134| pov

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- April -

"Mãe?"

Ela não me responde enquanto arrasta o seu corpo para a minha beira, sentando-se na cama.

"Passa-se alguma coisa?" Eu estranho.

"April, nós precisamos de conversar." Consigo notar algum nervosismo da parte dela. "Isto é importante."

Arranjo o meu corpo nos cobertores encostando-me à cabeceira da cama, deveras desconfortável deste estúpido hospital. Se eu estivesse ciente nos passados dias que dormi aqui, a única coisa que iria querer era ter alta o mais rápido possível.

"Tu estás bem?" Ela pergunta e levanta a cabeça para me encarar.

"Sim." Eu olho em volta para as máquinas, agora controladas, que me rodeiam. "Já passei por pior."

Ela suspira. "Psicologicamente. Tu está bem?"

Enrugo a testa. O quê que ela quer dizer com estar bem psicologicamente? Só depois lembro-me do que o Matt me disse. Ela pensa que eu fiz aquilo de prepósito.

"Mãe," Olho para ela. "Eu não me tentei suicidar, está bem?"

Ela fica a observar-me por segundos dolorosos, até expirar o ar dos pulmões e falar: "Eu quero acreditar..."

Instantaneamente, eu mordo o interior da minha bochecha com os dentes. Não posso acreditar que ela acha mesmo que eu seria capaz daquilo. Ela é minha mãe, mais que ninguém devia confiar em mim.

"Ouve, eu sei o que isto parece" Brinco com as minhas mãos. "Mas não o é. Eu apenas me senti stressada e pensei naquilo que me disseste; dos calmantes. Tu disseste que me ia ajudar, foi por isso que eu tentei." O olhar dela continua a queimar sobre mim severamente, como se ela tivesse pena e ao mesmo tempo tentasse perceber. "Eu fui-os buscar, mas um só não chegou. Eu continuei a sentir-me da mesma maneira, secalhar pior. Então, engoli mais. Eu não pensei que... Poderia causar tantos danos, na verdade eu nem pensei." Ergo a cabeça para a fitar. "Desculpa."

Ela aperta os lábios, balançando a cabeça. "Eu quero que me devolvas esses comprimidos."

"O quê?" Aquilo não era pra me ajudar?

"Tu ouviste, eu quero que mos devolvas." A minha mãe repete. "Eu dei-te aquilo sem falar com o médico primeiro, e foi um erro."

"C-como..." Franzo a testa. "Como é que a farmácia deu-te aquilo sem receita. Isso não é crime?"

"Eu tenho contactos, April." Diz. "Um amigo de faculdade. Ele devia-me um favor... Agora estamos quits."

"Mãe, tu não devias-"

"Fi-lo por ti." Ela interrope-me. A sua mão segura a minha, apertando-me de leve. "Quando te vi cortares-te naquele dia, fez-me lembrar da situação toda com o Brandon e de como eu não fiz nada para o ajudar. Eu não queria passar o mesmo contigo. Se estavas deprimida, eu não te iria perder. Não posso passar pelo mesmo duas vezes, eu só tive dois filhos... Errei uma vez e agora só me restas tu, April."

Eu percebo-a. A maneira como me senti quando o meu irmão se foi fez-me fazer coisas impensáveis. Eu magoei-me a mim mesma de tão insuportável que aquela dor era. Mas a minha mãe perdeu um filho, e eu imagino que deva ser muito pior. Foi ela quem o carregou por nove meses, deu-o à luz, ensinou-lhe as primeiras palavras, criou-o, acompanhou-o desde sempre e depois viu-o acabar com a própria vida.

Ela deve ter-se sentido miserável, como se não tivesse feito o papel de mãe como devia. Como se a incompetência dela tivesse resultado numa morte. E ela não quer repetir o mesmo comigo. Ela importa-se, tanto ou mais que antes. 

"Mãe, eu não vou a lado nenhum." Sorrio, com os olhos a arderem. "Os motivos que tenho para ficar são muito melhores dos que me dizem para ir. E eu quero estar aqui." Vejo pequenas lágrimas rolarem-lhe pelas bochechas. "Se o Brandon fez o que fez, foi decisão dele. Nós fizemos o que podíamos, não havia nada que o fizesse mudar de ideias. N-não foi culpa nossa..."

A minha mãe sorri fracamente e puxa-me para um abraço. Os braços dela apertam-se à minha volta e oiço-a fungar perto do meu pescoço.

Não foi culpa nossa o Brandon ter-se ido.

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momento mãe e filha goalsss

comentem aí o que acham que a carta de suicídio do Brandon diz hahah quero saber opiniões

xx Buhh

Social life | Matt EspinosaOnde histórias criam vida. Descubra agora