O Primeiro Dia em Gwindelth

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A rotina em Gwindelth era totalmente diferente da de Misthezan. Durante os dias passados no castelo Affascinate, Blanche era acordado sempre às seis horas da manhã pela guarda real marchando pelos jardins do castelo, enquanto cornetas eram tocadas, indicando o início de um novo dia, sendo a hora de todos do castelo iniciarem suas funções do dia. Provavelmente, aquelas cornetas seriam tocadas na cidade para fazer todos os moradores começarem a trabalhar. Era possível ouvir passos apressados andando de um lado para o outro, assim como alguns murmúrios altos.

      Durante todas as refeições, era necessária a realização de preces e orações, iniciadas pelo rei Ambrose e o príncipe Lorenzo. Só era permitido se levantar da mesa quando o rei decidisse ser a hora de acabar a refeição, então, todos deveriam se retirar assim que ele e seu filho saíssem. Durante todos os dias, Blanche via pela janela de seu quarto, uma carruagem real saindo do castelo. O rei e o príncipe iam à cidade ver seu povo em uma espécie de desfile. As noites eram os melhores momentos para Nieves, sendo o momento que ele esperava o dia inteiro para acontecer. Um criado sempre batia na porta de seu quarto para levá-lo ao mesmo salão dos quadros para ver Lorenzo. Então, por fim, ele ia dormir. 

      O primeiro dia foi o mais estranho.

      Às seis horas, as cornetas tocaram, acordando Blanche pela primeira vez. Olhando pela janela, foi possível ver que o dia estava começando em Gwindelth. Em alguns minutos, todos os criados começaram a trabalhar. Tudo tinha que estar perfeito, principalmente naqueles cinco dias. O baile real tinha que ser espetacular. Blanche tentou imaginar a pressão que Lorenzo estaria enfrentando por ter que se casar com uma completa estranha a qual poderia não amar, mas teria que desposar por conta de um teste esquisito.

      Pensando que não precisava ficar acordado àquela hora, Blanche voltou a dormir, durando apenas dez minutos, pois entraram pela porta sete empregados, prontos para acordar o príncipe, arrumar seu quarto e prepará-lo para o desjejum. Blanche não esperava que o dia começava tão cedo para todos. Pensava que teria alguns dias de descanso, podendo acordar um pouco mais tarde.

– Vossa alteza se atrasará para o desjejum. – Disse uma das empregadas. – Todos estão se arrumando e indo à mesa.

– O rei e o príncipe insistiram que se sentasse ao lado deles hoje, junto a rainha Millicent.

– Vossa alteza precisa se vestir apropriadamente para hoje.

– Vossa alteza deve saber que só poderá se retirar da mesa quando o rei e seu filho, o príncipe, se retirarem da mesa.

      O garoto assentiu, com um olhar vazio.

      Ainda sonolento, Blanche se levantou da cama e avistou uma bandeja com café sendo servido, um pequeno pote de biscoitos açucarados e de frutas. Esperando o café esfriar um pouco, Nieves se serviu de uma maçã vermelha, dando uma mordida. Maçã era sua fruta favorita, não havendo outra que a superasse. Aquela era a fraqueza de Blanche Nieves. Ele não conseguia resistir a uma maçã.

      Num piscar de olhos, suas roupas foram retiradas e substituídas por outras, mais apropriadas para uma manhã de inverno que, curiosamente, diferente de Misthezan, estava ensolarada, com o branco da neve cobrindo todo o chão e os telhados das casas. Era um dia radiante com a luz solar cobrindo o reino. Era como um dia de verão, só que com neve. Com uma última beliscada nos biscoitos, Blanche colocou a máscara que tanto odiava usar e saiu com aqueles empregados lhe acompanhando até o salão. No meio daquele caminho, descendo as escadas, alguém seguia seu mesmo caminho, estando mais à frente. Não era possível que fosse quem Blanche pensava ser. Ele não poderia estar enganado. A reconheceria de qualquer lugar.

      Seus cabelos eram escuros e muito longos, com um vestido de prata, elegante o suficiente para uma princesa, sempre pronta para um baile. Sua pele era de porcelana, o que a fazia se assemelhar a uma boneca. Mesmo de relance, Blanche percebeu que Annabeth havia crescido e desabrochado. Ela estava muito encantadora e graciosa. Era a mais pura definição de uma princesa saída de um conto de fadas. Nieves não poderia estar mais alegre por rever sua amiga de infância. Seu sorriso, coberto pela máscara, crescia mais e mais só de ver Annabeth Laetus. Começando a pensar melhor, se Anna estava presente no castelo Affascinate para o baile do príncipe Lorenzo, provavelmente Julian também estaria. Seria possível aquela viagem melhorar mais ainda? Seus dois amigos se lembrariam dele, mesmo com aquela máscara cobrindo seu rosto?

Os Reinos Ligados pela Floresta: Blanche (Branca de Neve)Onde histórias criam vida. Descubra agora