Voltar para casa logo depois de fazer bagunça e quase destruir pertences dos outros foi o maior medo de Blanche Nieves. Millicent quase decidiu ir embora naquele momento, mas por muita insistência de Blanche que conseguiu pedir para Annabeth e Julian convencerem seus pais a conversarem com a rainha de Misthezan para que ficassem até o aniversário dos gêmeos, então ela deixou que eles permanecessem por mais tempo. Mas, no dia após o baile, tia e sobrinho deixaram a corte de Spada, partindo de volta a sua casa, em Misthezan.
Depois daquele dia, Millicent olhava para o príncipe com outros olhares. Olhares esses que Blanche não conseguia decifrar, como os outros, mas ele tinha a certeza que era coisa ruim e que um deles era um olhar de desprezo. Durante toda a viagem na carruagem real, Blanche ficou encolhido, com medo de se dirigir a sua tia que evitava olhar para o sobrinho, observando a paisagem da floresta que unia os oito reinos. E, por estarem voltando a Misthezan, as capas para o frio excessivo, mesmo na primavera, já estavam sendo usadas, principalmente por Millicent que escondia seu rosto, de modo parcial, com o capuz, dificultando a visão de Blanche que desejava saber seus pensamentos.
Durante o percurso, uma das rodas da carruagem passaram por cima de uma pedra, fazendo-a chacoalhar, o que resultou na queda do capuz de Millicent, o que revelou a Blanche que ela olhava para ele esse tempo todo. Seu olhar estava fixado no rosto angelical e ansioso do sobrinho. Não parecia ter piscado por um segundo. Ao notar que sua tia o olhava, Nieves imediatamente virou seu olhar para fora da carruagem.
– Eu sei o que estás pensando... – Ela disse, finalmente. – Por que essa rainha má não fala nada? Quando vou receber meu castigo? Por que ela não briga comigo de uma vez? Blanche, veja, a resposta é simples: não vou passar pelo mesmo todos os anos. É sempre a mesma coisa. Eu estou tentando dar o meu melhor para que sejas um cavalheiro, assim como teu pai um dia fora, não quero que te tornes um rebelde e um bagunceiro quando irás ser um rei.
Blanche ficou em silêncio, sem saber o que falar.
– O que pensam de nós é muito importante, não podemos cair na palavra do povo ou nos tornaremos aquilo que dizem de nós e, se continuares sendo um menino malcriado, é isso o que te tornarás e sei muito bem que não é isso que teus pais iriam querer de ti e acredito que não é isso que queiras te tornar quando crescer. Tudo o que estou fazendo é pelo seu bem, acredites em mim, sei que posso ser rígida, mas é isso que esperam de mim como sua guardiã... – Ela fez um silêncio profundo, abaixando sua cabeça, parecendo que estar decepcionada. Mas não era com ele. – Esperam de mim que te tornes um rei excepcional...
Novamente, o silêncio tomou conta do ar. Millicent olhava para suas mãos, enquanto tirava suas luvas, revelando mãos trêmulas. Blanche olhava para sua tia, receoso, até que finalmente falou:
– Eu não te acho uma rainha má.
Millicent levantou a cabeça, podendo ver o príncipe. Sua expressão mais uma vez indecifrável, mas era possível notar uma tentativa de sorriso vindo dela. Pelo menos era o que Blanche queria acreditar ter visto. Depois disso, o silêncio, mais uma vez, invadiu a carruagem. Tudo o que tia e sobrinho faziam era olhar a vista que tinham do verde da floresta. Era tão vívida e diversa. Mesmo não estando tão adentro da floresta, mas sim pela estrada que percorria todos os oito reinos, era possível ver as grandes árvores que pareciam tocar o céu, diversos pássaros sobrevoando de árvore em árvore. Mas, logo a aparência viva e colorida começou a parecer mais morta conforme a carruagem se aproximava de Misthezan.
Era primavera, mas não importava se fizesse sol ou chovesse, a aparência de Misthezan sempre seria a mesma: fria e morta. Era bizarramente diferente do pouco da floresta que Blanche conhecia. Outros reinos teriam o mesmo tipo da aparência de Misthezan? Blanche amava seu reino e ansiava pelo dia que governaria aquela terra, mas saber que o lugar era de natureza-morta partia seu coração. Queria governar um lugar cheio de vida e alegria. Um lugar que Beth sempre lhe dizia ser amável e caloroso, mesmo nos invernos mais rigorosos. Um reino onde as flores eram coloridas e pareciam estar vivas.
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Os Reinos Ligados pela Floresta: Blanche (Branca de Neve)
Fantasía(1º LIVRO) Todos conhecem o conto de 'Branca de Neve', mas, e se, em vez de uma Branca de Neve, fosse um Branco de Neve? Em vez de sete anões, fossem sete príncipes e princesas que fugiram de seus reinos? E se a inveja da Rainha Má significasse mais...