.

O rosto dele vira-se chamado pelo som dos nossos passos e ele vê-nos, levantando-se. Ele está miserável. O rosto molhado pelas lágrimas, os olhos levemente rosados, lábios inchados e o cabelo numa confusão completa. Eu nunca vi esta faceta vulnerável dele e é-me estranho não estar a olhar pro Matt divertido, desinteressado e irônico a que eu estava habituada.

Mas eu compreendo-o. Se fosse do Nash que se tratasse também ficaria naquele estado ou pior. Eu sei que ele ama a April, embora ainda namore com a Claire.

"Matt..." Eu sussurro, largando a mão do meu namorado para puder abraçar-lo. Fecho os olhos quando ele por fim coloca os seus braços à minha volta e suspira pesadamente na curva do meu pescoço. "Ela é forte, tu e eu sabemos disso."

Sinto-o assentir e afastar-se de mim. Por esta altura, a ardência inundava os meus olhos e eu tinha vontade de desesperar ali no mesmo, no meio do corredor vazio. Mas eu não posso, eu tenho de me manter calma ou toda esta situação só vai piorar.

"Tudo bem, bro?" O Nash cumprimenta-o, mas o Matt apenas lhe dá um pequeno sorriso, sem falar de volta.

"Avisaste a Tessa?" Eu pergunto lembrando-me da aflição em que a mãe da April deve estar neste preciso momento. Ele assente e volta-se a sentar na cadeira escondendo a cara com as mãos. "Céus, ela deve estar devastada." Eu murmuro para mim mesma, caindo no banco ao lado dele. O Nash faz o mesmo.

Eu questionei o Matt de todas as maneiras possíveis, porém ele não me respondeu uma única vez. Apenas balançava a cabeça sem conseguir falar nada. Eventualmente, eu acabei por desistir de o massacrar e encostei-me ao ombro do Nash que foi fazendo carinhos pelo meu cabelo.  

"Onde estão a Scarlet e o Cam?" Ele pergunta-me.

"Tinham uma consulta qualquer por causa do bebé, eu acho." Brinco com os dedos longos dele, focando-me nas nossas mãos juntas. "Eles vêm cá ter, mais tarde."

Passou-se algum tempo até que eu vi uma mulher de curtos cabelos castanhos aproximar-se de nós. A mesma carregava lágrimas no canto dos olhos e parecia pálida demais para a pele morena.

"Chelsea..." Ela disse quando me viu.

Fiz questão de me levantar e abraçar-la tal como tinha feito antes com o Matt. "Ainda bem que chegou."

"Não consegui vir mais cedo." Ela recua prendendo os meus ombros com as suas mãos. "Já se sabe de alguma coisa?"

"Não." Abano a cabeça. "Nada."

Vejo que o olhar dela passa de mim para uma figura atrás e rodo a cabeça para ver o Matthew na mesma posição que à bocado. Suspiro triste, e encaro-a de novo. "Ele gosta tanto dela..."

"Eu sei." A Tessa sorriu de lábios fechados.

Um novo ecoar de passos surge na ponta oposta do corredor e todos observamos uma enfermeira nova vir até nós com um olhar triste. Os passos dela foram cessando enquanto ela se aproximava.

É agora, tudo ou nada.

"São os familiares e amigos da paciente April Violet?" Ela pergunta conferindo o nome no papel que carregava de baixo do braço.

"Sim." Os rapazes levantam-se. "Sou a mãe dela." A Tessa coloca-se de frente para a senhora esperando que ela prossiga.

"Como devem saber a April chegou cá inconsciente." Ela diz neutra. "Nós tentamos procurar o causador e encontramos rivotril no sistema do corpo dela." Eu enrugo a testa, rivo... Quem? "É uma espécie de calmantes que ajudam no relaxamento dos músculos."

"Sim, e-eu comprei-os à uns dias para ela." A Tessa explica-se.

"Com receita médica?"

"A April andava sobe situações de stress ultimamente, eu só queria ajudar." Ela suspira e imagino que se esteja a começar a sentir culpada. "Qualquer mãe faria o que fosse preciso para ver um filho bem."

A enfermeira suspira. "Os medicamentos são extremamente perigosos. Ainda mais quando usados em excesso."

"Em excesso?" O Nash pergunta, confuso.

"Sim, excesso." A senhora afirma. "Foi uma dose excessiva de rivotril que fez a pressão arterial da April baixar e levar à inconsciência."

"Mas ela está bem?" É tudo o que eu quero saber.

"Na verdade, ela podia estar morta agora." Os olhos azuis da mulher observam as nossas caras assustadas como se lhe desse prazer dar-nos um sermão. "Se a pressão arterial convergi-se podia mesmo levar à morte da pessoa. Mas no caso, a April foi socorrida a tempo."

Eu sorrio olhando discretamente para o Matt que não encarava nada em concreto. Ele apenas estava lá, com as suas feições duras a ouvir.

"Nós tratamos de lhe fazer uma lavagem intestinal o mais rápido possível para neutralizar qualquer vestígio do sedativo e demos conta que a quantidade de comprimidos ingeridos foi superior a dez, o que pode dificultar o despertar da paciente."

Ao meu lado, a Tessa arregala os olhos. As suas mãos tremiam mais a cada segundo. "Como assim?"

"Estou a dizer que não sabemos quando a April vai acordar e se acordar."

"Se acordar?" Eu repito. Ela pode não acordar?

"Estamos apenas a colocar todas as opções em aberto." A enfermeira diz, duramente. "Podem ir ver-la agora."

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pesado, não?

xx Buhh

Social life | Matt EspinosaOnde histórias criam vida. Descubra agora