Assustado com a revelação do príncipe e com medo dos ouvidos alheios da corte, Horatio decidiu levar Blanche a seu quarto, assim ele poderia contar tudo, sem que os outros lhe escutassem e não houvesse jeito das fofocas chegarem até a rainha.
Misthezan estava cada vez mais fria, parecia que a neve estava entrando pelas paredes do castelo, pois até mesmo dentro, o frio conseguia congelar qualquer um. Voltar a andar por aqueles corredores na ala dos empregados havia voltado a ser estranho, dando a mesma sensação da primeira vez que o príncipe passara por ali quando estava prestes a se tornar um serviçal da Rainha Má.
Ao abrir a porta de seu quarto, o barulho de um alto rangido incomodou os ouvidos dos dois. Estava tudo do mesmo jeito que Nieves havia deixado. Tudo estava em seu devido lugar, apenas com o frio invadindo mais ainda. Aquele era seu miserável quarto. Sua miserável vida. Blanche havia apenas acordado de um sonho. Um longo e belo sonho chamado Gwindelth. Se ao menos pudesse revisitá-lo com mais frequência, tudo seria menos pior.
– Tenha bastante cuidado com o que diz. – Alertou Horatio, quando chegaram no quarto de Blanche e fechou a porta. – As paredes têm ouvido por aqui, não queremos que nada assim chegue aos ouvidos de vossa majestade.
– Perdão...
– O que queres dizer com a rainha querer te matar?
– Quando me encontraste desmaiado antes de partir, minha tia havia passado por aqui antes, e outra vez, em Gwindelth, aconteceu o mesmo.
– Deve ter sido apenas uma coincidência, Blanche. – Horatio tentou acalmá-lo. – Vou pedir a vossa majestade que te permita comer mais, estás ficando muito fraco, olhe para teu corpo!
– Duas vezes? Em duas ocasiões que ela aparece e, de repente, eu desmaio? – Blanche quase se exaltou, mas tentou se conter. – Ela já me privou de muita coisa, já me abusou o suficiente, era apenas questão de tempo de finalizar o serviço e me matar.
– Eu sei que vossa majestade é uma pessoa cruel e que te faz de escravo sem motivo aparente – Disse Horatio. –, mas tens certeza que ela seria capaz de matar? O que tu fizeste agora para ela não ter tentado antes?
– E-eu não sei... – Murmurou Blanche. – Eu estava fora dos limites de Misthezan, talvez fosse a oportunidade perfeita? Faltam apenas três anos para me tornar rei, talvez ela esteja sedenta pelo poder de rainha?
– Se realmente estás com tanto medo, eu irei averiguar e descobrir a verdade.
– Não irá falar com ela, né? – Perguntou Blanche. – Se perguntar, ela irá negar tudo e irá me punir por ter dito isso.
– Não se preocupe, Blanche, farei de tudo para que fique bem e seja rei quando chegar a hora.
Por mais que tentasse, Horatio não entendia o que estava acontecendo. Blanche não estava ficando louco, sabia que tinha algo muito errado. Algo que ia além do imaginário. Não faziam sentido as histórias sobre um povo alegre e feliz com sua grande rainha e seu rei e, ao sair para a cidade, encontrar pessoas ranzinzas e frias. Não fazia sentido uma rainha ambiciosa pelo poder, mas não usá-lo. Não fazia um reino com belos dias, mesmo os mais frios, ser como um inverno eterno. Nada em Misthezan fazia sentido.
Blanche estava indefeso naquele reino. Sem proteção. Poderiam não acreditar, mas ele sabia que algo ruim estava por vir. Nada que estava acontecendo era à toa. Nieves sabia que algo muito errado estava acontecendo e que iria piorar. Desde que se lembrava, tinha o mesmo sonho estranho que o lembrava do quão errado algo estava no reino. Aquele sonho o perturbava desde a primeira noite.
Sempre o mesmo.
Havia neve. Muita neve. Uma criatura se aproximava. Era uma visão etérea, mas muito perigosa. E, por fim, um espelho feito de cristal prestes a se quebrar até que seus olhos abriam e acordava daquele esquisito sonho. Blanche não se lembrava quando começou a ter esses sonhos que pareciam uma visão, mas desde então, vinha tendo as mesmas imagens em seu sono. Como era possível uma pessoa ter o mesmo sonho todas as noites? As pessoas não tinha diferentes tipos?
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Os Reinos Ligados pela Floresta: Blanche (Branca de Neve)
Fantasy(1º LIVRO) Todos conhecem o conto de 'Branca de Neve', mas, e se, em vez de uma Branca de Neve, fosse um Branco de Neve? Em vez de sete anões, fossem sete príncipes e princesas que fugiram de seus reinos? E se a inveja da Rainha Má significasse mais...